Por Yuri Schein
O meme do Stark perguntando se é “ideia perfeita no Intelecto ou só bug no mundo sensível” é mais profundo do que parece. Platão e os neoplatônicos diriam que ele participa das Formas eternas no mundo inteligível, mas, ao mesmo tempo, sofre os efeitos da imperfeição no mundo material. É a velha dicotomia do ser e do devir, das essências puras e das cópias defeituosas.
Mas a piada escancara a falha do neoplatonismo: se tudo é apenas “emanação do Uno”, então o mal, os erros e até os “bugs” não passam de distorções inevitáveis da perfeição divina. Nesse esquema, o mal não tem explicação racional, apenas uma desculpa cosmética. Como lembra Gordon Clark, “o mal não pode ser tratado como mera privação ou sombra; ele deve ser incluído no decreto divino”¹.
Stark, com sua ironia tecnológica, faz a pergunta que Plotino jamais quis responder: se eu sou reflexo imperfeito de uma Ideia perfeita, então quem é o programador responsável por tanto bug na existência? E aqui a filosofia grega se mostra inferior: ela tentou preservar a divindade de qualquer responsabilidade pelo mundo caótico, mas terminou presa no dualismo insolúvel entre perfeição e falha.
A resposta cristã, no entanto, não foge do problema, encara-o com a doutrina do decreto divino. Não somos “copiões defeituosos” do Uno, mas criaturas reais, feitas por Deus conforme seu plano eterno. Até mesmo os pecados e tropeços estão incluídos na vontade soberana de Deus, como já dizia Calvino: “Nada acontece senão por Sua vontade expressa”². O cristão não precisa temer o bug: ele sabe que até o erro está escrito no código da providência.
O neoplatônico se desespera com o defeito da cópia; o calvinista confia que o Autor do programa escreveu cada linha, inclusive as linhas que parecem corrompidas. Stark pode brincar com seu lugar no Intelecto, mas a Escritura garante: “Nele vivemos, nos movemos e existimos” (At 17:28). Não somos reflexos imperfeitos, mas pixels colocados de propósito na tela da História.
Notas de rodapé:
1. Gordon H. Clark, God and Evil: The Problem Solved (Unicoi: Trinity Foundation, 1996), p. 15.
2. João Calvino, Institutas da Religião Cristã, Livro I, cap. XVI, §3.
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