Por Yuri Schein
O vento cortava os corredores estreitos da caverna, mas para Raella, agora presa nos braços de Laurent, tudo parecia um borrão de cores e sons. A sensação de voar como um morcego, com o corpo leve e o ar rugindo nos ouvidos, era ao mesmo tempo vertiginosa e aterradora. Cada estalo de pedra ecoava enquanto desciam, as paredes estreitas passando tão rápido que mal podia distinguir cada rachadura ou estalactite.
O ar frio e úmido misturava-se com um perfume doce e intoxicante — aroma de flores sombrias e algo mais, algo perigoso e sedutor. Laurent voava com perfeição, cada batida de suas asas negra como a noite mantendo um controle sobrenatural da queda e da trajetória. Raella sentia o coração disparar, não apenas pelo medo, mas pela estranha sensação de impotência e fascínio diante daquele ser que a carregava. O mundo ao redor desapareceu; apenas o vento cortante e a respiração rápida preenchiam sua consciência.
Finalmente, alcançaram uma fenda na parte inferior da caverna, e Laurent mergulhou na escuridão. O impacto foi contido, quase imperceptível, pela magia que emanava dele. Raella abriu os olhos, e o cenário à sua frente fez com que um calafrio percorresse sua espinha: estavam em uma câmara subterrânea esculpida em pedra, as paredes cobertas de musgo e inscrições antigas. O ambiente lembrava uma casa antiga, mas com uma aura ritualística, como se cada pedra tivesse sido colocada para canalizar energia sombria.
No centro da sala, onde em uma casa comum estaria a mesa de jantar, havia agora um altar ritualístico. Pedras negras e cinzentas formavam a superfície, cobertas de símbolos arcanos gravados em ouro e vermelho. Vela após vela emitia uma luz oscilante, lançando sombras dançantes nas paredes, enquanto o cheiro de incenso misturado a ferro e cera queimava o ar.
Ao lado do altar, duas figuras femininas se moviam com graça letal. Sucubus, pensou Raella, e seu coração acelerou. Uma era Roxie, mais baixa, com curvas bem definidas, cabelo negro caindo em ondas sobre os ombros, olhos verdes e brilhantes, sorriso provocante e olhar que combinava malícia e sensualidade. A outra era Penélope, mais alta e esguia, com uma postura elegante e cruel, cabelos escuros presos em um coque solto, olhos dourados que pareciam observar cada reação de Raella com curiosidade.
Raella percebeu, à medida que as duas falavam, que uma chamava a outra pelo nome — Roxie riu de algo que Penélope dissera, e o eco de suas vozes preencheu a caverna com um som hipnotizante e ameaçador ao mesmo tempo. Elas se moviam com leveza, mas cada gesto tinha a intenção de controle e predador, avaliando Raella como se fosse um objeto de fascínio e perigo.
Laurent se afastou um pouco, segurando Raella com firmeza, e a voz dele soou como melodia sombria e hipnótica:
— Este é o meu domínio… meu altar. Aqui, nada que você conheceu antes vale. E agora, minha querida Valeria, você será a chave para trazer quem amo de volta.
Raella, amarrada e com a mordaça na boca, sentiu o pânico subir como fogo. Aquele momento era absoluto terror: o altar, a escuridão, as duas sucubus, a voz sedutora e mortal de Laurent — tudo combinava para esmagar sua coragem. Ela tentou gritar, mas nada saiu; apenas a respiração acelerada e o coração disparado denunciavam seu medo.
Penélope inclinou-se sobre o altar, passando os dedos pelos símbolos gravados, enquanto Roxie acariciava as correntes que prendiam Raella, mas disse algo que a gelou:
— Não podemos tocá-la… ainda. Ela é virgem. Somente ele, Laurent, poderá realizar o ritual. —
Raella engoliu em seco, impotente, seus olhos encontrando os de Laurent. Ele sorriu, sorriso frio e cruel, e a tensão na sala tornou-se quase palpável, como se o ar carregasse eletricidade. O destino de Raella parecia traçado naquele instante, e o grupo fora incapaz de intervir.
O silêncio caiu pesado, interrompido apenas pelo crepitar das velas, o eco distante da caverna e o murmúrio hipnótico das sucubus. Raella sabia que seria sacrificada para que a amada de Laurent voltasse, e que tudo o que poderia fazer era observar impotente, enquanto o vampiro determinava o próximo passo do ritual.
O cenário, a tensão e o perigo eram completos; a câmara subterrânea era um túmulo e um santuário ao mesmo tempo, e Raella estava no centro de tudo, refém da vontade de um dos mais antigos e poderosos vampiros de Ad’Heim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário