por Yuri Schein
O silêncio da floresta morta parecia pesar sobre cada passo do grupo. A névoa tênue serpenteava entre eles, tocando suas pernas e envolvendo troncos retorcidos em uma dança quase hipnótica. À medida que avançavam para o centro da clareira, o contraste era impressionante: a árvore negra se erguia como um monólito colossal, suas raízes espessas retorcidas pelo solo, absorvendo qualquer lampejo de luz que ousasse tocar sua casca escura. Um perfume ácido e metálico pairava no ar, lembrando o cheiro de ferro e folhas podres, e até os pássaros mortos na floresta pareciam se afastar em silêncio reverente.
— É… é ainda mais imensa de perto — murmurou Thomas, aproximando-se cauteloso, mãos sobre os montantes. — Não sinto… nada. Nenhum tipo de magia… nada.
Raella franziu o cenho, os dedos entrelaçados sobre a varinha. — Como pode ser? Os brincos estão… vibrando, mas não há nada óbvio, nenhum símbolo, nenhum artefato. — Ela respirou fundo, olhando para os outros. — Talvez este seja apenas um lugar morto… sem respostas.
Derek segurava os brincos com força, notando a vibração pulsante que ainda emanava do artefato. O arqueiro desviou o olhar da árvore, mas não pôde evitar sentir a culpa crescer dentro dele. — Eu… eu pensei que… — começou, mas Thomas interrompeu com um gesto irritado.
— Você pensou? Pensou, Derek? — Thomas estalou os dentes, a voz carregada de frustração. — Por causa disso, agora carregamos dois corpos em decomposição! Dois dos nossos amigos… mortos, e você acha que isso é só um “pensamento”?
— Isso não é culpa só minha! — rebateu Derek, a voz quase quebrando, — Jetto atacou, foi… ele se lançou sozinho! Eu só peguei os brincos depois!
Gillian respirou fundo, tentando acalmar os ânimos. — Todos nós perdemos pessoas hoje. Todos nós. Culpar Derek não vai trazer eles de volta. — Ela olhou para os corpos, parcialmente escondidos pela névoa. — Precisamos focar, não discutir.
Raella cerrou os dentes, mexendo em seu manto branco sujo de poeira e folhas secas. — Ele tem razão, Derek. Mas também não podemos ignorar que… os brincos são amaldiçoados. De alguma forma, eles nos trouxeram até aqui.
O silêncio voltou, pesado e carregado de frustração, até que a própria floresta pareceu prender a respiração. Um vento gélido percorreu a clareira, movendo as folhas secas em espirais imprevisíveis. As raízes da árvore negra se contorceram levemente, como se respirassem.
E então, surgiu a voz. Primeiro sussurro, quase imperceptível, carregado de poder antigo, reverberando em suas mentes e nos ossos:
— Vocês vieram… até mim…
O grupo se congelou, cada músculo tenso. O ar ficou ainda mais pesado, e a árvore negra, colossal e viva em sua imponência, parecia observar cada um deles. Derek apertou os brincos, sentindo o peso da culpa e do mistério, enquanto Thomas erguia os montantes, pronto para reagir. Gillian avançou um passo à frente, tentando compreender de onde vinha a voz, mas não havia movimento além da árvore. Raella ergueu a varinha, e o brilho mágico começou a envolver seus dedos, pronta para qualquer ameaça.
O vento cessou abruptamente, e a clareira mergulhou em um silêncio absoluto, como se o mundo inteiro aguardasse a reação do grupo diante da entidade que acabara de se revelar.
E ali, o capítulo terminava, deixando o grupo em pé, assustado e ansioso, diante de uma árvore negra que agora claramente possuía consciência e poder, prometendo revelar ou desafiar segredos que eles ainda não estavam prontos para compreender.
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