terça-feira, 19 de agosto de 2025

A DEFESA BÍBLICA DA LEGÍTIMA DEFESA

 A DEFESA BÍBLICA DA LEGÍTIMA DEFESA

Yuri Schein 




A Bíblia não é silenciosa sobre a questão da legítima defesa. Ao contrário, ela nos fornece princípios claros que distinguem entre o homicídio injusto, condenado no sexto mandamento (Êx 20.13) e o uso legítimo da força para proteger a vida, a família e os bens que Deus nos confiou. Alegar que o Antigo Testamento não deve ser usado para fundamentar a prática da legítima defesa é negar o ensino explícito de Paulo em 2 Timóteo 3.16-17, de que toda a Escritura é inspirada por Deus e útil “para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça”.

Portanto, a lei moral e civil que tratam da defesa da vida permanecem como princípios permanentes, ao contrário das ordenanças cerimoniais que foram cumpridas em Cristo.


DEFESA DA VIDA E PROPRIEDADE NO ANTIGO TESTAMENTO

Êxodo 22.2-3: “Se o ladrão, arrombando uma casa, for ferido e morrer, o que o feriu não será culpado do sangue.”

Aqui vemos um princípio claro: se alguém invade a casa de noite e o dono a defende, não é considerado homicídio culpável. A Escritura reconhece que a vida e a segurança da família têm prioridade diante da agressão.

Deuteronômio 20.1-4: Israel era exortado a não temer ao enfrentar inimigos, pois o Senhor lutaria por eles. A guerra defensiva é autorizada e abençoada por Deus.

Josué 8.1-2: Deus ordena Josué a preparar emboscada contra Ai. Não apenas resistência passiva, mas planejamento estratégico para preservar o povo.

Juízes 3.15-23 (Eúde): O juiz levantado por Deus mata o rei opressor Eglom. A defesa do povo foi armada e sangrenta, mas era instrumento da justiça divina.

Juízes 7.1-25 (Gideão): Gideão e seus trezentos lutam contra os midianitas para libertar Israel. A defesa da nação foi ato de fé.

1 Samuel 17.32-50 (Davi e Golias): Davi não procurou briga, mas não se acovardou diante do inimigo que ameaçava Israel. Defendeu o povo e honrou a Deus.

Neemias 4.14: Neemias exorta o povo a lutar por suas famílias e casas.

Neemias 4.17-18: Os trabalhadores reconstruíam com uma mão e seguravam armas com a outra. Deus aprova o equilíbrio entre fé e autodefesa.

Ester 8.11: O decreto do rei permitiu que os judeus se reunissem e se defendessem contra quem os atacasse. A autodefesa é reconhecida como direito legítimo.

Salmos 144.1: “Bendito seja o Senhor... que adestra as minhas mãos para a peleja.” O salmista reconhece que a capacidade de lutar e se defender é dádiva de Deus.

Provérbios 25.26: “Como fonte turva é o justo que cede diante do perverso.” A covardia diante da injustiça é condenada. Legítima defesa é coerente com a justiça.

Eclesiastes 3.3,8: “Há tempo de matar... tempo de guerra e tempo de paz.” O sábio reconhece que, em um mundo caído, há momentos em que o uso da força é necessário.


CONTINUIDADE NO NOVO TESTAMENTO

O ensino do Antigo Testamento não foi revogado. Ao contrário, o Novo Testamento confirma e aprofunda esses princípios.

Lucas 22.36: Jesus disse: “quem não tiver espada, venda a capa e compre uma.” Ele não incentiva violência gratuita, mas reconhece que Seus discípulos precisariam se defender num mundo hostil.

João 18.10-11: Pedro usou a espada para proteger Jesus. Embora Cristo o corrigisse — porque Sua prisão fazia parte do plano divino — o texto revela que andar armado não era condenado.

Atos 7.24: Moisés defendeu um hebreu, ferindo o egípcio agressor. Sua ação foi lembrada como zelo pela justiça, não como assassinato injusto.

Atos 23.12-17: Paulo, ao saber da emboscada, não se entrega ao perigo. Ele usa recursos legítimos para escapar, mostrando que não é virtude se deixar matar quando há meios de proteção.

Romanos 13.4: A autoridade é “ministra de Deus... vingadora, para castigar o que pratica o mal.” O princípio do uso legítimo da força pertence à esfera estatal, mas analogicamente fundamenta também a defesa individual.

1 Timóteo 5.8: O dever de cuidar da família inclui protegê-la fisicamente. Negligenciar a proteção é negar a fé.

Hebreus 11.33-34: Pela fé, homens subjugaram reinos e “tornaram-se poderosos na guerra.” A fé não exclui a resistência, mas a fortalece.


CONCLUSÃO

Toda a Escritura aponta para a responsabilidade de proteger a vida, a família e o próximo contra a agressão injusta. O uso da força, quando necessário para preservar a vida, é moralmente legítimo. A diferença entre assassinato e defesa justa está clara em todo o cânon.

Negar o testemunho do Antigo Testamento nessa matéria é mutilar a Palavra de Deus, tornando-se culpado diante de 2 Timóteo 3.16-17. A lei que regula a legítima defesa permanece válida, pois não pertence ao sistema cerimonial que Cristo aboliu, mas à ordem moral da vida humana

Portanto, o cristão pode, com consciência tranquila e fé em Deus, defender sua vida, sua família e até sua pátria, sem incorrer em culpa de homicídio. Ao contrário, agir assim é obedecer ao Senhor que nos chama a cuidar dos nossos (1Tm 5.8) e resistir ao mal quando ele ameaça destruir a vida que Ele nos deu.

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