sexta-feira, 25 de julho de 2025

Mortificação

 📜 Morrer para o mundo: obra do Espírito, não esforço humano

Vivemos dias em que muitos cristãos falam de "matar o pecado", mas poucos entendem como isso realmente acontece. Na verdade, muitos pensam que devem, com esforço próprio, eliminar o pecado — como se a santidade fosse um troféu conquistado pela disciplina pessoal. Nada poderia estar mais longe da verdade bíblica e reformada.

A Palavra de Deus ensina que a mortificação do pecado não é a causa, mas a consequência da vivificação operada pelo Espírito Santo. Como disse João Calvino:

"A mortificação do pecado é a vivificação do Espírito."

⚠️ Não é o teu esforço que produz vida espiritual, mas é a vida espiritual que Deus soberanamente gera em ti que mortifica o pecado. A carne não pode matar a carne. O homem natural está morto em delitos e pecados (Ef 2:1) e, portanto, é incapaz de fazer morrer qualquer coisa — ele mesmo está morto.


Assim como a luz afugenta naturalmente as trevas, assim também o Espírito de Deus, ao vivificar o eleito, expulsa e mortifica o domínio do pecado. Isso não é fruto do livre-arbítrio, nem de alguma cooperação entre o homem e Deus, mas da operação monergística (única e soberana) do Espírito Santo.


📖 "Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito mortificardes os feitos do corpo, vivereis." (Romanos 8:13)

Observe bem: é “pelo Espírito” que se mortifica o pecado — não por força de vontade ou técnicas humanas.


🌿 Paulo também contrasta claramente obras e fruto. As "obras da carne" são ações humanas; mas o que o Espírito produz em nós não é chamado de obra, mas de fruto:


 “O fruto do Espírito é amor, alegria, paz...” (Gálatas 5:22)


Fruto não é algo fabricado, é algo produzido pela vida interior do Espírito. A árvore não se esforça para dar fruto — ela dá fruto por estar viva. Assim também, aquele que foi vivificado por Deus dará, como consequência inevitável, frutos que incluem a santificação e a morte do pecado.


🙌 Portanto, morrer para o mundo não é uma tarefa autoimposta, mas o resultado necessário da obra de Deus em nós. O verdadeiro cristão não se gloria em sua própria "santidade", mas se prostra diante de Deus com temor e gratidão, sabendo que tudo o que tem é dom imerecido e gracioso.

🕯️ Se há mortificação do pecado em tua vida, é porque há vivificação do Espírito. E se há vivificação, é porque o Deus soberano te regenerou, te chamou, e está te sustentando com poder. A Ele seja toda a glória — hoje e eternamente.


Soli Deo

 Gloria.

✒️ Yuri Schein



quarta-feira, 16 de julho de 2025

O Jovem Rico, o Amor e Expiação Limitada


❓ Pergunta recebida:

> “Schein, boa noite. Uma dúvida sincera: na passagem do jovem rico em Lucas, onde diz que ‘Jesus o amou’, logo ele sai. Isso implica contra a expiação ilimitada?”

✍️ Resposta reformulada, ampliada e enriquecida:

Boa noite, meu caro. Excelente pergunta — e, como todo questionamento sincero, precisa ser desinfectado de pressupostos contaminados antes que possamos analisá-lo.

Primeiro, vamos colocar as cartas na mesa: a expressão “Jesus o amou” não representa nem um tropeço na doutrina da expiação limitada (ou definida, particular ou eficaz, chame como quiser). Pelo contrário, a passagem só confirma quão falha é a leitura superficial que confunde cada menção do verbo agapáō com uma garantia universal de redenção.

⚙️ Desmontando o mito do “amor salvífico universal”

O erro aqui nasce de uma expectativa irracional: imaginar que cada vez que Cristo ama alguém, Ele necessariamente derrama sobre esse alguém os méritos da Sua morte expiatória. É quase como pensar que toda simpatia divina exige um depósito automático de sangue redentor — uma teologia da expiação como se fosse Pix, instantâneo e universal.

Mas, biblicamente, a coisa não funciona assim. O mesmo Cristo que nos manda “amar os inimigos” (Lucas 6:27) pratica, de fato, esse amor perfeito. Amar (agapáō) aqui significa demonstrar benignidade, compaixão, respeito, desejo sincero de bem; mas não implica, nem de longe, decretar salvação eterna.

Se fosse assim, Cristo também teria morrido pelos fariseus a quem chamou de “raça de víboras” (Mateus 23:33) — o que, curiosamente, não combina muito bem com o sentido real da expiação limitada ensinada nas Escrituras.

📜 Expiação limitada ≠ incapacidade de amar moralmente

A doutrina reformada ensina que Deus ama os eleitos com amor salvífico, eficaz e invencível — um amor que alcança o alvo. Aos demais, Deus pode expressar bondade, paciência e até afeto benevolente. Mas isso nunca foi sinônimo de decretar redenção.

O jovem rico foi amado no sentido mais nobre: Cristo, o homem perfeito, cumpriu integralmente o mandamento de amar o próximo, mesmo que esse próximo fosse teimoso e escravo das riquezas. Isso não “quebra” a doutrina da expiação limitada; ao contrário, revela a santidade do Salvador que amava até mesmo quem não estava predestinado a crer.

🧐 E se ele tivesse se convertido depois?

A Escritura não registra se o jovem rico morreu incrédulo ou se, tempos depois, caiu em si como o filho pródigo. É possível que ele tenha se convertido. É possível que não. Só Deus sabe. Mas note: a robustez da expiação limitada não depende de especulações biográficas. Ela se apoia nos decretos eternos de Deus, que não sofrem abalo pela liberdade humana (ou melhor: pela servidão voluntária do pecador).

🧠 Sobre “Agapáō”: o grego não é mágico

Alguns irmãos — tomados por uma quase superstição léxica — acreditam que agapáō carrega um “poder” espiritual absoluto que obriga a salvação. Não. Agapáō designa um tipo de amor que pode ser genuíno, profundo, puro — sem que seja automaticamente redentor.

Cristo amou Jerusalém (agapáō) e mesmo assim declarou: “Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos… e não quiseste” (Mateus 23:37). O verbo é forte, nobre, mas não mágico: não transforma vontade decretiva de Deus num amuleto gramatical.

🛡 Conclusão

A passagem do jovem rico não ameaça a expiação limitada nem com uma espada de brinquedo. A verdadeira ameaça é quando alguém lê o texto carregando pressupostos arminianos de “amor universal” — como se Deus fosse obrigado a tentar salvar todos, fracassando muitas vezes.

Mas o Deus revelado na Escritura não fracassa. Ele ama de forma santa e perfeita; Ele salva eficazmente apenas quem Ele escolheu desde antes da fundação do mundo. O resto é sentimentalismo teológico com aparência de grego.

No fim das contas, agapáō não salva ninguém; quem salva é o Cordeiro de Deus que, voluntária e eficazmente, derramou Seu sangue não por todos sem exceção, mas por todos os que o Pai Lhe deu.

E, por favor, não confundamos um mandamento moral (“amar o próximo”) com o decreto eterno de expiação. Nem mesmo o grego suporta esse peso.


quarta-feira, 9 de julho de 2025

Romanos 11.32: A Soberania Insondável e a Misericórdia Ordenada de Deus


Uma análise exegética e teológica com base em Wallace, Murray, Piper, Cheung e Clark

 "Porque Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para com todos usar de misericórdia." (Romanos 11.32)

Romanos 11.32 ocupa um lugar culminante na argumentação de Paulo nos capítulos 9–11 da carta aos Romanos. Depois de explorar o endurecimento parcial de Israel, a salvação dos gentios e a esperança de restauração final de Israel, Paulo conclui com a declaração de que Deus encerrou (συνέκλεισεν) todos na desobediência, para que pudesse ter misericórdia de todos. Esta frase, longe de ser periférica, concentra alguns dos mais profundos mistérios do plano divino, tocando diretamente a relação entre os decretos de Deus, a liberdade humana, o pecado e a graça.

Neste capítulo, reuniremos as análises de Daniel B. Wallace, John Murray e John Piper, ampliando com a teologia de Vincent Cheung e Gordon Clark, para mostrar como o texto revela a soberania ativa de Deus sobre todas as coisas — inclusive o pecado — sem comprometer sua santidade, e como esse governo absoluto é a base para a manifestação de sua misericórdia.


✍️ Wallace: A gramática da finalidade divina

Em Greek Grammar Beyond the Basics, Daniel B. Wallace explica que o grego ἵνα (hina) com o verbo no subjuntivo muitas vezes indica propósito intencional — aquilo que Deus realmente quis alcançar. No caso de Romanos 11.32, Wallace entende que não estamos apenas diante de um resultado casual, mas de um propósito decretado por Deus: Ele encerrou todos debaixo da desobediência com o propósito de usar de misericórdia para com todos.

Para Wallace, a força do ἵνα demonstra que:

A desobediência universal não foi um acidente histórico, mas um ato soberano de Deus.

A misericórdia não é uma reação de Deus a algo imprevisto, mas o fim pretendido do plano divino.

Desse modo, o endurecimento de Israel e a incredulidade geral dos homens fazem parte de um desígnio divino coerente, cujo ápice é a manifestação da misericórdia. Este aspecto gramatical destrói qualquer teologia que veja a história da salvação como um “plano B” de Deus diante do fracasso humano.


⭐ Murray: O propósito redentor e a misericórdia

No seu clássico The Epistle to the Romans, John Murray desenvolve a ideia de que Deus, ao “encerrar a todos na desobediência”, revela um propósito redentor. Ele escreve:

“O design de Deus é fazer da miséria provocada pelo pecado o palco em que brilhará a sua misericórdia.”

Murray rejeita que Romanos 11.32 ensine universalismo (todos sem exceção sendo salvos), mas sustenta que “todos” refere-se a judeus e gentios — todos os tipos de homens, sem distinção étnica.

A grande tese de Murray é que Deus permitiu e ordenou que tanto judeus como gentios fossem incluídos na desobediência, a fim de demonstrar a misericórdia de modo mais glorioso. Assim, a dureza do coração de Israel não frustra os planos de Deus; antes, é o próprio Deus quem planejou essa dureza como parte do processo histórico que culmina na manifestação de sua graça.


 🙏Piper: Soberania providencial e adoração

John Piper, em suas pregações e escritos sobre Romanos 11, ecoa e expande a visão de Murray, com ênfase especial na soberania de Deus. Piper escreve:

 “A misericórdia de Deus não é uma ideia improvisada em resposta ao fracasso de Israel; ela é o clímax do plano de Deus que inclui a desobediência como parte de seu desígnio soberano.”

Para Piper, a lógica de Paulo leva inevitavelmente ao verso seguinte: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus!” (v. 33). A correta compreensão da soberania de Deus não gera frieza ou fatalismo, mas adoração: Deus planejou até mesmo a queda e a dureza humana para magnificar a grandeza de sua misericórdia.

Piper também ressalta que a misericórdia aqui não é universalismo, mas a abrangência do plano de Deus que inclui todos os povos, superando as divisões étnicas.


👉 Cheung: O decreto soberano e a causalidade divina

Vincent Cheung, em textos como The Author of Sin e Systematic Theology, vai mais fundo: para ele, Romanos 11.32 não apenas sugere que Deus usou a desobediência como meio, mas que Ele causou a própria desobediência, mantendo intacta Sua santidade porque Deus é a única causa verdadeira de tudo, e o mal existe para que Sua misericórdia brilhe mais.

Cheung escreve:

 “Se Deus encerrou a todos na desobediência, então a desobediência não ocorreu independentemente de Sua vontade, mas é uma consequência direta de Seu decreto eterno.”

Assim, o encerramento na desobediência não é apenas um “permitir passivo”, mas um ato positivo do decreto soberano, cujo fim é a demonstração da misericórdia. Essa visão está fundamentada na convicção ocasionalista de Cheung: Deus move todas as vontades, inclusive as rebeldes, sem que isso torne Deus pecador. Ele cita passagens como:

Provérbios 16.4: “O Senhor fez todas as coisas para atender aos seus próprios desígnios, até o ímpio para o dia do mal.”

Atos 2.23: “Este [Jesus], entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, vós o tomastes.”

Cheung afirma que negar que Deus decretou e causou a desobediência é negar a própria força do ἵνα: o objetivo da desobediência foi estabelecido desde a eternidade.


🧩 Clark: Soberania, lógica e necessidade

Gordon Clark, em Predestination e God and Evil, defende posição semelhante: Deus decretou não apenas os eventos bons, mas também os maus. Para Clark, a linguagem de Romanos 11.32 exclui qualquer visão arminiana ou molinista: se “Deus encerrou a todos na desobediência”, então a desobediência faz parte do plano eterno.

Clark afirma que Deus não é autor do pecado no sentido moral (Deus não peca), mas é o autor do mundo no qual existe o pecado — e Ele decretou o pecado para que pudesse exibir Sua misericórdia, Sua justiça e Sua graça. A relação entre decreto e responsabilidade humana permanece um mistério, mas é sustentada pela revelação bíblica.

Ele escreve:

“Não existe evento contingente para Deus; mesmo o pecado foi determinado por Ele para um fim bom.”

(Predestination, p. 53)

Assim, Clark vê Romanos 11.32 como uma declaração explícita da soberania metafísica de Deus: não apenas sobre as consequências, mas sobre as próprias causas do pecado.


🧑‍🏫 Conclusão: A profundidade do plano eterno

Ao reunirmos Wallace, Murray, Piper, Cheung e Clark, vemos um quadro coerente:

Deus decretou e causou a desobediência (Cheung e Clark);

Deus fez isso com o propósito final de demonstrar misericórdia (Wallace e Murray);

Essa soberania leva à adoração e não ao fatalismo (Piper).

O verso 32 não apresenta um Deus reagindo ao mal, mas um Deus planejando todas as coisas, inclusive o mal, para revelar Sua glória e graça.

Paulo conclui:

“Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus!” (v. 33)

A correta leitura de Romanos 11.32 não nos deixa com um “Deus que apenas permite”, mas com um Deus que ordena, governa e até causa todas as coisas, para que o bem maior — Sua misericórdia e glória — resplandeça.

E como diriam Cheung e Clark: negar essa causalidade divina equivale a negar a própria força do texto bíblico e a exaltar a autonomia humana, destruindo a base da fé reformada.


terça-feira, 8 de julho de 2025

Alá não é o Deus da Bíblia:


É isso mesmo: embora linguisticamente “Alá” signifique apenas “Deus” em árabe (e cristãos árabes usem esse termo há séculos), o conteúdo teológico que o Islã atribui a Alá é radicalmente diferente daquele revelado pelo verdadeiro Deus da Bíblia.

📜 Do ponto de vista bíblico (Gl 1.8–9):

"Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo vindo do céu vos pregasse um evangelho diferente daquele que já vos pregamos, seja anátema."

O apóstolo Paulo alerta que qualquer “outro evangelho” vindo mesmo que de “um anjo” deve ser rejeitado e considerado maldito (anátema).

Segundo a tradição islâmica, o Alcorão teria sido revelado por intermédio do anjo Gabriel a Maomé, trazendo uma mensagem diferente da Bíblia, que nega a Trindade, a filiação divina de Cristo, a cruz e a expiação.


✝ Diferenças fundamentais entre o Deus da Bíblia e o “Deus” descrito pelo Alcorão:

1️⃣ O Deus da Bíblia é Trino — Pai, Filho e Espírito Santo; o Alcorão nega explicitamente a Trindade (Sura 4:171; 5:73).

2️⃣ O Deus da Bíblia revelou-se plenamente em Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem; o Alcorão nega que Jesus seja Deus (Sura 5:72).

3️⃣ O Alcorão nega a crucificação e a ressurreição (Sura 4:157); mas Paulo afirma que sem a ressurreição, nossa fé é vã (1 Coríntios 15:14).


☝ Portanto: embora a palavra “Alá” possa ser usada por cristãos de língua árabe de forma neutra para “Deus”, o “Alá” como definido no Islã não é o Deus revelado em Jesus Cristo; é, do ponto de vista bíblico, um deus falso (1 Coríntios 8:5–6).

✅ Conclusão:

– Não importa se a revelação vem de anjo, profeta ou tradição: se nega o evangelho revelado de Cristo crucificado e ressuscitado, é anátema.

– O Deus do Islã não é o mesmo Deus da Bíblia, pois nega os aspectos centrais do evangelho.

Os Cinco Pontos do Calvinismo — As Doutrinas da Graça

 

Por Yuri Schein


Os chamados Cinco Pontos do Calvinismo são amplamente conhecidos hoje em todo o mundo evangélico e também são chamados de "Doutrinas da Graça". Essa designação surge do fato de que esses pontos foram formulados para exaltar, proteger e esclarecer a glória da graça soberana de Deus na salvação, contrapondo-se a qualquer ideia de mérito ou livre-arbítrio autônomo do homem.

Tradicionalmente, esses cinco pontos são organizados em um acróstico em inglês, TULIP, que facilita a memorização e o ensino:

Total Depravity (Depravação Total)

Unconditional Election (Eleição Incondicional)

Limited Atonement (Expiação Limitada)

Irresistible Grace (Graça Irresistível)

Perseverance of the Saints (Perseverança dos Santos)

A origem precisa desse acróstico não é totalmente conhecida; ele provavelmente foi popularizado no contexto anglófono entre o final do século XIX e início do século XX, como resumo das conclusões do Sínodo de Dort (1618–1619), que respondeu aos ensinos do arminianismo. A seguir, cada ponto é explicado com maior profundidade e acompanhado de sua farta base bíblica.

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T – Depravação Total

Desde a queda no Éden, a natureza humana foi corrompida de tal forma que todo homem nasce espiritualmente morto, alienado de Deus e escravo do pecado. Essa depravação é “total” não no sentido de que cada homem é tão mau quanto poderia ser, mas porque toda a pessoa — mente, vontade, afeições — está corrompida, impossibilitada de buscar, amar, obedecer ou sequer desejar a Deus de modo verdadeiro sem a ação soberana de Sua graça.

Base bíblica:

Gn 2.16-17; Gn 6.5; Gn 8.21; 1 Rs 8.46; Sl 14.1-3; Sl 51.5; Sl 53.1-6; Sl 58.3; Sl 143.2; Is 64.6; Jr 13.23; Jr 17.9; Mt 19.21; Jo 5.40; Jo 8.44; Rm 3.9-20; Rm 5.12,18; Rm 7.14-25; 1 Co 2.14; 1 Co 15.22; Ef 2.1-3; Cl 2.13; Tg 3.2; 1 Jo 1.8-10; 1 Jo 5.19


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U – Eleição Incondicional

Antes da fundação do mundo, Deus, segundo o beneplácito de Sua vontade, escolheu soberanamente, em Cristo, todos aqueles que haveriam de ser salvos. Essa escolha não se baseou em previsões de obras, méritos ou fé futura, mas unicamente em Sua graça, misericórdia e prazer soberano, visando manifestar Sua glória e bondade.

Base bíblica:

1 Rs 8.53; Sl 65.4; Sl 78.67-70; Pv 16.4; Is 41.8-9; Mt 24.22,31; Mc 4.11-12; Jo 8.46-47; Jo 13.18; Jo 15.16-19; Jo 17.2-24; At 13.48; Rm 8.28-30; Rm 9.6-24; Rm 11.1-10; Ef 1.3-12; 1 Ts 1.4-5; 1 Ts 5.9; 2 Ts 2.13; 2 Tm 1.9; 2 Tm 2.10; Tt 1.1-2; 1 Pe 1.1-2; 1 Pe 2.7-10; Jd 4; Ap 17.14


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L – Expiação Limitada

Também chamada de Redenção Particular ou Expiação Definida, ensina que a morte de Cristo teve como propósito efetivo salvar os eleitos. Embora Seu sacrifício seja de valor infinito e suficiente para todos, Ele morreu intencionalmente para resgatar, redimir e unir em um só corpo apenas aqueles que o Pai Lhe deu.

Base bíblica:

Is 53.11-12; Mt 1.21; Mt 20.28; Mt 26.28; Mc 14.24; Jo 3.16-18; Jo 10.11-15; Jo 11.51-52; Jo 15.13; Jo 17.9,20; At 18.9-10; At 20.28; Rm 4.25; Rm 5.8; Rm 8.32-34; 1 Co 2.12; Gl 2.20; Ef 5.2,25-27; Tt 2.13-14; Hb 2.10-14; Hb 5.9; Hb 9.28; Hb 10.10-14; 1 Jo 4.9; Ap 1.5; Ap 5.9

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I – Graça Irresistível

Apesar do nome, essa doutrina não nega que o homem naturalmente resiste a Deus (At 7.51). Ela afirma que, no chamado eficaz, o Espírito Santo soberanamente vence essa resistência interior, transformando corações de pedra em corações de carne. Assim, todos os que Deus chama eficazmente, vêm de fato a Cristo, pois Ele mesmo opera neles tanto o querer quanto o realizar.

Base bíblica:

Is 14.27; Ez 11.19; Ez 36.26; Mt 11.27; Jo 1.12-13; Jo 5.25; Jo 6.44-45; Jo 10.16,26-27; Jo 15.5; Lc 14.16-24; At 2.39; At 16.14; At 26.18; Rm 8.29-30; Rm 9.11-12; 1 Co 1.23-24; 2 Co 4.4-6; Gl 1.15; Ef 1.18-20; 2 Ts 2.13-14; 2 Tm 1.9; Tt 3.4-5; 2 Pe 2.9; 1 Pe 5.10; 2 Pe 1.3

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P – Perseverança dos Santos

Também chamada de Preservação dos Santos, Segurança Eterna ou Certeza da Salvação, essa doutrina ensina que todos os que verdadeiramente foram escolhidos, chamados e regenerados por Deus jamais se perderão. Eles podem tropeçar e pecar, mas são guardados pelo poder divino e hão de perseverar até o fim, pois Aquele que começou a boa obra é fiel para completá-la.

Base bíblica:

Dt 30.6; Ez 36.27; Jr 32.40; Jo 5.24; Jo 6.39-40; Jo 10.26-29; Jo 14.3; Jo 17.12; Rm 5.17; Rm 8.30-39; Rm 11.25-29; Rm 14.4; Rm 16.25; 1 Co 1.8-9; 1 Co 10.13; 2 Co 1.22; Fp 1.6; 2 Tm 1.12; Hb 6.17-20; Hb 10.14,23; Hb 13.20-21; 1 Pe 1.1-9; 1 Pe 5.10; 1 Jo 2.19; Jd 24

Essas doutrinas não são fruto de mera especulação teológica, mas refletem uma leitura coerente e reverente das Escrituras, em que Deus é exaltado como o autor soberano da salvação do início ao fim, e toda a glória Lhe pertence. Essa é a verdadeira essência das Doutrinas da Graça: afirmar, com alegria, que "dEle, por Ele e para Ele são todas as coisas" (Rm 11.36).


"Faça ou não faça. Tentativa não há."


Essa famosa frase do Yoda resume, de certa forma, muito do que chamamos de confiança. No universo de Star Wars, é confiança no poder da Força — uma crença de que existe algo invisível que controla tudo e que o usuário pode manipular.

Mas dentro de um contexto cristão, quando enfrentamos obstáculos, a verdadeira confiança está em crer que a Palavra de Deus cumprirá exatamente o que Ele prometeu. Não se trata apenas de mover objetos com a mente — algo que nossa imaginação cética facilmente associa a magia — mas de enfrentar e vencer qualquer adversidade: seja uma doença, o pecado, uma provação ou sofrimento.


Infelizmente, muitos arminianos costumam separar a fé da soberania absoluta de Deus, tratando-a como uma atitude independente, uma espécie de coragem ou decisão isolada do ser humano diante do problema. Já alguns calvinistas, por outro lado, caem em outro erro: pensam que talvez Deus não tenha decretado a vitória naquela situação específica — e por isso hesitam em crer de forma firme.

Ambas as posturas estão equivocadas. A nossa fé não deve se apoiar na vontade oculta de Deus (ou seja, no que Ele decretou secretamente), mas sim em Suas promessas reveladas. Quando Deus prometeu agir mediante a oração, ou quando disse que podemos falar algo pela fé e isso acontecerá, é nossa responsabilidade crer que assim será. Essa é a verdadeira fé: crer que Deus é fiel para cumprir o que Ele mesmo disse.

Portanto, como diz a frase:

"Faça ou não faça. Tentativa não há."

Na vida cristã, isso significa: creia de todo o coração nas promessas de Deus — ou simplesmente não creia. Não existe meio termo, porque fé verdadeira não é dúvida disfarçada; é certeza fundada na Palavra infalível do Deus soberano. 🙏📖✨

#Fé #Confiança #SoberaniaDeDeus #TeologiaReformada #StarWars #Pressuposicionalismo

quinta-feira, 3 de julho de 2025

Mansidão bíblica não é passar pano: a lição que ninguém quer ouvir

 


A Bíblia nos ordena a sermos mansos. Jesus mesmo diz para aprendermos dele, que é “manso e humilde de coração” (Mt 11.28-30). Maravilha. Só que, curiosamente, o mesmo Jesus que nos convida ao descanso com essa mansidão celestial também entrou no templo com um chicote, derrubou mesas, expulsou cambistas (Jo 2.14-17) e ainda fez questão de chamar uma elite religiosa inteira de “raça de víboras” (Mt 23.13-39). Para completar, Ele não economizou na repreensão aos discípulos incrédulos (Mt 16.14) e até mesmo a um respeitadíssimo mestre de Israel, Nicodemos, que levou um belo “Tu és mestre em Israel e não sabes estas coisas?” (Jo 3.10).

Jesus também apontou o dedo na cara dos fariseus e saduceus (Mt 12.29; 22.29), dizendo sem rodeios que eles não conheciam nem as Escrituras nem o poder de Deus. E aos discípulos no caminho de Emaús, que eram os “do time dele”, chamou de “nécios e tardios de coração” (Lc 24.25). Traduzindo para o português mais popular: “vocês são lerdos demais para crer”.

Ou seja, a mansidão que Jesus viveu não tem nada a ver com a mansidão de comercial de margarina que muitos cristãos acham que devem praticar hoje. Não é um convite à covardia ou à conivência com o erro, muito menos um “seja legal para ver se cola”. É uma postura humilde diante de Deus e firme contra o pecado, contra a heresia e contra a hipocrisia.

Veja Pedro, por exemplo. O mesmo apóstolo que manda que demos razão da esperança “com mansidão e temor” (1Pe 3.15-16) também não tremeu ao dizer ao povo judeu que eles mataram o Messias (At 2.36; 4.10). E quando tentou-se silenciá-lo, respondeu com a clássica: “Importa obedecer a Deus antes que aos homens” (At 5.29). Quando Simão tentou comprar o dom do Espírito Santo, Pedro não chamou para tomar um café e “dialogar”: lançou logo um “pereça tu com o teu dinheiro” (At 8.20-21).

E Paulo? Esse então escancara a falácia da “mansidão covarde” como ninguém. Chama Elimas de “filho do diabo” (At 13.10), diz aos gálatas que eles são “estúpidos” (Gl 3.1), e chega ao ponto de desejar que os falsos mestres que perturbavam os gálatas se castrassem (Gl 5.12). Tudo isso vindo do mesmo Paulo que escreveu belíssimas exortações sobre amor, paciência e mansidão. A lição é óbvia: Paulo era manso diante de Deus, mas um leão quando alguém deturpava o evangelho.

Paulo não fez campanha de diálogo inter-religioso, não chamou hereges para sentar num talk show gospel e “fazer pontes”. Pelo contrário: lançou uma maldição (anátema) sobre quem anunciasse outro evangelho (Gl 1.8-9). E antes que alguém diga “mas isso foi só naquela época”, o texto ainda repete duas vezes, só para deixar claro que não foi um surto de mau humor apostólico.

O que isso significa? Significa que um pecado, uma fraqueza ou um tropeço pode — e deve — ser exortado com paciência, mansidão e desejo sincero de restauração. Mas quando alguém prega heresia publicamente, o correto não é ficar em silêncio ou dar tapinha nas costas. É rechaçar publicamente, expor o falso mestre, chamá-lo pelo que é e, sim, humilhá-lo se for necessário, para proteger o rebanho.

Quem prefere a mansidão “fofa” e inofensiva, aquela que tolera tudo, na prática abraça um padrão humanista, não bíblico. É o mesmo padrão que não quer ofender ninguém — exceto a verdade. A Bíblia não manda ser manso com o diabo nem com falsos evangelhos; manda ser manso quando defendemos a fé e quando tratamos de restaurar irmãos que tropeçam (Gl 6.1). Mas quando a questão é defender a sã doutrina contra heresia, não existe “mansidão Nutella” que justifique calar-se.

Afinal, mansidão bíblica não é covardia — é coragem submissa a Deus. É estar disposto a virar a outra face por amor ao próximo, mas nunca virar as costas quando a verdade do evangelho está sendo atacada.

A tolerância com falsos ensinos é, de fato, a marca registrada dos que trocaram a verdade pela opinião pública e o temor de Deus pelo medo do cancelamento.

E como sempre, a Escritura segue dizendo: “Sede mansos, sim. Mas não sedes tolos.”