terça-feira, 2 de setembro de 2025

Buda (Siddhartha Gautama); O Príncipe que Fugiu da Realidade

 

Por Yuri Schein 

Siddhartha Gautama nasceu no século VI a.C., em Lumbini, filho de um rei do clã Shakya. Desde cedo, segundo a tradição, foi protegido de todo sofrimento: pobreza, doença, velhice e morte. Seu pai, com a habitual paranoia de monarcas obcecados por posteridade, desejava criar um ambiente hermético, isolando o príncipe da dura realidade do mundo. Aqui já temos o primeiro ponto crítico: proteger um ser humano da realidade não é cuidado, é criação de um ególatra artificial, que mais tarde se tornaria famoso por fugir do óbvio.

Aos dezenove anos, Siddhartha casou-se com Yasodhara, consolidando sua posição social e política. Contudo, a monotonia do luxo palaciano não apaziguava a inquietação do jovem príncipe. Um dia, em suas excursões fora do palácio, ele teve quatro visões que transformariam sua vida: um velho, um doente, um cadáver e um asceta. Esses encontros deveriam funcionar como “epifania” para motivá-lo a buscar respostas. Aqui reside a ironia: para ele, a solução para o sofrimento humano não era agir dentro do mundo, melhorar, influenciar ou compreender o cosmos; era fugir dele. A grande lição? O isolamento e a contemplação passiva como remédio para a realidade, algo que qualquer mente minimamente ativa consideraria absurdo.

Com o impacto dessas visões, Siddhartha abandonou sua esposa, seu filho recém-nascido e todo conforto material para tornar-se asceta. É um gesto dramático, quase hollywoodiano: renunciar a tudo para encontrar iluminação. Mas, novamente, aqui se mostra o caráter problemático do budismo primitivo: a moral prática é substituída por abandono pessoal. Ele literalmente ABANDONA RESPONSABILIDADES humanas imediatas em nome de uma busca abstrata, idealizando sofrimento pessoal como caminho para sabedoria.

Nos anos seguintes, Gautama praticou austeridades extremas, chegando a quase se matar de fome. Seus discípulos até o abandonaram, preocupados com sua sanidade física e mental. Aqui está o ponto nevrálgico: a ideia de que a dor autoimposta, a mortificação do corpo, gera iluminação, é não apenas desumana, mas intelectualmente preguiçosa. Ele transforma a vida em sofrimento deliberado, chamando isso de virtude. A lógica é simples: se o sofrimento existencial é inevitável, então a melhor saída é criar mais sofrimento ainda para si mesmo. Um círculo perverso que só reforça o caráter escapista de sua filosofia.

Eventualmente, Gautama abandonou as austeridades e decidiu meditar sob a famosa Árvore Bodhi. Lá, após profunda contemplação, ele alcançou a “iluminação”: o Nirvana. Segundo os textos, compreendeu a natureza do sofrimento (dukkha), a impermanência (anicca) e a ausência de um eu permanente (anatta). Aqui reside outra ironia grotesca: ele alcança “clareza” sobre a existência, mas essa clareza é essencialmente negativa: tudo é sofrimento, tudo é impermanente, você não é você mesmo. A promessa de libertação é alcançada não pela ação positiva no mundo ou pela verdade objetiva, mas pela negação, pela fuga da realidade.

Depois de sua iluminação, Gautama passou os quarenta e cinco anos seguintes viajando pelo norte da Índia, ensinando o Dharma, reunindo discípulos e formando a Sangha. Ele pregava compaixão, amor e desapego. Contudo, a filosofia central continuava escapista: o foco não era compreender Deus, o cosmos ou a moral objetiva, mas reduzir o apego para escapar do sofrimento. Ou seja, para Buda o amor e compaixão são virtuosos, mas a justificativa metafísica para eles é filosoficamente frágil. Reduzir toda existência a sofrimento e sugerir fuga é um “mantra” conveniente para a mente cansada, não uma teoria coerente do mundo.

Ele morreu aos oitenta anos em Kushinagar, supostamente de intoxicação alimentar, deixando uma tradição que se espalhou por séculos. O budismo cresceu e se diversificou, incorporando rituais, e em alguns ramos deidades menores e interpretações filosóficas. Mas o ponto nevrálgico permanece: o núcleo da doutrina budista não responde às questões últimas da existência. O mundo não é explicado, Deus não é reconhecido, a moral absoluta não é fundamentada, tudo é uma estratégia de evasão metafísica disfarçada de sabedoria.

Em resumo, Siddhartha Gautama pode ser chamado de um exemplo de inteligência e disciplina, mas sua filosofia central é escapista, focada na redução de sofrimento individual através da negação e do abandono da realidade. Ele é celebrado por clareza e compaixão, mas a pergunta que permanece é: clareza de quê? Compromisso com quê? Para quem busca respostas sobre Deus, origem, propósito e destino, Buda oferece silêncio e evasão, não verdade.

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