por Yuri Schein
Essa tese de que “o galardão envolve o milênio e não o estado eterno” é um equívoco escatológico fruto da leitura dispensacionalista que divide artificialmente a história da redenção. Vamos por partes.
O galardão não é apenas “função de governo milenar”
Cristo não prometeu prêmios efêmeros, mas tesouros imperecíveis:
“Ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam” (Mt 6:20).
Tesouros no céu não são temporários nem sujeitos a expirar depois de mil anos. O galardão é incorruptível, imperecível e eterno (1 Pe 1:4). O dispensacionalista precisa inventar uma fase de “prêmios caducos” para caber no seu sistema. Mas a Escritura não conhece essa categoria.
O argumento da perfeição no estado eterno é um sofisma
Dizem: “No estado eterno seremos perfeitos, logo não pode haver algo melhor ou pior.” Mas confundir perfeição moral com gradação de honra é uma falácia. Todos seremos perfeitamente santos, mas isso não anula distinções de recompensa.
Exemplo: os anjos são todos santos, mas não são iguais em autoridade — há arcanjos, querubins, serafins. Perfeição não elimina ordem e gradação; ao contrário, a manifesta. Paulo afirma claramente:
“Uma é a glória do sol, outra a glória da lua, e outra a glória das estrelas; e até estrela difere de estrela em glória” (1 Co 15:41).
Ou seja: perfeição não implica uniformidade absoluta, mas sim diversidade harmônica.
O Galardão é proporcional às obras, mas não causa inveja
O dispensacionalista teme que distinções no céu criem “melhor ou pior”. Mas essa é a leitura psicológica de um coração ainda carnal. A Escritura diz que Deus retribuirá “a cada um segundo as suas obras” (Rm 2:6). Não haverá inveja nem competição, mas perfeita alegria em ver Deus sendo justo e sábio.
O milênio não é intervalo de prêmios, mas a era presente do Reino
A leitura milenarista é fruto de um anacronismo. O milênio de Apocalipse 20 não é um futuro governo político-terreno, mas a era atual, na qual Cristo reina desde a sua ascensão (Sl 110:1; Ef 1:20-22). O galardão final está ligado à ressurreição e ao juízo último (Mt 25:21; Ap 22:12), não a um suposto governo de mil anos após a volta de Cristo.
A própria lógica dispensacionalista implode
Se o estado eterno é perfeito, por que imaginar um “estágio intermediário” onde galardões existem e depois deixam de existir? Isso degrada o galardão a algo descartável. Seria como receber uma medalha que enferruja no armário e depois é jogada fora no Céu. Mas Paulo diz que a coroa é “incorruptível” (1 Co 9:25). Ou seja, não se trata de um galardão transitório, mas eterno.
O galardão não está preso a uma fase milenar temporária. Ele é eterno, ligado à ressurreição e ao estado final. A tentativa dispensacionalista de proteger a perfeição eterna eliminando distinções de recompensa é um sofisma que contradiz a Escritura. Seremos todos perfeitos em santidade, mas diferentes em glória e honra, para o louvor da multiforme graça de Deus.
Cristo reina agora, o galardão é eterno, e o milênio dispensacionalista não passa de um mito exegético.
Nenhum comentário:
Postar um comentário