quinta-feira, 4 de setembro de 2025

A Linguagem como Prisão: Laranja Mecânica e 1984

 


por Yuri Schein 

A literatura do século XX percebeu algo que a filosofia e a teologia já sabiam desde Gênesis 11: mexer na linguagem é mexer no homem. A torre de Babel não foi apenas um arranha-céu mal acabado; foi uma engenharia linguística frustrada por Deus. Em Laranja Mecânica, Burgess cria o nadsat como a língua tribal dos jovens violentos; em 1984, Orwell constrói a Novilíngua, o idioma totalitário que tenta abolir até a memória do pensamento. Ambos os casos revelam a mesma verdade: quem domina a linguagem, domina o mundo.

O Nadsat: a Babel dos delinquentes

Alex e sua gangue falam nadsat, uma mistura grotesca de russo, inglês deformado e invenções. É uma língua de gueto, um dialeto que só faz sentido dentro do círculo de violência juvenil. Se Deus confundiu a língua em Babel para dispersar os homens, Burgess mostra a confusão como aglutinadora: os jovens se unem pela sua incompreensibilidade.

O detalhe é que o nadsat não é só estético, mas teológico. Ele mostra o coração humano criando um universo verbal alternativo para justificar o pecado. Alex não estupra meninas; ele faz “ultraviolence”. O termo inventado funciona como véu, como eufemismo. Exatamente o que Isaías denuncia: “Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem chamam mal” (Is 5:20). A perversão linguística é a camuflagem do pecado.

E, ironicamente, o leitor é cúmplice: para entender o enredo, você precisa “aprender” essa língua. Burgess obriga o leitor a decodificar a maldade em termos simpáticos. Você, leitor, se torna um pouco Alex ao final do livro.

A Novilíngua: a Babel estatal

Se o nadsat nasce do submundo, a Novilíngua nasce do trono. Orwell entendeu que o poder não precisa apenas da polícia: precisa do dicionário. A Novilíngua é a tentativa estatal de amputar a mente humana pelo bisturi do vocabulário.

O objetivo é simples: reduzir palavras até o ponto em que seja impossível pensar contra o Partido. Liberdade some, resistência some, beleza some. Ficam só os blocos de Lego autorizados: bom, maisbom, duplimaisbom. O cérebro se torna infantilizado, incapaz de nuance.

Se o nadsat é a multiplicação de gírias, a Novilíngua é a castração do vocabulário. É a lógica inversa, mas com o mesmo efeito: a alienação. Orwell descreveu o anti-Gênesis: Deus cria o mundo pela palavra (“Haja luz”); o Partido destrói o mundo cortando a palavra.

Duas faces da mesma moeda

Eis o paradoxo: Alex e o Grande Irmão parecem opostos: anarquia juvenil contra ordem totalitária, mas ambos operam pelo mesmo princípio: aprisionar a mente via linguagem.

O nadsat transforma o mal em brincadeira, embrulha o pecado em celofane verbal.

A Novilíngua transforma a verdade em silêncio, elimina a própria possibilidade de dissidência.

Num caso, a linguagem serve ao hedonismo sem freio; no outro, ao autoritarismo absoluto. Ambos são frutos da mesma árvore de Babel: a tentativa humana de substituir a Palavra divina por uma palavra autônoma.

A Escritura nos mostra o oposto: a Palavra de Deus é libertadora, não manipuladora. “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17:17). O homem caído cria linguagens que prendem, distorcem e confundem; Deus cria linguagem que ilumina, salva e revela.

Burgess e Orwell, cada um à sua maneira, perceberam isso: a batalha não é apenas nas ruas ou nos palácios, mas no vocabulário. Ou falamos segundo Deus, ou seremos falados pelo diabo.


P1. Todo controle da linguagem é controle da mente.

P2. O nadsat e a Novilíngua controlam a linguagem.

Conclusão: Logo, o nadsat e a Novilíngua são estratégias de controle da mente.


P1. A Palavra de Deus liberta.

P2. O nadsat e a Novilíngua escravizam.

Conclusão: Portanto, apenas a Palavra de Deus é a linguagem 

verdadeira que rompe a prisão humana.




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