domingo, 14 de setembro de 2025

Ad’Heim: O Teste da Clareira Negra

 


por Yuri Schein 

O silêncio tomou conta da clareira, denso como se o ar tivesse se condensado em sombra e expectativa. O grupo permaneceu imóvel, os olhos fixos no tronco colossal da árvore negra, agora pulsando com uma energia que parecia consciente, avaliando cada batida de coração, cada hesitação, cada intenção oculta. Raella apertava levemente o punho, sentindo o poder do Ent vibrar nos galhos acima, e Thomas apoiava-se nos montantes, consciente de que qualquer movimento brusco poderia ser interpretado como ameaça.

— Vocês temem minha presença — a voz ecoou, grave, quase musical na cadência da floresta. — Temem que eu possa punir, que possa extinguir suas vidas por atravessarem meus domínios.

Derek engoliu em seco, os brincos de Valeth ainda em sua posse. O frio na espinha não vinha apenas da ameaça implícita do Ent, mas também da consciência de que o artefato carregava uma maldição desconhecida. Cada um dos membros do grupo olhou para ele, e o silêncio entre eles tornou-se quase sufocante, carregado de tensão e de uma mistura de medo e curiosidade.

— Vocês se perguntam — continuou o Ent — se os objetos que carregam trazem destruição ou aprendizado. Cada artefato tem sua própria essência, sua própria intenção, e aqueles que ousam tocá-los devem mostrar algo além da força ou da bravura.

Raella franziu o cenho, inclinando-se levemente, intrigada. — Você está dizendo que Derek foi testado… pelos brincos? — perguntou, a voz carregada de cautela.

O Ent inclinou levemente seus galhos, projetando sombras que se entrelaçavam no chão, formando padrões que lembravam olhos ancestrais e símbolos arcanos. — Sim. A maldição não procurava apenas causar dor. Procurava cobiça, egoísmo, vaidade e descontrole. Derek passou no teste que nem sequer sabiam que estava ocorrendo. Não pelos outros, mas por ele mesmo.

Thomas cruzou os braços, tentando compreender. — E o resto de nós? — questionou, a tensão em cada sílaba. — Também fomos testados?

— Vocês — respondeu o Ent, a voz vibrando em cada raiz, cada galho — foram observados. Mas não testados. Ainda. O teste foi para ele, para medir sua integridade frente à cobiça e ao desejo de possuir algo que não compreende. E ele passou. Por isso, decidi conversar com vocês. Por enquanto, minha intenção não é punir, mas ensinar, orientar… e compreender aqueles que se aproximam de minhas raízes com coração verdadeiro.

O grupo permaneceu em silêncio, o ar carregado de alívio contido, mas também de um medo cauteloso. O Ent não se moveu, não demonstrou alegria nem hostilidade; apenas observava, como se cada sombra, cada folha caída, cada suspiro do vento estivesse sendo interpretado. A clareira parecia menor e maior ao mesmo tempo, viva e ancestral, carregada de memórias que eles sequer podiam começar a imaginar.

— Mas saibam — concluiu o Ent, a voz agora baixa, profunda e reverberante como a própria terra — este é apenas o começo. A coragem, a disciplina e a integridade que demonstraram aqui serão exigidas novamente. E aqueles que falharem… não terão segunda chance.

O vento voltou a soprar levemente entre os galhos negros, carregando o aroma úmido da terra e das folhas mortas, enquanto a luz filtrava-se de forma difusa pelo topo da copa, iluminando rostos tensos, suados e exaustos. Derek segurou os brincos com mais firmeza, consciente de que havia sobrevivido a algo maior do que qualquer batalha física.

E assim, na penumbra da clareira negra, diante do Ent, primeiro filho da Dríade, o grupo percebeu que haviam passado por seu primeiro teste invisível, mas que a floresta ainda tinha muito a revelar — e que nem todos os segredos se desvelariam sem esforço, coragem e, acima de tudo, humildade.

O silêncio tomou novamente a clareira, pesado e expectante. O Ent permaneceu imóvel, suas raízes levemente pulsando, enquanto os ventos carregavam um presságio sutil de que aquela conversa era apenas o primeiro passo de algo muito maior.

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