Por Yuri Schein
É curioso observar como alguns reformados escolásticos se apropriam do termo “reformado” enquanto sustentam, na prática, uma interpretação aristotélica podre, carregada de epistemologia fracassada, tal como a da Confissão de Westminster. Tudo isso para tentar salvar a responsabilidade humana. Presumem, de maneira arbitrária, que responsabilidade exige causalidade eficaz da criatura — algo que simplesmente não existe em nenhum lugar da Bíblia.
Tentam também proteger a metafísica bíblica de um suposto panteísmo. Para eles, se algo não possui causalidade eficaz, mas apenas aparente — ou seja, ocorre por ocasião divina — então não seria real. Essa preocupação é fruto de um raciocínio aristotélico: Aristóteles viu pedras rolando, observou o movimento dos astros, e inferiu que descrevendo os eventos físicos poderia alcançar verdades metafísicas. Obviamente, caiu na indução, e, pior, tentou sistematizar a realidade a partir da percepção sensorial, esquecendo-se do Deus que age soberanamente sobre todas as coisas.
Há ainda o esforço de livrar Deus de ser o autor do pecado, como se isso fosse um problema. A Escritura é clara: Deus causa a natureza (Rm 11.32), os pensamentos (Ap 17.17) e os atos malignos dos homens (At 4.27-28), bem como todas as coisas (Ef 1.11). Não há contradição nisso. É como aquele homem que cortou o dedo após ser picado por uma cobra, acreditando que a prática o protegeria — e ensinou sua aldeia a fazer o mesmo. Assim surgiu uma tradição tribal. Da mesma forma, a tradição reformada, ao abraçar o lixo tomista-aristotélico, criou um hábito hermenêutico que insiste em proteger a criatura e vilanizar o Criador.
Deus não queimou as mãos ao criar o Sol, não congelou os dedos ao causar frio ou vento, não se sujou ao fazer a lama. E, certamente, Ele não peca ao causar o pecado.
E é justamente essa necessidade de proteger Deus de Suas próprias ações que faz a tradição reformada se contorcer em nós de sofismas. Dizem que se afirmarmos que Deus é autor do pecado, estaríamos violando Sua santidade. Mas a Escritura não nos dá essa opção: Ele é soberano sobre tudo, inclusive sobre o mal humano. Não há nada em Deus que seja causado por acaso; cada ato maligno dos homens serve ao Seu desígnio, ainda que os pecadores o cometam com plena intenção própria. A Bíblia nos apresenta um Deus que não apenas permite, mas causa e dirige, de forma misteriosa e absoluta, tudo o que ocorre — da queda de um rei à zombaria de um traidor, do vento que dispersa as nuvens à mão que trai.
E o mais irônico é que, enquanto se debatem sobre causalidade eficaz versus ocasião divina, muitos escolásticos reformados continuam agarrados à falsa lógica aristotélica, tentando construir sistemas onde a criatura é quase autônoma, mas sem perceber que cada pedra, cada respiração, cada pensamento é sustentado por Deus. É como se quisessem salvar a honra da criatura e, ao mesmo tempo, preservar a grandeza do Criador — uma equação impossível se o ponto de partida é a filosofia grega e não a revelação.
O resultado? Um cristianismo epistemologicamente deformado, que teme chamar pecado de pecado quando provocado por Deus, que mede responsabilidade humana por padrões que a Bíblia nunca estabeleceu, e que vê a tradição reformada como um relicário de Aristóteles e Tomás de Aquino, em vez de uma contínua aplicação do ocasionalismo calvinista. A consequência é previsível: gera-se confusão doutrinária, hipocrisia moral e uma necessidade constante de contorcer a Escritura para se encaixar em categorias humanas.
Mas a verdade permanece inalterada: Deus causa todas as coisas, e todas as coisas são boas e santas em Seu desígnio, mesmo quando incluem o pecado humano. A responsabilidade do homem não provém de causalidade eficaz, mas da experiência de agir e ser julgado dentro do quadro que Deus estabelece. O vento frio de um dia de inverno, a serpente que morde, a pedra que rola — nada escapa do controle soberano de Deus. E enquanto alguns tentam salvar o homem de sua própria dependência, nós nos lembramos da simplicidade e da contundência das Escrituras: Deus é o Autor, Ele faz tudo, e nada é por acaso.
Para ilustrar melhor, podemos recorrer à analogia do Dramaturgo. Imagine Deus como um autor soberano de uma grande peça teatral. Cada personagem tem suas falas, suas escolhas aparentes, suas decisões trágicas ou heróicas — mas tudo ocorre dentro do roteiro perfeito que o dramaturgo escreveu. O rei que trai, o soldado que erra, a mulher que chora, o profeta que clama — cada ação humana, por mais que pareça espontânea, é como a fala de um ator no palco: guiada, determinada e usada para expressar o enredo que só o autor conhece em sua totalidade.
Alguns escolásticos reformados tremem diante dessa analogia, porque temem que, se aceitarem que Deus é o Dramaturgo absoluto, Ele seria “responsável pelo mal”. Mas a peça é clara: o dramaturgo não comete pecado ao fazer seu personagem pecar. Ele escreve o enredo com toda soberania, dirige as ações, controla o cenário, mas não é condenado pelo que o ator faz no palco. Do mesmo modo, Deus causa o pecado humano sem que Sua santidade seja maculada. Ele sustenta a serpente, a tentação, o desejo pecaminoso, e ainda assim permanece puro, santo e justo.
A analogia se estende ainda mais: os espectadores da peça podem se indignar com certas ações, mas não percebem que todo movimento, toda tragédia e cada surpresa dramática fazem parte do plano do autor. Do mesmo modo, nós, mortais, vemos o pecado, a injustiça e o mal no mundo, mas cada ato é usado por Deus para demonstrar Sua glória, prover Sua justiça e cumprir Seus decretos. Assim, a responsabilidade humana existe na esfera do desempenho — cada ator cumpre seu papel, é julgado por suas ações —, mas a causalidade eficaz nunca pertenceu à criatura. Tudo é ocasião, tudo é dirigido, tudo é sustentado pelo Dramaturgo soberano.
Portanto, ao tentar proteger Deus de ser o autor do pecado, ou ao tentar imputar à criatura causalidade eficaz que a Bíblia jamais concede, a tradição reformada se torna como um dramaturgo amador tentando reescrever a peça enquanto o verdadeiro Autor já tem cada ato perfeitamente encenado. Deus não quebra o roteiro, não improvisa por medo da aparência do mal — Ele escreve, sustenta e executa com absoluta perfeição.
A analogia do Dramaturgo não é mera invenção filosófica ou jogo retórico; ela vem da própria Escritura. O salmista declara:
“Os teus olhos viram o meu embrião; e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinados, antes de qualquer deles existir” (Sl 139.16).
Aqui, Deus se revela como o Autor soberano de toda história humana. Cada vida, cada ato, cada pensamento, já estava inscrito em Seu livro antes mesmo de ocorrer. Wayne Grudem, em sua Teologia Sistemática, recorre a essa analogia para explicar como Deus pode ser absolutamente soberano sobre todas as coisas, incluindo o pecado, sem que Sua santidade seja manchada. Vincent Cheung, em sua defesa do ocasionalismo calvinista, também utiliza a imagem do Dramaturgo para mostrar que a criatura atua dentro de um cenário totalmente sustentado pelo Autor.
O que aprendemos com essa analogia é fundamental: mesmo que a criatura seja, de algum modo, uma causa ontológica — capaz de realizar ações reais dentro do mundo criado — ela jamais pode concorrer com o Autor da obra. O dramaturgo transcende completamente o ator, controlando cada linha do roteiro, cada gesto, cada emoção. Nenhum ator pode alterar a peça, e nenhum ser criado pode alterar o plano divino. A criatura age, mas tudo o que faz é simultaneamente ocasionado e sustentado pelo Autor soberano.
Portanto, a tentativa de alguns reformados escolásticos de atribuir à criatura uma causalidade eficaz é, à luz da Escritura, uma confusão trágica. O homem é responsável por suas ações na esfera do desempenho — como o ator que cumpre seu papel e responde por ele — mas jamais desafia o Autor da peça. Deus permanece absoluto, soberano, transcendente, enquanto a criatura, por mais real e ontologicamente ativa que seja, age somente dentro da obra que Ele escreveu e dirige.
Essa compreensão nos liberta de sofismas aristotélicos, de induções falaciosas e de medos infundados sobre o caráter de Deus. Aceitar o ocasionalismo divino e o modelo do Dramaturgo é abraçar a Escritura em sua simplicidade e majestade: Deus causa todas as coisas, sustenta todas as ações, permite que a criatura aja e, ao mesmo tempo, permanece o Autor absoluto, santo, justo e incontestável.
Vejamos, então, como essa analogia se manifesta na própria história bíblica. Tomemos Davi, por exemplo. Ele cometeu adultério com Bate-Seba e tramou a morte de Urias. A lógica humana — ou aristotélica — poderia concluir que, por causa do pecado, Deus estaria sendo injusto ou limitado. Mas a Escritura revela que mesmo esses atos, que Davi cometeu com plena intenção própria, foram usados por Deus para cumprir Seus propósitos: a linhagem messiânica, o julgamento sobre Israel e a demonstração de Sua misericórdia. O pecado humano, no contexto do roteiro divino, não contradiz a santidade do Autor; ao contrário, mostra a complexidade do plano soberano que Ele dirige.
Outro exemplo é José no Egito. Seus irmãos o venderam como escravo por inveja. Um ato maligno, claramente imputável a eles. No entanto, José reconhece mais tarde:
“Vós bem intentastes o mal contra mim, mas Deus o tornou em bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar muita gente com vida” (Gn 50.20).
José é o ator; seus irmãos são atores secundários; e Deus é o Dramaturgo. Cada ação humana — por mais corrupta que pareça — não escapa do controle do Autor. O pecado humano ocorre dentro do enredo que Ele já escreveu e usa até os erros humanos para glorificar Seu nome.
Finalmente, consideremos a Paixão de Cristo. Judas traiu Jesus, os soldados crucificaram o Salvador, e a multidão clamou pela Sua morte. Nenhum deles poderia imaginar o plano completo, mas tudo se cumpriu exatamente como o Dramaturgo divino escreveu. Cristo mesmo declara:
“Mas estas coisas aconteceram para que se cumprisse a Escritura” (Jo 18.32).
O ponto é cristalino: mesmo que a criatura seja uma causa ontológica — capaz de agir realmente no mundo — jamais concorre com o Autor da obra. Ele a transcende completamente. A responsabilidade humana permanece, mas sua ação não desafia nem limita a soberania do Autor. O homem age, o pecado ocorre, mas tudo dentro do roteiro perfeito que Deus escreveu.
Portanto, a tentativa de alguns reformados de atribuir causalidade eficaz à criatura ou de proteger Deus do pecado é, à luz da Escritura, inútil e até ridícula. O ocaso do aristotelismo, do tomismo e da indução falaciosa se revela: a Escritura não precisa de sofismas para sustentar a soberania divina. Deus causa todas as coisas, sustenta todas as ações, permite que a criatura aja, e, mesmo assim, permanece o Autor absoluto, santo e justo. A analogia do Dramaturgo nos ensina que, por mais que os homens sejam reais e atuem, eles nunca podem concorrer com Aquele que escreve, sustenta e dirige cada cena da grande obra que é o mundo.
Além de esclarecer a soberania divina sobre o pecado, a analogia do Dramaturgo nos leva a refletir sobre a epistemologia reformada. Muitos escolásticos, ao abraçarem Aristóteles, tentam fundar o conhecimento na percepção sensorial e na indução, como se observar o movimento de pedras ou astros pudesse revelar verdades metafísicas. Mas a Escritura, aliada ao ocasionalismo calvinista, nos mostra que todo conhecimento verdadeiro provém de Deus e de Sua revelação. Assim como o dramaturgo sustenta cada ação no palco, Deus sustenta cada ato de aprendizado e percepção: os sentidos não geram conhecimento por si mesmos; eles são a ocasião para que Deus nos faça lembrar, compreender ou descobrir verdades que já existem na Sua mente.
O erro de muitos reformados escolásticos é imaginar que a criatura, por meio de causalidade eficaz, poderia conhecer ou mesmo influenciar a realidade metafísica. É a mesma confusão que vemos em sua tentativa de “salvar” a responsabilidade humana: se a criatura tivesse poder causal real, poderia, de algum modo, concorrer com o Autor. Mas a analogia do Dramaturgo nos ensina que isso é impossível. A criatura pode agir, pensar e até pecar, mas sua ação, seu pensamento, sua decisão são todos sustentados e dirigidos por Deus. Nenhuma epistemologia humana consegue ultrapassar a mente do Autor, nem sequer interferir na obra que Ele escreve.
Esse entendimento corrige também a tentação de muitos teólogos em evitar que Deus seja visto como autor do mal. É um medo derivado de uma epistemologia aristotélica: se Deus causa tudo, então a criatura perderia autonomia e responsabilidade, e, pior ainda, Ele seria acusado de injustiça. Mas a Escritura não nos dá essa liberdade de reescrever a narrativa. Deus é o Autor soberano, e mesmo que a criatura aja com liberdade aparente, toda ação é ocasião do seu poder. O pecado humano existe, a responsabilidade existe, mas o Autor permanece acima e além de tudo, como o dramaturgo que observa, dirige e sustenta cada cena do palco.
Portanto, ao aceitarmos o ocasionalismo e a analogia do Dramaturgo, compreendemos simultaneamente: a soberania de Deus sobre o pecado, a responsabilidade da criatura sem causalidade eficaz e a impossibilidade de qualquer epistemologia humana rivalizar com a mente do Criador. Tudo converge para uma única verdade inescapável: Deus escreve, sustenta e dirige a obra inteira, enquanto a criatura desempenha seu papel dentro do roteiro que Ele mesmo estabeleceu.
Outro ponto que merece atenção é a constante preocupação de muitos reformados escolásticos em “proteger” Deus do suposto panteísmo. Para eles, se algo não possui causalidade própria, mas é apenas ocasião do agir divino, então, supostamente, essa coisa não seria real, e Deus se tornaria indistinto da criação. Essa é mais uma distorção aristotélico-tomista. A Escritura e a analogia do Dramaturgo nos mostram exatamente o oposto: a criatura é real, ontologicamente existente, mas jamais compete com o Autor. O vento, a pedra, a serpente, o pecado humano — tudo é real, mas tudo é sustentado e dirigido por Deus.
O panteísmo imaginário surge do medo de reconhecer que Deus causa todas as coisas, inclusive o pecado. Alguns reformados escolásticos olham para a criação e pensam: “Se Deus causa isso, Ele está misturado com a criatura, e o mal seria Dele”. Mas a analogia do Dramaturgo dissolve esse medo. O dramaturgo controla e dirige cada ação, mas não se confunde com os atores; ele permanece transcendente, distinto de cada gesto no palco. Assim também Deus permanece perfeitamente santo, completamente transcendente e totalmente distinto de cada ação criada, mesmo quando Ele é a causa de todas elas.
Portanto, a analogia do Dramaturgo nos ensina algo crucial: a realidade criada é verdadeira e significativa, mas a causalidade ontológica da criatura nunca compete com o Autor da obra. A responsabilidade humana é preservada na esfera do desempenho, a realidade da criação é preservada, e a santidade de Deus permanece inalterada. O medo de panteísmo é, na verdade, um reflexo do aprisionamento filosófico na epistemologia aristotélica, incapaz de reconhecer a majestade do ocasionalismo bíblico.
Essa perspectiva também nos liberta de tentativas de humanizar Deus ou de reinterpretar Sua soberania para agradar o orgulho humano. Deus não precisa ser protegido do pecado que causa, nem de qualquer critério que os homens inventem para medir Sua justiça. Ele é o Autor absoluto, o Dramaturgo de toda realidade, e cada ato humano, cada evento natural, cada pensamento e cada pecado ocorre dentro do roteiro que Ele escreveu antes mesmo que existisse o primeiro ator no palco.
Assim, enquanto alguns escolásticos continuam a agarrar-se às distorções aristotélicas, a Escritura e o ocasionalismo nos permitem enxergar o cenário completo: Deus é soberano, transcendente, santo, e absolutamente autor de tudo — inclusive do pecado humano — sem jamais perder Sua glória ou santidade. A criatura age, mas só porque o Autor a sustenta, e nada do que existe na obra pode rivalizar ou concorrer com o Mestre da peça.
Ser reformado significa crer nos cinco solas e ser coerente com eles. Não se trata de nos tornarmos prostitutas teológicas, obedecendo cegamente a confissões de fé podres que misturam Aristóteles, Tomás de Aquino e sofismas escolásticos com uma suposta tradição reformada. A Reforma Protestante não existiu para criar uma submissão cega a documentos humanos; ela existiu para afirmar a Escritura como autoridade suprema e para nos libertar de interpretações humanas que corrompem a verdade revelada.
Interessantemente, a própria Confissão de Fé de Westminster contém uma declaração que funciona quase como um interruptor para desligar o credo quando necessário:
“Todos os sínodos ou concílios, desde os tempos dos Apóstolos, sejam gerais ou particulares, podem errar; e muitos erraram. Portanto, não devem ser transformados em regra de fé ou prática; mas devem ser usados como auxílio em ambas” (CFW 31.3).
Estamos nos concentrando na CFW porque ela é frequentemente criticada e idolatrada, como se devêssemos nos curvar a ela em lugar da Escritura. Mas várias outras confissões históricas contêm linguagem semelhante; por exemplo, os Trinta e Nove Artigos de Religião, no artigo 21, deixam claro que concílios e sínodos são auxiliares e não autoridade final.
Essa perspectiva é crucial para compreender o que significa ser verdadeiramente reformado. A coerência não está em repetir palavras de homens ou seguir documentos humanos como regras inquestionáveis. Está em alinhar toda a teologia, a epistemologia e a prática à soberania de Deus, à Escritura e aos cinco solas. Assim como a analogia do Dramaturgo nos ensina que a criatura atua dentro da obra do Autor sem jamais concorrer com Ele, a tradição reformada verdadeira deve atuar dentro do roteiro da Escritura, sem se prender a construções humanas defeituosas que buscam salvar a causalidade da criatura ou proteger Deus de Sua própria soberania.
Ser reformado é, portanto, manter a liberdade de reconhecer que confissões, concílios e sínodos são apenas auxiliares, enquanto a Escritura permanece o roteiro absoluto, a obra perfeita do Dramaturgo divino. Qualquer tentativa de idolatrar documentos humanos é apenas mais um eco do medo aristotélico de reconhecer o Autor como absoluto, transcendente e autor de tudo — inclusive do pecado humano. A verdadeira Reforma não nos escraviza a textos humanos; ela nos liberta para ver o mundo, a história e o pecado humano dentro do controle soberano do Deus que escreveu cada linha do roteiro antes mesmo que existisse o primeiro ator no palco.
Portanto, quando vemos reformados escolásticos se contorcendo para salvar a causalidade da criatura, temendo o “panteísmo” ou idolatrando confissões humanas, devemos lembrar o ponto central: ser reformado não é seguir cegamente documentos humanos; é ser coerente com os cinco solas e reconhecer que toda autoridade última pertence à Escritura.
A analogia do Dramaturgo nos ajuda a enxergar a farsa de qualquer tentativa de conciliar Aristóteles com Calvino. Deus é o Autor absoluto, sustentando cada ato, cada pensamento e até cada pecado humano, sem jamais pecar Ele mesmo. A criatura age, pensa, erra e até peca, mas sua ação nunca compete com o Autor. Idolatrar sínodos, concílios ou confissões como se fossem o roteiro final é como um ator tentando reescrever a peça enquanto o dramaturgo já decidiu cada linha. Ridículo, se não fosse trágico.
A Confissão de Fé de Westminster deixa isso claro: sínodos e concílios podem errar, e devem ser apenas auxiliares. A Escritura, e apenas ela, é a obra definitiva, o roteiro absoluto do Dramaturgo soberano...
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