por Yuri Schein
O relato de 1 Samuel 8.6-7 apresenta um dos momentos mais emblemáticos da história de Israel: o povo, cansado da teocracia direta, pede um rei humano. “Não rejeitaram a ti, mas a mim, para que eu não reine sobre eles”, responde Deus, expondo com clareza a falibilidade do poder humano e a soberania absoluta de seu governo.
Para o leitor contemporâneo, anestesiado pela visão secular de progresso linear ou pelo apocalipticismo dispensacional, esse episódio é mais do que uma lição histórica: é uma ilustração perene do fracasso da humanidade em estabelecer um governo justo sem a orientação do Ungido de Deus, e, inversamente, uma confirmação do triunfo inevitável do Reino messiânico na história, conforme previsto no cântico de Ana e confirmado no Novo Testamento.
O fracasso humano e o tipo messiânico
Quando Israel exige um rei, eles não rejeitam Samuel, mas o próprio Soberano Criador (v.7). A distinção é crucial: o problema não é a monarquia, mas a rejeição do Reino divino direto. Esta rejeição é tipológica: Saul se torna o primeiro rei humano, limitado e falho, e abre caminho para a necessidade do Ungido final, Cristo.
O pós-milenismo vê aqui uma tese histórica universal: governos humanos são instáveis e limitados, mas o Reino messiânico não depende da fidelidade das nações ou da moralidade dos governantes. Deus governa diretamente por meio de seu Ungido, e a história avança sob essa providência.
A soberania de Deus versus ilusões humanas
O contraste entre o pedido do povo e a resposta divina expõe a falácia de toda tentativa humana de apressar ou substituir o Reino de Cristo. Enquanto os dispensacionalistas pregam “Reino adiado” e guerras catastróficas como condição para a manifestação de Cristo, a Bíblia mostra que o Reino messiânico já está em ação, embora em tensão com reinos humanos imperfeitos.
Deus diz explicitamente:
“Não é a ti que rejeitaram, mas a mim, para que eu não reine sobre eles” (v.7).
Este verso é um ataque direto ao pessimismo escatológico: o mundo não está entregue à corrupção irreversível. Deus ainda reina, mesmo quando o povo se engana. O dispensacionalista, ao imaginar o mundo à beira do colapso total até o arrebatamento, ignora a lição de 1 Samuel: Deus governa continuamente, mesmo por detrás da aparência de caos humano.
Saul como sombra do Ungido
Saul, o primeiro rei humano, é uma tipologia da fraqueza dos reinos terrenos. Ele é instável, suscetível ao pecado, limitado pelo tempo e pela circunstância. Em contraste, o cântico de Ana (1 Sm 2.1-10) já anunciava o Ungido universal, cujo governo é irrevogável e que julgará as extremidades da terra.
O pós-milenismo lê Saul não como um fracasso absoluto, mas como uma lição de história providencial: mesmo reis humanos imperfeitos são usados para demonstrar a superioridade e inevitabilidade do Reino messiânico. A lição é clara: mesmo quando a humanidade se rebela ou se engana, o plano de Deus avança, o Reino cresce e o Ungido triunfa.
Crítica ao pessimismo dispensacionalista
O dispensacionalismo pessimista interpreta este capítulo como modelo do caos humano total e projeta esse caos até o fim da história: tribulação global, apostasia irreversível, guerras intermináveis. A Bíblia, porém, mostra que o governo humano falho não anula o Reino divino em ação.
O povo pediu um rei humano e recebeu Saul; Cristo, o Ungido final, receberá toda autoridade sobre toda a terra, mas não como reação às falhas humanas, e sim como parte do plano contínuo de Deus (Mt 28.18; Dn 2.35; Ap 11.15). O Reino de Cristo não está adiado; ele cresce gradualmente, transformando a sociedade, subjugando poderes contrários e expandindo a justiça, exatamente como o cântico de Ana e os salmos messiânicos antecipavam.
Lições pós-milenistas práticas
1. O Reino de Deus é contínuo e progressivo: a falha humana em 1 Samuel 8 mostra que precisamos confiar na providência divina, não na perfeição das estruturas humana.
2. O Ungido triunfa apesar da história: Saul falhou, mas Cristo triunfará. Isso é um chamado à missão ativa e ao discipulado de nações inteiras, não ao pessimismo estéril.
3. A soberania de Deus está além do tempo e da falibilidade humana: mesmo quando os reinos humanos parecem desmoronar, Deus governa cada evento.
O pós-milenismo é simplesmente o reconhecime.nto racional e bíblico da vitória inevitável do Ungido, algo que dispensacionalistas, premilenistas cataclísmicos e amilenistas pessimistas tendem a negar. 1 Samuel 8.6-7 não é apenas uma lição histórica; é um alerta escatológico: confiar em reis humanos é tolice; confiar no Ungido é o caminho para a vitória progressiva do Reino.
📌 Síntese lógica final (silogismo)
1. O povo rejeitou Deus como Rei e pediu um rei humano (1 Sm 8.6-7).
2. O Reino humano é limitado e falho; o Reino messiânico é irrevogável e universal (1 Sm 2.10; Mt 28.18; Ap 11.15).
3. Portanto, a história é governada pelo Ungido, e o Reino de Cristo progride independentemente do fracasso humano.
4. Qualquer visão que adie ou minimize o triunfo histórico do Ungido (dispensacionalismo pessimista, premilenismo catastrófico, amilenismo) contradiz diretamente a Escritura.
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