O cristal ainda vibrava suavemente na sala, suas ondas harmônicas se misturando ao silêncio pesado da caverna. O grupo tentava recompor o fôlego, segurando armas, ajustando bandagens e verificando poções. Mas a calmaria era apenas um prelúdio.
De repente, um sussurro de asas ecoou pelo salão. Pequenos morcegos começaram a surgir das fendas do teto, da escuridão absoluta que se estendia como um manto negro. Primeiro eram dezenas, depois centenas, e logo milhares de sombras aladas se uniram, girando em espiral, formando um redemoinho vivo de caos e agonia. O ar tornou-se denso, o cheiro de mofo e sangue impregnando cada fenda da caverna.
O grupo recuou, percebendo que algo monstruoso emergia daquele enxame. Então, a massa de morcegos se solidificou, se condensando em um corpo humanoide, alto, magro e elegante, com um manto negro esvoaçante, olhos vermelhos como brasas e dentes afiados que brilhavam sob a luz do cristal. A presença era tão intensa que o chão parecia tremer sob cada batida de suas asas sombrias. O Vampiro da Masmorra havia se materializado, sozinho, imponente e terrível.
Ele ergueu as mãos com movimentos calculados e lentos, e uma voz grave e fria preencheu o salão:
— Ah… intrusos. Vocês ousaram invadir meus domínios… meus salões de silêncio e sombra. Cada passo que deram aqui, cada centímetro percorrido, pertence agora a mim.
Ikarus apertou a espada com mais força, tentando romper o silêncio:
— Vocês têm algo a ver com os ataques dos mortos-vivos no mundo? Nós precisamos saber!
O vampiro deu um sorriso sombrio, um canto cruel que gelou a espinha do grupo:
— As criaturas que aqui se encontram… foram amaldiçoadas, presas para sempre neste lugar, incapazes de sair. Assim acontece em muitos outros lugares do mundo. Mas isso… é irrelevante. Porque este lugar… será também o túmulo de vocês.
A tensão explodiu. Thomas Walker avançou, erguendo os montantes, mas o vampiro ergueu a mão e com um gesto elegante, como se desafiasse o próprio espaço, desviou cada ataque com facilidade sobrenatural. Gillian conjurou rajadas de energia, enquanto Derek disparava flechas, mas parecia que cada esforço era inútil diante daquele ser, que dançava entre eles com agilidade sobrenatural, os olhos fixos em Raella.
O olhar do vampiro se deteve na capa negra que envolvia Raella, e um sorriso sutil, quase melancólico, curvou seus lábios pálidos:
— Vejo que você usa… Valeria. A capa de minha antiga amante. Fascinante…
— Eu… Valeria? — Raella murmurou, confusa, sem entender o peso daquelas palavras.
O vampiro aproximou-se com passos silenciosos, medidos, cada movimento carregado de elegância e ameaça. Sua voz agora ressoava como música sombria:
— Meu nome é Laurent. E você, garota de alma pura… está destinada a substituir Valeria. Apenas alguém de beleza e alma tão radiante quanto a dela pode empunhar a capa e sobreviver a seu poder.
Raella recuou, sentindo uma mistura de raiva e fascínio, e tentou atacar, mas o encanto de Laurent era irresistível. Suas mãos levantaram-se, e ao invés de se mover contra o Vampiro, ela olhou para o grupo com uma expressão vazia de controle. O feitiço de charme transformou sua intenção em algo perverso: a própria Raella voltou-se contra seus aliados, o corpo movendo-se como marionete dos caprichos do Vampiro.
— Raella! — gritou Ikarus, tentando deter a amiga, mas ela avançou em direção a ele com o cajado erguido, os olhos dela agora vermelhos com o brilho do feitiço.
Laurent sorriu com satisfação sombria, estendendo os braços para recebê-la:
— Venha, minha nova Valeria… deixe que eu a guie.
Antes que o grupo pudesse reagir, ele ergueu Raella nos braços, sua força sobre-humana impossibilitando qualquer resistência. Com um movimento rápido e elegante, transformou-se em um enxame de morcegos, envolvendo Raella, desaparecendo em um vórtice negro que se misturou à escuridão da caverna, levando-a para fora do alcance do grupo.
O silêncio caiu abruptamente, cortante e mortal, e a luz do cristal pulsava, revelando a expressão de choque e desespero de cada membro do grupo. Derek engoliu em seco, segurando a flecha firmemente, enquanto Thomas Walker batia os punhos nos montantes, respirando com dificuldade por causa da asa quebrada. Ikarus olhou para onde ela desaparecera, a raiva e o medo se misturando em seus olhos.
— Ela… ela foi… — sussurrou Gillian, a voz trêmula.
— Não vamos deixá-lo escapar. — disse Ikarus com firmeza, cerrando os dentes. — Ele nos tirou Raella… e vamos buscá-la.
Jetto rosnou, o instinto de lobisomem despertando com a presença do inimigo:
— Esse Laurent não vai conseguir se esconder. Ele nos deve muito mais do que apenas essa batalha.
O salão ecoava com os últimos suspiros da luta, enquanto o grupo se recomponha, conscientes de que a próxima fase de sua jornada seria uma caça mortal, caçada por um dos vampiros mais antigos e poderosos que Ad’Heim já conhecera. Cada um sentiu o peso do que fora perdido e a urgência de seguir adiante: Raella estava em perigo, e Laurent havia acabado de se tornar o inimigo que definiria o destino deles.
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