sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Platão, Sócrates, Toth e o Google Mental



Por Yuri Schein 

No Fedro (274c-275b), Sócrates narra a lenda de Toth, o deus que inventou a escrita. Ele apresenta sua obra ao rei Tamus¹, dizendo: “Eis aqui algo que dará sabedoria e memória aos homens”. O rei, com mais senso do que muito acadêmico moderno, responde: “Pelo contrário, isso trará esquecimento às almas. Confiando em caracteres externos, deixarão de exercitar a memória e terão apenas a aparência da sabedoria, não a realidade”.

Platão, ainda no século IV a.C., já denunciava que o homem, ao confiar em registros externos, se torna menos dialético, menos profundo, mais raso. O que antes era exercício vivo de razão e diálogo, se converte em ctrl+c/ctrl+v.

Hoje, o problema não é mais a escrita, mas a era da hiper-informação. Milhares de “Toths digitais” enchem as redes de dados, mas a alma moderna esqueceu o raciocínio. Vive de citações arrancadas do contexto, frases de efeito, slogans ideológicos e estatísticas mal digeridas. É o mesmo vício que Sócrates já via nascer: conhecimento aparente sem substância.

¹Em algumas versões o diálogo de Toth é com o deus Amon

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