por Yuri Schein
O capítulo 12 de 1 Samuel marca um momento decisivo na história de Israel. Samuel, após ungir Saul como rei, confronta o povo e estabelece um princípio eterno: o verdadeiro bem-estar de uma nação depende da fidelidade a Deus e do temor ao Seu Reino, não da habilidade humana ou do planejamento político. Nos versículos 14-15, ele diz:
“Se temerdes ao Senhor, e o servirdes, e ouvirdes a sua voz, e não resistirdes aos mandamentos dele, então, tanto vós como o vosso rei seguireis ao Senhor vosso Deus. Mas, se não ouvirdes à voz do Senhor, virá sobre vós e sobre o vosso rei toda a maldição que ele pronunciou contra vós.”
Mais adiante, nos versículos 24-25, Samuel reforça:
“Temei ao Senhor e servi a ele com verdade e de todo o vosso coração; porque vede quão grandes coisas ele tem feito por vós. Mas se vós pecardes, eis que vós e o vosso rei sereis destruídos.”
A soberania divina sobre reis e povos
O que temos aqui é uma afirmação categórica do pós-milenismo: o bem-estar e o avanço de uma nação não dependem da sorte, de tratados políticos ou da habilidade de governantes humanos, mas do temor e serviço ao Senhor. Samuel declara que até mesmo o rei, autoridade máxima da sociedade, está sujeito à lei divina.
O pós-milenismo entende esse princípio como histórico: o crescimento do Reino de Cristo na terra se manifesta na transformação das sociedades e instituições humanas, não pela violência, mas pela obediência ao Evangelho e pelo progresso da justiça divina. Quando Israel segue a Deus, tanto o povo quanto o rei prosperam; quando rejeita, a maldição recai. Essa lógica é exatamente a que os dispensacionalistas pessimistas ignoram ao prever uma decadência global inevitável antes do arrebatamento.
Deus como agente ativo da história
1 Samuel 12.14-15 e 24-25 reforçam o ocasionalismo calvinista: Deus é o agente ativo que governa sobre reinos e reis, garantindo que a fidelidade ou desobediência produza consequências tangíveis na história. A obediência ao Senhor não é apenas espiritual; tem efeito social, político e nacional. O pós-milenismo se apoia exatamente nesse princípio: a transformação de cidades e nações não é utopia, mas fruto da ação de Deus através de seu Reino, por meio da Igreja e de líderes obedientes.
Enquanto isso, o dispensacionalismo pessimista afirma que a história está irremediavelmente corrompida, que nenhum avanço real do Reino ocorrerá antes de guerras e cataclismos, negando a evidência histórica de sociedades transformadas pela fé no Ungido. Samuel, com clareza brutal, mostra que o avanço do Reino depende de temor e serviço a Deus, e não de um cenário apocalíptico futurista.
O rei humano subordinado ao Ungido
O texto deixa explícito: mesmo o rei, o máximo representante do poder humano, não é autônomo. Ele deve seguir a Deus, sob pena de maldição. O pós-milenismo vê neste princípio uma aplicação histórica: governos humanos podem ser instrumentos de Deus para a expansão do Reino, mas somente quando submetidos ao Ungido. Saul falha porque não obedece plenamente; Cristo, o Ungido final, triunfa porque sua autoridade é absoluta.
Essa hierarquia entre o Ungido e os reis humanos é crucial para a crítica pós-milenista ao pessimismo: o Reino de Deus avança não apesar, mas através da história humana, quando líderes e sociedades cooperam, mesmo que imperfeitamente, com a providência divina.
Lições para o pós-milenismo
1. O Reino de Deus é histórico e transformador: Samuel liga diretamente a obediência ao bem-estar social e político.
2. O avanço do Reino depende da fidelidade à lei divina, não de agendas humanas ou eventos cataclísmicos.
3. O Ungido governa sobre reis e nações, garantindo que o Reino avance progressivamente até sua plena manifestação.
4. O pessimismo dispensacionalista é incompatível com esta realidade, pois nega a eficácia histórica do Reino e o efeito transformador da obediência.
📌 Síntese lógica final (silogismo)
1. Samuel afirma que se o povo e o rei obedecerem a Deus, prosperarão; se não, sofrerão consequências (1 Sm 12.14-15, 24-25).
2. Cristo, o Ungido final, possui toda autoridade sobre reis e povos e garante o triunfo do Reino (Mt 28.18; Ap 11.15).
3. Portanto, o avanço do Reino de Deus é real, progressivo e histórico, dependendo da obediência e da ação providencial do Ungido.
4. Qualquer visão que adie ou minimize o avanço histórico do Reino (dispensacionalismo pessimista, amilenismo ou premilenismo catastrófico) contraria diretamente a Escritura.
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