Por Yuri Schein
O erro dos futuristas e a cegueira histórica
Rute não é apenas uma história sentimental de moabitas e espigas. É um tipo histórico do avanço do Reino de Deus. Para os futuristas de plantão, que só enxergam Armagedom, Rute parece um conto irrelevante. Eles se perdem em literalismos e falácias geneticamente deterministas, incapazes de enxergar que Deus age progressivamente na história. O pós-milenismo, por outro lado, entende que o Reino de Deus se expande gradualmente, atingindo famílias, povos e estruturas sociais antes da consumação final em Cristo (McDowell, The Bible Handbook, 1986; Sproul, The Last Days According to Jesus, 1998).
Rute 1:16-17: A adesão ao Reino e a integração dos gentios
“O teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus.”
Rute, a moabita, abandona sua identidade cultural e religiosa para se submeter ao povo de Deus. Este não é apenas um gesto moral: é uma tipologia do avanço do Reino através da conversão de gentios, que historicamente se integra ao povo de Deus, promovendo transformação social e espiritual.
Calvino comenta: “Rute demonstra que o poder de Deus opera mesmo através daqueles que não nascem de Israel, mostrando a misericórdia e a expansão da aliança” (Calvino, Comentário em Rute, 1554).
Do ponto de vista pós-milenista, este é o início da obra histórica de transformação, quando indivíduos fiéis tornam-se agentes de crescimento do Reino, dentro de sua própria história, em vez de esperar apocalipses catastróficos.
Trabalho, obediência e providência divina
“Rute foi ao campo a colher espigas, atrás de quem me parecer bem.”
O pós-milenismo entende que o Reino de Deus não se manifesta apenas por decretos sobrenaturais isolados. Deus opera através da obediência e da ação humana, usando circunstâncias comuns para realizar Seus propósitos (Hoeksema, The Sovereignty of God, 1933).
Boaz protege Rute, recompensando sua fidelidade. O campo de Boaz simboliza o avanço do Reino no tecido social e econômico, mostrando que a providência divina promove bênçãos de forma progressiva, sustentável e visível, sem necessidade de cataclismos imediatos.
Rute 4:13-17 – O cumprimento histórico e a tipologia davídica
“E tomou Boaz a Rute, e ela se tornou sua mulher; e o Senhor lhe deu a Rute conceber, e ela deu à luz um filho.”
O nascimento de Obede é a prova concreta do progresso histórico do Reino de Deus, que culmina na linhagem davídica e, por fim, em Cristo (Mateus 1:5-16). Aqui, o pós-milenismo vê a soberania divina atuando na história, usando pessoas comuns e situações ordinárias para formar o Rei prometido.
Gordon Clark enfatiza: “A providência de Deus se manifesta na história; o homem comum é o instrumento do propósito divino” (Clark, A Christian Philosophy of History, 1968). Rute, a estrangeira, demonstra que a expansão do Reino não é instantânea, mas gradual e cumulativa, e que Deus trabalha progressivamente até o cumprimento final de suas promessas.
Tipologia histórica e implicações pós-milenistas
Rute, quando lida corretamente, é uma narrativa que mostra:
1. Conversão e integração: Gentios se incorporam ao povo de Deus, expandindo o Reino.
2. Providência progressiva: Deus usa circunstâncias históricas e ações humanas para avançar Seus propósitos.
3. Culminação messiânica: A linhagem davídica aponta para Cristo, mostrando que o avanço histórico do Reino é cumulativo e leva à consumação.
O pós-milenismo entende que a história não é um mero palco de destruição; é o campo de crescimento do Reino, onde obediência, fé e providência divina geram prosperidade moral, social e espiritual (Sproul, The Last Days According to Jesus, 1998; McDowell, Evidence That Demands a Verdict, 1981).
Rute como guia do Reino na história
Rute não é romance sentimental. É uma narrativa estratégica sobre a expansão do Reino na história humana. A história se move de forma orgânica: a conversão de gentios, o trabalho fiel, a providência divina e o cumprimento messiânico formam um padrão de progresso contínuo, exatamente o que o pós-milenismo defende.
Para os literalistas, futuristas e apocalipticistas, isso é invisível; para quem lê com olhos históricos e teológicos, Rute é uma lição de como o Reino avança, prospera e se cumpre antes da volta de Cristo. Qualquer outro comentário sobre “esperar caos” é ignorância histórica e teológica flagrante.
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