por Yuri Schein
O grupo avançava com cautela, cada passo ecoando levemente no interior da árvore negra. O ar estava carregado de energia, quase palpável, e uma névoa verde surgia entre as raízes pendentes, refletindo a luz difusa das folhas negras que pulsavam como veias vivas. Cada movimento despertava sussurros, vozes impossíveis de localizar, como se a própria árvore estivesse falando por milhares de pequenos espíritos que habitavam suas raízes e galhos.
— Agora, o teste final — anunciou a voz do Ent, reverberando com peso ancestral, cada sílaba como um trovão contido — será a prova de seus corações.
Antes deles, o chão se transformou em espelhos vivos, refletindo cada um de forma exagerada e distorcida: Gillian se via com olhos que refletiam apenas medo; Raella, em chamas de dor e culpa; Derek, em uma figura carregada de avareza e dúvida; Ikarus, com armadura quebrada e espada empenada, incapaz de se mover. Os reflexos avançavam, sussurrando acusações e promessas, distorcendo memórias e desejos. Cada passo que o grupo dava parecia desmoronar o chão de espelhos, como se a árvore estivesse testando não só sua coragem, mas também sua consciência.
— O teste não é físico — continuou o Ent — é a essência de vocês que será julgada.
Uma rajada de vento percorreu a câmara, carregando imagens de tudo o que cada um havia feito de errado, cada escolha egoísta ou impulsiva, amplificando seus arrependimentos. Derek, que havia pego os brincos de Valeth, viu o objeto flutuando diante dele, brilhando com uma luz sombria. Mas, ao invés de cobiça, sentiu apenas hesitação e respeito. O Ent observava, silencioso, percebendo que Derek passara no teste da tentação.
Para os demais, no entanto, a árvore intensificou o desafio. Raella sentiu a culpa de sua magia instável criando destruição em locais que ela mal conhecia; Ikarus encarou imagens de falhas, amigos perdidos e decisões que poderiam ter custado vidas; Gillian se viu confrontada com memórias de arrogância e orgulho que ameaçavam quebrar sua determinação.
As raízes se agitavam, como mãos vivas prontas para punir qualquer deslize. Folhas negras giravam ao redor do grupo, formando redemoinhos que isolavam cada um em sua própria ilusão. A clareira dentro da árvore parecia infinitamente maior do que antes, suas dimensões distorcidas e maleáveis, testando a percepção e a paciência.
— Só juntos poderão superar — rugiu a voz do Ent — o que está diante de vocês não é apenas medo, mas o reflexo de sua própria fraqueza.
Gillian respirou fundo, cerrando os punhos. Raella conjurou uma esfera de luz dourada, concentrando-se não em atacar, mas em iluminar as sombras ao redor de cada companheiro. Ikarus avançou, segurando firmemente a mão de Derek, guiando-o pela névoa e pelos reflexos. O grupo percebeu que, ao unir forças, os espelhos começaram a se quebrar e desaparecer, revelando o chão sólido novamente. Cada passo coletivo dissolvia mais das ilusões, como se a árvore reagisse à sua cooperação e não à força individual.
Então, uma ponte de raízes negras ergueu-se diante deles, conduzindo a um pequeno altar natural no centro da clareira interna. No altar, os brincos de Valeth flutuavam, pulsando com uma energia que só Derek parecia sentir sem medo ou tentação.
— Vocês foram testados — disse o Ent, a voz agora suave, mas carregada de autoridade — Derek mostrou pureza diante da tentação e passou. Vocês, demais, foram testados pelo medo, pela dúvida e pelo orgulho. A Árvore Negra observa, ensina e julga. Nem todos passaram, mas todos aprenderam o peso de suas escolhas.
O grupo se reuniu em silêncio, exausto mas aliviado, sabendo que a Árvore Negra não era inimiga, mas guardiã. E então, o Ent adicionou uma última revelação, sua voz agora ecoando como o sussurro de mil folhas:
— O brinco que vocês possuem, Derek, carrega mais do que magia; é um teste de cobiça, de caráter e de pureza. A árvore escolheu não punir, mas ensinar. E lembrem-se: a floresta guarda segredos que mesmo os anos não revelam.
O grupo olhou para os brincos, a luz verde refletindo em seus rostos, sabendo que algo antigo e poderoso estava em suas mãos, mas sem compreender ainda o verdadeiro alcance do objeto.
E ali, na penumbra do coração da Árvore Negra, o grupo percebeu que sua jornada estava apenas começando, que os testes do Ent eram só o primeiro de muitos desafios que moldariam não apenas suas habilidades, mas suas almas.
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