Por Yuri Schein
O texto diz:
“Habitarei no meio dos filhos de Israel e serei o seu Deus.” (Êxodo 29:45, ARA)
À primeira vista, este versículo parece apenas uma promessa ritualística ligada à inauguração do tabernáculo. Mas, para olhos atentos à teologia do Reino, ele revela princípios fundamentais para a visão pós-milenista: a presença real e contínua de Deus no meio do Seu povo, garantindo o avanço histórico do Seu Reino até a plenitude.
O Tabernáculo e a Habitação de Deus
Êxodo 29 apresenta a consagração de Arão e seus filhos como sacerdotes. A instrução final de Deus é clara: o objetivo não é meramente um culto litúrgico, mas uma habitação divina entre os homens. O tabernáculo não é um símbolo vazio, nem um ritual para distrair Israel; é a manifestação tangível da presença de Yahweh, mostrando que Deus não está distante, mas ativo no meio do Seu povo, governando, santificando e protegendo.
Para o pós-milenismo, isso é crucial. Deus não reina apenas no céu ou no futuro distante; Ele reina agora, no meio da Sua Igreja, ordenando a história de acordo com Seu propósito. Se a presença divina não fosse contínua, não haveria como esperar que o Reino progredisse “pouco a pouco” até a consumação.
Habitar no meio do povo: implicações históricas
O verbo hebraico šākân (habitar) não é estático. Indica residência ativa, presença influente e autoridade contínua. Deus promete estar no centro da vida social, espiritual e cultural de Israel, influenciando tudo: governança, justiça, economia, educação, moralidade.
O pós-milenismo entende isso como um modelo da Igreja no mundo: Cristo habita entre Seu povo pelo Espírito Santo, guiando a sociedade, reformando culturas e leis, e levedando o mundo progressivamente, assim como a parábola do fermento ensina (Mt 13:33). A presença de Deus não é simbólica; é eficaz, histórica e transformadora.
Êxodo 29:45 e a continuidade no Novo Testamento
O Novo Testamento ecoa essa ideia. Jesus promete em Mateus 28:20: “E eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.” Pedro reforça em 1 Pedro 2:9-10 que a Igreja é a nação santa e sacerdócio real, continuando a presença e a missão de Deus no mundo.
Portanto, assim como Deus habitava no tabernáculo entre Israel, Ele habita na Igreja, sustentando Seu Reino e garantindo que Sua vontade se cumpre historicamente. Essa presença garante o avanço progressivo do Reino até que todas as nações sejam discipuladas: o coração da visão pós-milenista.
Refutando leituras restritivas
O dispensacionalista dirá: “Essa presença era apenas para Israel, o tabernáculo, e não tem nada a ver com a Igreja no mundo.”
– Resposta: o Novo Testamento aplica palavra por palavra esse princípio à Igreja (1 Pe 2.9; Ap 1.6). Deus não muda de método, apenas cumpre a promessa em Cristo.
O amilenista pessimista diz: “O mundo está cheio de maldade, logo não há avanço real do Reino.”
– Resposta: Êxodo 29:45 mostra que a presença de Deus garante a eficácia histórica do Reino, mesmo que a oposição ainda exista. O avanço pode ser lento, mas é inevitável e é exatamente isso que a parábola do fermento ensina.
Implicações Pós-Milenistas
1. Presença histórica de Cristo: Ele habita no meio da Igreja, garantindo a influência do Reino na sociedade.
2. Avanço gradual do Reino: Assim como Deus habitava o tabernáculo para santificar Israel, o Espírito Santo habita o corpo da Igreja para levedar a cultura, política, educação e moralidade.
3. Vitória inevitável: A presença de Deus é garantia de sucesso; o Reino progride pouco a pouco, até a consumação final (1 Cor 15:24-25).
4. Atividade civilizadora: A Igreja não é meramente espiritual; é chamada a transformar o mundo, assim como Israel foi chamado a ser nação santa.
Conclusão
Êxodo 29:45 é uma promessa de presença divina contínua e poder histórico que fundamenta o pós-milenismo. Deus habita no meio do Seu povo, sustenta Sua obra e garante que o Reino avance. A Igreja, assim como Israel, é instrumento dessa presença, levedando a história até que toda a terra esteja sob a glória do Senhor. Quem nega isso acaba reduzindo a história a caos ou a promessas vazias, uma interpretação que não dá crédito à fidelidade de Deus.
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