quarta-feira, 16 de julho de 2025

O Jovem Rico, o Amor e Expiação Limitada


❓ Pergunta recebida:

> “Schein, boa noite. Uma dúvida sincera: na passagem do jovem rico em Lucas, onde diz que ‘Jesus o amou’, logo ele sai. Isso implica contra a expiação ilimitada?”

✍️ Resposta reformulada, ampliada e enriquecida:

Boa noite, meu caro. Excelente pergunta — e, como todo questionamento sincero, precisa ser desinfectado de pressupostos contaminados antes que possamos analisá-lo.

Primeiro, vamos colocar as cartas na mesa: a expressão “Jesus o amou” não representa nem um tropeço na doutrina da expiação limitada (ou definida, particular ou eficaz, chame como quiser). Pelo contrário, a passagem só confirma quão falha é a leitura superficial que confunde cada menção do verbo agapáō com uma garantia universal de redenção.

⚙️ Desmontando o mito do “amor salvífico universal”

O erro aqui nasce de uma expectativa irracional: imaginar que cada vez que Cristo ama alguém, Ele necessariamente derrama sobre esse alguém os méritos da Sua morte expiatória. É quase como pensar que toda simpatia divina exige um depósito automático de sangue redentor — uma teologia da expiação como se fosse Pix, instantâneo e universal.

Mas, biblicamente, a coisa não funciona assim. O mesmo Cristo que nos manda “amar os inimigos” (Lucas 6:27) pratica, de fato, esse amor perfeito. Amar (agapáō) aqui significa demonstrar benignidade, compaixão, respeito, desejo sincero de bem; mas não implica, nem de longe, decretar salvação eterna.

Se fosse assim, Cristo também teria morrido pelos fariseus a quem chamou de “raça de víboras” (Mateus 23:33) — o que, curiosamente, não combina muito bem com o sentido real da expiação limitada ensinada nas Escrituras.

📜 Expiação limitada ≠ incapacidade de amar moralmente

A doutrina reformada ensina que Deus ama os eleitos com amor salvífico, eficaz e invencível — um amor que alcança o alvo. Aos demais, Deus pode expressar bondade, paciência e até afeto benevolente. Mas isso nunca foi sinônimo de decretar redenção.

O jovem rico foi amado no sentido mais nobre: Cristo, o homem perfeito, cumpriu integralmente o mandamento de amar o próximo, mesmo que esse próximo fosse teimoso e escravo das riquezas. Isso não “quebra” a doutrina da expiação limitada; ao contrário, revela a santidade do Salvador que amava até mesmo quem não estava predestinado a crer.

🧐 E se ele tivesse se convertido depois?

A Escritura não registra se o jovem rico morreu incrédulo ou se, tempos depois, caiu em si como o filho pródigo. É possível que ele tenha se convertido. É possível que não. Só Deus sabe. Mas note: a robustez da expiação limitada não depende de especulações biográficas. Ela se apoia nos decretos eternos de Deus, que não sofrem abalo pela liberdade humana (ou melhor: pela servidão voluntária do pecador).

🧠 Sobre “Agapáō”: o grego não é mágico

Alguns irmãos — tomados por uma quase superstição léxica — acreditam que agapáō carrega um “poder” espiritual absoluto que obriga a salvação. Não. Agapáō designa um tipo de amor que pode ser genuíno, profundo, puro — sem que seja automaticamente redentor.

Cristo amou Jerusalém (agapáō) e mesmo assim declarou: “Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos… e não quiseste” (Mateus 23:37). O verbo é forte, nobre, mas não mágico: não transforma vontade decretiva de Deus num amuleto gramatical.

🛡 Conclusão

A passagem do jovem rico não ameaça a expiação limitada nem com uma espada de brinquedo. A verdadeira ameaça é quando alguém lê o texto carregando pressupostos arminianos de “amor universal” — como se Deus fosse obrigado a tentar salvar todos, fracassando muitas vezes.

Mas o Deus revelado na Escritura não fracassa. Ele ama de forma santa e perfeita; Ele salva eficazmente apenas quem Ele escolheu desde antes da fundação do mundo. O resto é sentimentalismo teológico com aparência de grego.

No fim das contas, agapáō não salva ninguém; quem salva é o Cordeiro de Deus que, voluntária e eficazmente, derramou Seu sangue não por todos sem exceção, mas por todos os que o Pai Lhe deu.

E, por favor, não confundamos um mandamento moral (“amar o próximo”) com o decreto eterno de expiação. Nem mesmo o grego suporta esse peso.


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