sexta-feira, 5 de setembro de 2025

QUANDO LIVRE ARBÍTRIO VIRA GOBLIN DE PORÃO

 


por Yuri Schein

Um homem de 40 anos resolveu atualizar o manual do “como ser um inquilino indesejado” e foi morar no espaço rasteiro de uma casa no Oregon. Sim, aquele lugar onde nem o mofo gostaria de viver. O dono ouviu barulhos estranhos e pensou: “é um rato?”. Não, era um ser humano com cama, eletrônicos e até sistema elétrico improvisado, um verdadeiro Airbnb subterrâneo sem o menor constrangimento de não pagar aluguel. Quando a polícia chegou, descobriu também metanfetamina, porque, claro, nada é completo sem o tempero de Breaking Bad.

O que essa história nos diz? Primeiro, que a criatividade humana para a decadência não tem limites. Enquanto alguns tentam conquistar Marte, outros descobrem a América no porão alheio. Segundo, que a ideia de “viver escondido” não combina com luzes, eletrônicos e sons de boate saindo debaixo do chão. É como tentar assaltar banco com camisa fluorescente: a incompetência já grita antes do flagrante.

E há quem defenda a liberdade humana como se fosse um dogma absoluto. O "livre-arbítrio" levou esse sujeito a concluir que virar goblin de esgoto era um bom projeto de vida. Mas, na realidade, tudo não passa da velha lição bíblica: o coração do homem é fábrica de absurdos. Deus decreta, e o pecador executa mal o que já era ruim. O resultado? Mais uma notícia digna de rodapé, onde a miséria se fantasia de engenhosidade.

No fim, o dono da casa ganhou uma anedota para contar em festas, e o invasor, uma estadia paga pelo Estado: sem mofo, mas com grades. Justiça poética, ou melhor, irônica. Afinal, a liberdade humana não cria paraísos; no máximo, toca o fundo do porão.


quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Ad’Heim – Confronto com Laurent

 


por Yuri Schein 

O corredor se abriu em um grande salão escuro, iluminado apenas por velas negras presas às paredes de pedra. O ar tinha cheiro de ferro e magia antiga, carregado de energia sufocante. Laurent pairava acima do altar, Raella deitada sobre ele, a capa negra envolvendo seu corpo como se emanasse poder próprio. As duas Sucubus, Roxie e Penélope, observavam com olhares predatórios, prontas para intervir a qualquer instante.

Laurent, ainda em forma de morcego, notou algo que o deixou admirado: pequenos traços de magia que brilhavam sutilmente pelo corredor — linhas tênues que Raella havia lançado durante o voo, marcando discretamente o caminho para que o grupo pudesse encontrá-la. O Vampiro franziu a testa, impressionado com a astúcia da jovem.

O grupo chegou ao salão com cuidado. O coração de Ikarus batia acelerado, cada passo ecoando pela pedra, refletindo a tensão no ar. Thomas Walker mantinha os montantes erguidos, preparado para qualquer ataque, enquanto Gillian e Derek analisavam cada sombra. Jetto rosnava baixo, ciente da presença poderosa diante deles, mas Raella permanecia imóvel, dormindo sobre o altar, inconsciente.

— Fiquem atentos — sussurrou Ikarus, sentindo o peso da responsabilidade.

A batalha começou instantaneamente. Laurent desceu do teto, transformando-se em forma humana, suas asas negras batendo e espalhando um vento que quase derrubou Thomas. Ele avançou com velocidade sobrenatural, atacando Ikarus, que recuava tentando se esquivar, mas recebeu um golpe no braço esquerdo que o deixou dolorosamente ferido. Thomas Walker tentou intervir, mas uma de suas asas foi quebrada em um ataque direto do Vampiro.

Gillian, determinada, avançou com precisão cirúrgica, derrubando Roxie e Penélope com golpes bem calculados, enquanto Rickson atacava com furia, desferindo golpes fatais contra as Sucubus. O choque de poderes era intenso, e rapidamente três membros do grupo ficaram inconscientes: Derek, Jetto e Thomas Walker caíram sobre o chão de pedra, exaustos e feridos.

Rickson, com fúria, conseguiu matar ambas as Sucubus, mas foi gravemente ferido no processo, mal conseguindo se manter de pé. Laurent olhou para ele com desprezo, os olhos como chamas vermelhas refletindo raiva, e desferiu um golpe mortal, encerrando a vida de Rickson antes que pudesse reagir.

Ikarus, mesmo com o braço machucado, encarou Laurent com determinação. A espada erguida, ele recebeu uma sequência de golpes devastadores, cada impacto cravando dor em seus ossos, mas não recuou. O Vampiro riu, certo de que o golpe final estava próximo.

— Você é corajoso, humano… mas corajoso demais! — disse Laurent, preparando-se para o ataque final.

No instante em que o Vampiro se aproximou para acabar com Ikarus, ele girou as costas, abrindo uma brecha que permitiu a Ikarus concentrar toda sua energia. Lembrando-se dos ensinamentos de Ranur, ele pronunciou um encanto sagrado aprendido na cidade de Lenória Imperial. Uma chama branca pura emergiu de sua espada, envolvendo Ikarus e seu inimigo em luz intensa.

Com um grito de esforço e fé, Ikarus cravou a espada no coração do Vampiro. O choque de magia e força destruiu completamente Laurent. Uma explosão de luz branca consumiu o salão, iluminando cada parede, cada pedra, cada símbolo antigo. Quando a luz se dissipou, o corpo do Vampiro havia desaparecido, restando apenas silêncio e o eco da destruição.

Raella, ainda adormecida sobre o altar, parecia tranquila. O grupo, ferido e exausto, finalmente respirava aliviado. A caverna estava silenciosa, e a ameaça imediata havia sido neutralizada, mas todos sabiam que o caminho pela frente ainda era perigoso.

Ad’Heim – O Incubus e os Guardiões das Sombras

 


por Yuri Schein 

O corredor se estreitava e o ar ficava mais denso. Raios de luz quase inexistentes vinham de fendas no teto, mal iluminando as paredes cobertas de símbolos antigos e manchas de sangue negro. O grupo avançava cauteloso, cada passo ecoando, cada respiração pesada.

De repente, uma risada baixa e sedutora reverberou pela pedra. Uma figura surgiu das sombras: alto, musculoso, com pele bronzeada que brilhava sob a luz mortiça, olhos âmbar hipnotizantes e asas negras dobradas nas costas. Um Incubus. O ar parecia vibrar com sua presença; seu perfume enchia as narinas e provocava uma sensação de vertigem e atração perigosa.

— Vocês ousam adentrar meus domínios… — sua voz era como seda afiada. — Sentirei cada medo, cada desejo reprimido… antes de destruí-los.

O grupo se preparou: Ikarus empunhou a espada com firmeza, Thomas Walker ergueu os montantes em postura defensiva, Derek posicionou-se à distância com as flechas, Gillian ajustou as lâminas e Jetto rosnou, avançando em sua forma lupina.

O Incubus avançou, movimentando-se com velocidade sobrenatural. Suas garras afiadas arranhavam as paredes, espalhando faíscas de energia negra. Mortos vivos, atraídos pelo poder do Incubus, emergiam das sombras: esqueletos, ghouls e carniçais se juntaram à batalha, cercando o grupo.

— Cuidado! — gritou Ikarus, desviando de um golpe que teria rasgado seu torso. — Não podemos nos separar!

Thomas Walker girava os montantes com força brutal, cortando ossos e atingindo o Incubus, que recuava com um rugido. Sua aura sedutora tentava desestabilizar Derek, que precisou concentrar toda sua mente para disparar flechas certeiras, atingindo a perna do Incubus.

— Ele… é mais forte que qualquer criatura que já enfrentamos! — disse Derek, ofegante, enquanto recarregava suas flechas.

Gillian atacava com precisão cirúrgica, derrubando esqueletos que avançavam, cortando carniçais e desviando de ataques que poderiam esmagar seus pés. Jetto investia com ferocidade, cravando garras e mordidas nos ghouls, afastando-os do grupo.

— Ikarus, atrás de você! — gritou Raella… não, Raella ainda não estava presente! Foi Thomas quem percebeu um ghoul avançando pelas sombras e desviou Derek do perigo.

Enquanto o grupo lidava com os mortos vivos, o Incubus canalizava energia negra e lançou uma onda de sedução e magia sombria. Thomas Walker, com suas asas parcialmente abertas, ergueu-se e lançou um ataque de impacto direto, esmagando parcialmente o Incubus contra a parede da caverna. O Incubus gritou, ferido, mas continuava lutando.

— Derek! Agora! — Ikarus ordenou. Derek disparou uma série de flechas encantadas que perfuraram o peito do Incubus, enfraquecendo sua resistência.

Combinando esforços, Gillian e Jetto lançaram ataques precisos, desviando o Incubus e abrindo brechas. Finalmente, Thomas Walker ergueu seus montantes, girando-os em um golpe devastador que atingiu o Incubus com força total. A criatura caiu, ferida mortalmente, deixando para trás apenas sombras que rapidamente se dissiparam.

O grupo aproveitou o momento para eliminar os mortos vivos restantes, cada golpe calculado, cada ataque coordenado. Quando o último ghoul caiu, o silêncio voltou à caverna, pesado e ameaçador.

— Estamos perto… — disse Ikarus, examinando o corredor. — Posso sentir a presença dele.

— A magia é forte aqui… — acrescentou Gillian, observando símbolos arcanos gravados nas paredes. — Alguém… ou algo, nos espera adiante.

— Raella… — murmurou Jetto. — Ela está envolvida nisso, tenho certeza.

O grupo avançou com cautela, passos firmes mas silenciosos, chegando à bifurcação que levava ao grande salão. O ar estava carregado, e o som de um coração batendo, ou talvez de magia pulsante, parecia ecoar através da pedra. Eles se preparavam mentalmente, sabendo que dali em diante não encontrariam apenas mortos vivos, mas Laurent, o vampiro, e o destino de Raella.

Ad’Heim – Rastros nas Sombras da Caverna

 


por Yuri Schein 

O eco dos passos do grupo ressoava pelas paredes úmidas da caverna. Cada som era amplificado, cada pedra solta parecia anunciar sua presença aos mortos vivos. Ikarus liderava, a espada firme em mãos, os olhos atentos a qualquer movimento. Thomas Walker avançava com seus dois montantes, cada golpe desferido esmagando ossos e crânios, enquanto suas asas batiam em alertas súbitos, prontas para erguer o guerreiro em caso de armadilhas aéreas.

— Aqui! — exclamou Derek, apontando para arranhões recentes no chão de pedra. — Alguém passou por aqui recentemente… sangue fresco.

Gillian moveu-se silenciosa, quase deslizando sobre o piso molhado, cada passo calculado. Com um salto ágil, ela derrubou um carniçal que avançava por trás de um pilar, espetando-o com uma adaga antes que pudesse uivar.

— Bom trabalho! — disse Ikarus, ajustando o braço ferido, resultado do último combate. — Temos que manter a calma e seguir os rastros. Parece que ele… ou eles, estiveram por aqui recentemente.

Jetto farejou o ar, seus sentidos lupinos captando algo que ninguém mais poderia: o cheiro metálico do sangue e uma energia densa que impregnava a pedra.

— Ele está próximo… sinto cheiro de magia negra, e não é qualquer magia, é poderosa. — Disse ele, rosnando baixinho, enquanto golpeava outro esqueleto que surgira de uma sombra.

Ao virar uma curva estreita, o grupo se deparou com uma horda de esqueletos emergindo de uma fenda lateral. Thomas Walker avançou com um rugido, girando os montantes com força brutal. Cada golpe enviava ossos estilhaçando pelo chão. Derek disparava flechas com precisão, mirando nas articulações e crânios. Gillian atacava velozmente, cortando com lâminas e derrubando ossos que se erguiam novamente. Ikarus gritava ordens, coordenando o grupo.

— Jetto! Direita! — Ikarus apontou para um corredor estreito. — Bloqueie a passagem deles!

O lobisomem avançou, cravando garras em dois esqueletos simultaneamente, arrancando membros e abrindo espaço para o grupo avançar. Cada passo adiante deixava rastros de sangue e destruição, mas também mais evidências do caminho do vampiro: manchas de sangue negro, símbolos riscados nas paredes, arranhões de garras que pareciam rasgar a pedra.

— Ele quer que sigamos por aqui… — disse Derek, respirando pesadamente. — Está nos levando exatamente onde ele quer.

— Isso não é surpresa — respondeu Gillian, enxugando o sangue da lâmina. — Vampiros sempre jogam com vantagem. Precisamos ficar juntos e não perder o foco.

Conforme avançavam, perceberam que a caverna se tornava mais estreita e baixa. Raios de luz quase inexistentes vinham de pequenas fendas no teto, iluminando parcialmente os corredores. O ar estava pesado, carregado de magia negra. Cada sombra parecia se mover sozinha.

De repente, um fantasma surgiu, soltando um grito estridente. Raiva, ódio e fome emanavam dele. Thomas Walker girou em um salto, esmagando-o com os montantes, enquanto Derek disparava duas flechas que atravessaram sua essência espectral. Gillian saltou, atacando outro revenant que avançava pelo chão, fazendo-o desaparecer em um estalo de ossos. Ikarus sentiu um golpe rasgando seu braço esquerdo, mas não hesitou, empurrando o resto da horda com um ataque em linha. Jetto uivava e investia, derrubando os últimos esqueletos e carniçais.

— Precisamos avançar! — gritou Ikarus. — Estamos perto… posso sentir.

O grupo finalmente chegou a uma bifurcação: corredores estreitos que desciam ainda mais no coração da caverna. O silêncio caiu por um instante, pesado, quebrado apenas pelo som do ar respirado com dificuldade e o eco distante de algo se movendo mais adiante.

— Ele está perto… — murmurou Jetto, mostrando os dentes. — E sinto que Raella também está… de alguma forma ligada a tudo isso.

Todos olharam ao redor, percebendo a gravidade da situação. Cada passo os aproximava do chefe da masmorra, cada sombra poderia ser a última. A tensão era palpável, e mesmo feridos e exaustos, sabiam que não poderiam hesitar.

— Preparar-se — disse Ikarus, ajustando a postura. — Sei que ele está à frente. Não sabemos o que nos espera, mas precisamos continuar. E desta vez, não podemos errar.

O corredor adiante se estreitava ainda mais, mas sinais de sangue negro e símbolos antigos indicavam que algo muito poderoso os aguardava… o confronto com Laurent, o vampiro, estava cada vez mais próximo.

Ad’Heim: O Ritual do Vampiro

 


por Yuri Schein 

Raella estava deitada sobre o altar, o frio da pedra pressionando suas costas e o peso da mordaça silenciando qualquer tentativa de protesto. As correntes que a prendiam cintilavam à luz trêmula das velas, lançando sombras dançantes nas paredes úmidas da caverna. Roxie e Penélope se posicionavam de cada lado, imóveis, suas presenças emanando uma mistura de sedução e perigo. O ar estava carregado, quase sólido de tensão, mas Laurent se aproximou com passos silenciosos, sua capa negra esvoaçando como um espectro.

— Calma… — murmurou ele, sua voz baixa e hipnotizante, quase cantada. — Não lute contra o inevitável. Ouça-me, e sinta a verdade de minha história.

Raella sentiu seus olhos se fixarem nele, como se cada palavra fosse um fio invisível prendendo sua mente, e o coração acelerou de forma quase dolorosa. Laurent começou a falar, sua voz mesclando melancolia e autoridade, e cada detalhe parecia desenhar uma tapeçaria de dor e obsessão.

— Nasci há setecentos anos — começou ele — em uma vila no extremo sul de Lenória. Não havia recursos, nada que me sustentasse além da astúcia. Espigas roubadas, frutas escondidas, migalhas de pão das plantações dos ricos: foi assim que sobrevivi.

Ele descreveu a Lenória Imperial da época, dominada pelos elfos, sempre em guerra com orcs; humanos, vassalos dos elfos, vivendo à margem das grandes batalhas, aprendendo a arte da sobrevivência e da furtividade. Laurent falou de sua infância solitária, sem pai, sem mãe, vagando pelas ruas e bosques, até conseguir trabalhar para um cocheiro, ganhando pequenas moedas, aprendendo a observar e a esperar.

— Aos dezoito anos — continuou, sua voz carregada de nostalgia — conheci Valéria. Ela era minha vida. Olhos castanhos, cabelos castanhos, delicada como o vento que balança as folhas da floresta. Mas a nobreza a cercava, abençoada pelos elfos, protegida, inacessível para mim… ainda assim, nós fugimos.

Laurent descreveu a vida que ele e Valéria construíram: exilados na floresta encantada, três filhos, sobrevivendo com o que colhiam, uma vida simples e feliz. Mas a felicidade durou pouco. A Dríade, necessitando de homens para procriar, tentou encantá-lo. Ele resistiu, porque seu coração pertencia a Valéria, mas a criatura ficou enfurecida.

— Ela lançou um feitiço sobre a floresta… — disse Laurent, a voz baixa e pesada. — As árvores engoliram Valéria e nossas crianças. Suas consciências humanas foram aprisionadas, fundidas à floresta, mas suas almas… presas, trágicas, perdidas.

O silêncio caiu pesado. Raella sentia o horror e a tristeza na voz do vampiro, quase esquecendo sua própria situação. Laurent continuou:

— Fui encantado pela Dríade, vivendo anos em servidão, até que uma visão da minha esposa em uma árvore queimada quebrou a magia. E, ao fugir para os Montes Lendários, fui transformado em vampiro… um guardião de mortos vivos, uma sombra sobre qualquer incauto que adentrasse esta caverna. Mas agora, Raella… — sua voz baixou ainda mais — agora terei Valéria novamente.

Raella estremeceu, a mordaça prendendo seu grito. Ela estava aterrorizada, mas cada palavra dele carregava uma estranha coerência e paixão sombria que a deixava hipnotizada, um equilíbrio entre medo e fascínio impossível de romper naquele momento. Laurent aproximou-se do altar, traçando runas complexas sobre a pedra, símbolos antigos que brilhavam em vermelho profundo, enquanto Roxie e Penélope murmuravam encantamentos, mantendo a energia do ritual concentrada.

Ele colocou suas mãos sobre Raella, deslizando suavemente pela capa negra que agora cobria parte de seu corpo. A capa reagiu, emitindo um leve brilho que pulsava em sincronia com a respiração de Raella. Suas pálpebras começaram a pesar, e, sem que percebesse, o cansaço acumulado das batalhas, o medo, e o efeito hipnótico da história de Laurent a fizeram adormecer profundamente, entregue à magia da capa e ao ritual iminente.

Laurent recuou alguns passos, contemplando o altar, suas mãos ainda iluminadas pelas runas. As sucubus se moveram em círculos, ajustando a energia do ritual, mas sem tocar nela. O silêncio da caverna tornou-se absoluto, apenas interrompido pelo crepitar das velas e o sussurro das runas, prenunciando o que estava por vir. Raella estava agora vulnerável, adormecida, enquanto o vampiro finalizava os preparativos, o destino dela completamente nas mãos do amor sombrio e obsessivo de Laurent.

Ad’Heim: O Altar do Vampiro

 



 

Por Yuri Schein 

O vento cortava os corredores estreitos da caverna, mas para Raella, agora presa nos braços de Laurent, tudo parecia um borrão de cores e sons. A sensação de voar como um morcego, com o corpo leve e o ar rugindo nos ouvidos, era ao mesmo tempo vertiginosa e aterradora. Cada estalo de pedra ecoava enquanto desciam, as paredes estreitas passando tão rápido que mal podia distinguir cada rachadura ou estalactite.

O ar frio e úmido misturava-se com um perfume doce e intoxicante — aroma de flores sombrias e algo mais, algo perigoso e sedutor. Laurent voava com perfeição, cada batida de suas asas negra como a noite mantendo um controle sobrenatural da queda e da trajetória. Raella sentia o coração disparar, não apenas pelo medo, mas pela estranha sensação de impotência e fascínio diante daquele ser que a carregava. O mundo ao redor desapareceu; apenas o vento cortante e a respiração rápida preenchiam sua consciência.

Finalmente, alcançaram uma fenda na parte inferior da caverna, e Laurent mergulhou na escuridão. O impacto foi contido, quase imperceptível, pela magia que emanava dele. Raella abriu os olhos, e o cenário à sua frente fez com que um calafrio percorresse sua espinha: estavam em uma câmara subterrânea esculpida em pedra, as paredes cobertas de musgo e inscrições antigas. O ambiente lembrava uma casa antiga, mas com uma aura ritualística, como se cada pedra tivesse sido colocada para canalizar energia sombria.

No centro da sala, onde em uma casa comum estaria a mesa de jantar, havia agora um altar ritualístico. Pedras negras e cinzentas formavam a superfície, cobertas de símbolos arcanos gravados em ouro e vermelho. Vela após vela emitia uma luz oscilante, lançando sombras dançantes nas paredes, enquanto o cheiro de incenso misturado a ferro e cera queimava o ar.

Ao lado do altar, duas figuras femininas se moviam com graça letal. Sucubus, pensou Raella, e seu coração acelerou. Uma era Roxie, mais baixa, com curvas bem definidas, cabelo negro caindo em ondas sobre os ombros, olhos verdes e brilhantes, sorriso provocante e olhar que combinava malícia e sensualidade. A outra era Penélope, mais alta e esguia, com uma postura elegante e cruel, cabelos escuros presos em um coque solto, olhos dourados que pareciam observar cada reação de Raella com curiosidade.

Raella percebeu, à medida que as duas falavam, que uma chamava a outra pelo nome — Roxie riu de algo que Penélope dissera, e o eco de suas vozes preencheu a caverna com um som hipnotizante e ameaçador ao mesmo tempo. Elas se moviam com leveza, mas cada gesto tinha a intenção de controle e predador, avaliando Raella como se fosse um objeto de fascínio e perigo.

Laurent se afastou um pouco, segurando Raella com firmeza, e a voz dele soou como melodia sombria e hipnótica:

— Este é o meu domínio… meu altar. Aqui, nada que você conheceu antes vale. E agora, minha querida Valeria, você será a chave para trazer quem amo de volta.

Raella, amarrada e com a mordaça na boca, sentiu o pânico subir como fogo. Aquele momento era absoluto terror: o altar, a escuridão, as duas sucubus, a voz sedutora e mortal de Laurent — tudo combinava para esmagar sua coragem. Ela tentou gritar, mas nada saiu; apenas a respiração acelerada e o coração disparado denunciavam seu medo.

Penélope inclinou-se sobre o altar, passando os dedos pelos símbolos gravados, enquanto Roxie acariciava as correntes que prendiam Raella, mas disse algo que a gelou:

— Não podemos tocá-la… ainda. Ela é virgem. Somente ele, Laurent, poderá realizar o ritual. —

Raella engoliu em seco, impotente, seus olhos encontrando os de Laurent. Ele sorriu, sorriso frio e cruel, e a tensão na sala tornou-se quase palpável, como se o ar carregasse eletricidade. O destino de Raella parecia traçado naquele instante, e o grupo fora incapaz de intervir.

O silêncio caiu pesado, interrompido apenas pelo crepitar das velas, o eco distante da caverna e o murmúrio hipnótico das sucubus. Raella sabia que seria sacrificada para que a amada de Laurent voltasse, e que tudo o que poderia fazer era observar impotente, enquanto o vampiro determinava o próximo passo do ritual.

O cenário, a tensão e o perigo eram completos; a câmara subterrânea era um túmulo e um santuário ao mesmo tempo, e Raella estava no centro de tudo, refém da vontade de um dos mais antigos e poderosos vampiros de Ad’Heim.

Ad'Heim: O Vampiro da Masmorra

 


O cristal ainda vibrava suavemente na sala, suas ondas harmônicas se misturando ao silêncio pesado da caverna. O grupo tentava recompor o fôlego, segurando armas, ajustando bandagens e verificando poções. Mas a calmaria era apenas um prelúdio.

De repente, um sussurro de asas ecoou pelo salão. Pequenos morcegos começaram a surgir das fendas do teto, da escuridão absoluta que se estendia como um manto negro. Primeiro eram dezenas, depois centenas, e logo milhares de sombras aladas se uniram, girando em espiral, formando um redemoinho vivo de caos e agonia. O ar tornou-se denso, o cheiro de mofo e sangue impregnando cada fenda da caverna.

O grupo recuou, percebendo que algo monstruoso emergia daquele enxame. Então, a massa de morcegos se solidificou, se condensando em um corpo humanoide, alto, magro e elegante, com um manto negro esvoaçante, olhos vermelhos como brasas e dentes afiados que brilhavam sob a luz do cristal. A presença era tão intensa que o chão parecia tremer sob cada batida de suas asas sombrias. O Vampiro da Masmorra havia se materializado, sozinho, imponente e terrível.

Ele ergueu as mãos com movimentos calculados e lentos, e uma voz grave e fria preencheu o salão:

— Ah… intrusos. Vocês ousaram invadir meus domínios… meus salões de silêncio e sombra. Cada passo que deram aqui, cada centímetro percorrido, pertence agora a mim.

Ikarus apertou a espada com mais força, tentando romper o silêncio:

— Vocês têm algo a ver com os ataques dos mortos-vivos no mundo? Nós precisamos saber!

O vampiro deu um sorriso sombrio, um canto cruel que gelou a espinha do grupo:

— As criaturas que aqui se encontram… foram amaldiçoadas, presas para sempre neste lugar, incapazes de sair. Assim acontece em muitos outros lugares do mundo. Mas isso… é irrelevante. Porque este lugar… será também o túmulo de vocês.

A tensão explodiu. Thomas Walker avançou, erguendo os montantes, mas o vampiro ergueu a mão e com um gesto elegante, como se desafiasse o próprio espaço, desviou cada ataque com facilidade sobrenatural. Gillian conjurou rajadas de energia, enquanto Derek disparava flechas, mas parecia que cada esforço era inútil diante daquele ser, que dançava entre eles com agilidade sobrenatural, os olhos fixos em Raella.

O olhar do vampiro se deteve na capa negra que envolvia Raella, e um sorriso sutil, quase melancólico, curvou seus lábios pálidos:

— Vejo que você usa… Valeria. A capa de minha antiga amante. Fascinante…

— Eu… Valeria? — Raella murmurou, confusa, sem entender o peso daquelas palavras.

O vampiro aproximou-se com passos silenciosos, medidos, cada movimento carregado de elegância e ameaça. Sua voz agora ressoava como música sombria:

— Meu nome é Laurent. E você, garota de alma pura… está destinada a substituir Valeria. Apenas alguém de beleza e alma tão radiante quanto a dela pode empunhar a capa e sobreviver a seu poder.

Raella recuou, sentindo uma mistura de raiva e fascínio, e tentou atacar, mas o encanto de Laurent era irresistível. Suas mãos levantaram-se, e ao invés de se mover contra o Vampiro, ela olhou para o grupo com uma expressão vazia de controle. O feitiço de charme transformou sua intenção em algo perverso: a própria Raella voltou-se contra seus aliados, o corpo movendo-se como marionete dos caprichos do Vampiro.

— Raella! — gritou Ikarus, tentando deter a amiga, mas ela avançou em direção a ele com o cajado erguido, os olhos dela agora vermelhos com o brilho do feitiço.

Laurent sorriu com satisfação sombria, estendendo os braços para recebê-la:

— Venha, minha nova Valeria… deixe que eu a guie.

Antes que o grupo pudesse reagir, ele ergueu Raella nos braços, sua força sobre-humana impossibilitando qualquer resistência. Com um movimento rápido e elegante, transformou-se em um enxame de morcegos, envolvendo Raella, desaparecendo em um vórtice negro que se misturou à escuridão da caverna, levando-a para fora do alcance do grupo.

O silêncio caiu abruptamente, cortante e mortal, e a luz do cristal pulsava, revelando a expressão de choque e desespero de cada membro do grupo. Derek engoliu em seco, segurando a flecha firmemente, enquanto Thomas Walker batia os punhos nos montantes, respirando com dificuldade por causa da asa quebrada. Ikarus olhou para onde ela desaparecera, a raiva e o medo se misturando em seus olhos.

— Ela… ela foi… — sussurrou Gillian, a voz trêmula.

— Não vamos deixá-lo escapar. — disse Ikarus com firmeza, cerrando os dentes. — Ele nos tirou Raella… e vamos buscá-la.

Jetto rosnou, o instinto de lobisomem despertando com a presença do inimigo:

— Esse Laurent não vai conseguir se esconder. Ele nos deve muito mais do que apenas essa batalha.

O salão ecoava com os últimos suspiros da luta, enquanto o grupo se recomponha, conscientes de que a próxima fase de sua jornada seria uma caça mortal, caçada por um dos vampiros mais antigos e poderosos que Ad’Heim já conhecera. Cada um sentiu o peso do que fora perdido e a urgência de seguir adiante: Raella estava em perigo, e Laurent havia acabado de se tornar o inimigo que definiria o destino deles.


Ad'Heim: O Salão das Sombras

 


por Yuri Schein 

O grupo avançava pelo corredor úmido da caverna, o ar carregado de um odor fétido, quando a passagem se abriu para um salão imenso. O teto arqueava alto, com estalactites afiadas que pareciam garras de pedra, e a luz fraca que entrava pelas fendas na rocha iluminava apenas parcialmente o chão coberto de ossos e fragmentos de armaduras antigas. No centro, um Warg zumbi, maior que qualquer besta que já haviam enfrentado, rosnava com dentes apodrecidos. Por toda parte, morcegos atrozes batiam com asas cortantes, Revenants surgiam das sombras com lâminas corroídas, e espectros intangíveis flutuavam, seus olhos incandescentes fixos no grupo. Entre eles, criaturas das sombras serpentavam, deformando a escuridão.

A Batalha Começa

Ikarus avançou à frente, erguendo sua espada e tentando controlar a linha de ataque. Um Revenant atacou seu braço esquerdo, rasgando a armadura e deixando-o com uma ferida profunda, sangrando enquanto ele tentava manter a postura firme.

Thomas Walker saltou com asas abertas, brandindo um montante em cada mão. Com golpes largos, ele esmagou ossos e membros dos zumbis, mas durante uma investida do Warg zumbi, uma de suas asas foi quebrada, caindo parcialmente inutilizável, diminuindo sua mobilidade aérea.

Gillian tentou conjurar uma barreira para proteger o grupo, mas um espectro deslizou por baixo da magia e esmagou seu pé contra uma pedra, fazendo-a cambalear de dor. Ainda assim, com punhos de ferro, ela conjurava rajadas de energia mágica, destruindo morcegos e dissipando sombras que ameaçavam o grupo.

Raella enfrentava os seres intangíveis, lançando feitiços que atravessavam o espaço como chamas etéreas, mas cada conjuração drenava sua energia, e logo ela percebeu que não teria mais magia de cura disponível para manter todos vivos. Seu rosto se contraiu em concentração enquanto ela canalizava energia da capa, mantendo as entidades à distância.

Derek, com flechas precisas, mirava pontos vitais, derrubando Revenants com tiro atrás de tiro, enquanto tentava coordenar ataques com Thomas e Ikarus para não deixar brechas.

O Warg zumbi avançava com força descomunal, derrubando pedras e escombros. Thomas desviava parcialmente, golpeando com um montante, mas a criatura não se rendia. Gillian gritou ordens para afastarem os morcegos que atacavam por trás. Ikarus, apesar do braço ferido, bloqueava mordidas do Warg com o escudo, deixando a fera exausta. Raella lançou sua magia final, canalizando luz branca combinada com sombras da capa, atingindo simultaneamente os espectros e a forma do Warg, que tombou com um rugido apavorante.

Vitória e Consequências

O grupo respirava com dificuldade. Sangue cobria braços, pernas e rostos; respirações pesadas ecoavam pelo salão. O silêncio, entretanto, durou pouco. Entre os escombros da batalha, Raella descobriu um compartimento escondido contendo tesouros antigos e equipamentos enferrujados: moedas de prata e cobre, poções já gastas, uma adaga com lâmina negra e, no centro, um cristal translúcido, pulsando uma luz suave e emitindo um som harmônico que parecia cantar com a própria vida.

Ao tocar o cristal, todos sentiram feridas e fadigas desaparecerem, membros doloridos recuperarem a força, e o ar parecia mais leve ao redor deles. No entanto, o som contínuo ecoou pela caverna, um chamado profundo que reverberava pelas paredes de pedra. Jetto franziu o cenho, seu instinto de lobisomem captando a presença de algo muito maior e mais perigoso.

— Não… — murmurou Derek, colocando a mão sobre o cabo de sua flecha. — Esse som… não estamos sozinhos.

Raella segurou a capa com firmeza, olhos fixos no cristal.

— Acho… acho que atraímos o chefe da masmorra para cá.

O grupo se posicionou novamente, armas erguidas, magias prontas, cada um ciente de que a próxima batalha não seria apenas difícil — seria mortal. O som ecoava cada vez mais alto, e sombras enormes começaram a se formar nas paredes, como se a própria caverna respirasse.

Ikarus suspirou, ajustando a empunhadura da espada com o braço ferido:

— Todos preparados? Não podemos falhar… nem um passo em falso.

Gillian assentiu com dor, Thomas apertou os montantes, Derek esticou o arco, Jetto farejou o ar, e Raella segurou o cristal como um escudo contra o desconhecido. O coração de cada um batia mais rápido. O chefe da masmorra estava a caminho, e o grupo sabia que a caverna inteira logo se tornaria um campo de batalha devastador.


A Linguagem como Prisão: Laranja Mecânica e 1984

 


por Yuri Schein 

A literatura do século XX percebeu algo que a filosofia e a teologia já sabiam desde Gênesis 11: mexer na linguagem é mexer no homem. A torre de Babel não foi apenas um arranha-céu mal acabado; foi uma engenharia linguística frustrada por Deus. Em Laranja Mecânica, Burgess cria o nadsat como a língua tribal dos jovens violentos; em 1984, Orwell constrói a Novilíngua, o idioma totalitário que tenta abolir até a memória do pensamento. Ambos os casos revelam a mesma verdade: quem domina a linguagem, domina o mundo.

O Nadsat: a Babel dos delinquentes

Alex e sua gangue falam nadsat, uma mistura grotesca de russo, inglês deformado e invenções. É uma língua de gueto, um dialeto que só faz sentido dentro do círculo de violência juvenil. Se Deus confundiu a língua em Babel para dispersar os homens, Burgess mostra a confusão como aglutinadora: os jovens se unem pela sua incompreensibilidade.

O detalhe é que o nadsat não é só estético, mas teológico. Ele mostra o coração humano criando um universo verbal alternativo para justificar o pecado. Alex não estupra meninas; ele faz “ultraviolence”. O termo inventado funciona como véu, como eufemismo. Exatamente o que Isaías denuncia: “Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem chamam mal” (Is 5:20). A perversão linguística é a camuflagem do pecado.

E, ironicamente, o leitor é cúmplice: para entender o enredo, você precisa “aprender” essa língua. Burgess obriga o leitor a decodificar a maldade em termos simpáticos. Você, leitor, se torna um pouco Alex ao final do livro.

A Novilíngua: a Babel estatal

Se o nadsat nasce do submundo, a Novilíngua nasce do trono. Orwell entendeu que o poder não precisa apenas da polícia: precisa do dicionário. A Novilíngua é a tentativa estatal de amputar a mente humana pelo bisturi do vocabulário.

O objetivo é simples: reduzir palavras até o ponto em que seja impossível pensar contra o Partido. Liberdade some, resistência some, beleza some. Ficam só os blocos de Lego autorizados: bom, maisbom, duplimaisbom. O cérebro se torna infantilizado, incapaz de nuance.

Se o nadsat é a multiplicação de gírias, a Novilíngua é a castração do vocabulário. É a lógica inversa, mas com o mesmo efeito: a alienação. Orwell descreveu o anti-Gênesis: Deus cria o mundo pela palavra (“Haja luz”); o Partido destrói o mundo cortando a palavra.

Duas faces da mesma moeda

Eis o paradoxo: Alex e o Grande Irmão parecem opostos: anarquia juvenil contra ordem totalitária, mas ambos operam pelo mesmo princípio: aprisionar a mente via linguagem.

O nadsat transforma o mal em brincadeira, embrulha o pecado em celofane verbal.

A Novilíngua transforma a verdade em silêncio, elimina a própria possibilidade de dissidência.

Num caso, a linguagem serve ao hedonismo sem freio; no outro, ao autoritarismo absoluto. Ambos são frutos da mesma árvore de Babel: a tentativa humana de substituir a Palavra divina por uma palavra autônoma.

A Escritura nos mostra o oposto: a Palavra de Deus é libertadora, não manipuladora. “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17:17). O homem caído cria linguagens que prendem, distorcem e confundem; Deus cria linguagem que ilumina, salva e revela.

Burgess e Orwell, cada um à sua maneira, perceberam isso: a batalha não é apenas nas ruas ou nos palácios, mas no vocabulário. Ou falamos segundo Deus, ou seremos falados pelo diabo.


P1. Todo controle da linguagem é controle da mente.

P2. O nadsat e a Novilíngua controlam a linguagem.

Conclusão: Logo, o nadsat e a Novilíngua são estratégias de controle da mente.


P1. A Palavra de Deus liberta.

P2. O nadsat e a Novilíngua escravizam.

Conclusão: Portanto, apenas a Palavra de Deus é a linguagem 

verdadeira que rompe a prisão humana.




quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Ad’Heim: O Corredor do Grito

 


por Yuri Schein 

O grupo permaneceu alguns instantes em silêncio, escutando o eco distante na caverna. Um som cortou a tranquilidade: um grito agudo de uma garotinha, vindo de algum ponto adiante. Ikarus franziu a testa e, sem hesitar, apontou para o corredor do meio:

“Devemos ir por ali. Alguém precisa ajudá-la!”

Thomas Walker ajustou os montantes, suas asas se abrindo levemente. “Se há uma criança em perigo, não podemos ignorar. Mas fiquem atentos — algo me diz que não será fácil.”

O grupo avançou pelo corredor iluminado por pequenos raios de luz que atravessavam frestas no teto. O chão estava coberto de pedras soltas, e inscrições antigas em algumas paredes indicavam que aquele lugar já fora usado por magos ou aventureiros há muito tempo.

De repente, uma armadilha secreta se ativou: do teto, jatos de chamas irromperam com força. Jetto tentou desviar, mas uma das labaredas atingiu sua perna, queimando parte de sua armadura improvisada e causando dor intensa e ferimentos profundos. Ele caiu no chão, ofegante, uivando de dor.

Raella correu até ele, apoiando suas mãos sobre a ferida. “Fique quieto, Jetto! Eu vou curar você!” Murmurando encantamentos e movendo o cajado com precisão, uma luz verde envolveu a perna de Jetto, aliviando a dor e fechando parcialmente as queimaduras.

Mal o último resquício da magia se dissipou, um grupo de carniçais e ghouls emergiu das sombras, avançando com presas afiadas e garras sedentas de sangue. Os mortos-vivos tinham olhos famintos e movimentos rápidos, cercando o grupo.

Ikarus gritou instruções: “Formem o círculo! Protetores na frente, Raella e Derek atrás!”

Gillian saltou à frente, empunhando suas lâminas com agilidade incrível. Cada corte era preciso, derrubando ghouls com um movimento fluido. Ela se movia entre os mortos-vivos como uma sombra mortal, suas lâminas prateadas refletindo a luz das chamas ainda acesas nas paredes.

Thomas Walker empunhou os dois montantes, girando-os em movimentos largos, esmagando crânios e repelindo criaturas maiores que tentavam cercar o grupo. A força combinada de Ikarus e Derek, com flechas certeiras e golpes de espada, mantinha a linha de frente, enquanto Raella se movia agilmente curando ferimentos e reforçando a resistência do grupo.

Jetto, mesmo ferido, aproveitou a forma de lobisomem para atacar com garras e mordidas, derrubando alguns carniçais que tentavam flanquear o grupo.

Após uma batalha intensa, marcada por gritos, estalos de ossos e faíscas de magia, o grupo conseguiu vencer. Os últimos ghouls caíram, deixando um silêncio pesado na caverna.

Mas a vitória teve seu preço. Todos estavam exaustos e machucados: queimaduras superficiais, cortes profundos e hematomas cobriam os corpos. Raella havia gasto quase toda sua energia para curar Jetto, e as poções restantes foram distribuídas para reforçar a resistência de cada um.

Enquanto se recompunham, Ikarus olhou para o grupo, respirando pesadamente:

“Isso… foi por pouco. Precisamos ser mais cautelosos daqui em diante. A caverna não está apenas infestada… ela está viva de alguma forma.”

Gillian apenas assentiu, limpando o sangue de uma de suas lâminas: “Se continuar assim, teremos que racionar nossas poções. Não podemos desperdiçar nada.”

Thomas Walker guardou os montantes e esticou suas asas, olhando para a frente: “Se houver mais gritos… não podemos hesitar. Mas precisamos nos mover antes que outros deles nos encontrem.”

Raella segurou o cajado com força, respirando fundo: “Eu estou pronta. Mas talvez… a capa esteja me dando mais poder do que posso controlar. Precisamos ficar atentos.”

O grupo retomou a exploração do corredor, mais cauteloso, mas consciente de que a caverna guardava perigos cada vez maiores. A trilha de sangue e o cheiro de queimado deixavam claro que cada passo adiante seria uma luta constante pela sobrevivência.

Ad’Heim: A Trifurcação da Luz

 


por Yuri Schein 

O grupo finalmente chegou a uma trifurcação na caverna, onde três corredores se separavam em ângulos diferentes. Ao contrário do ambiente úmido e sombrio que haviam atravessado até então, raios de sol filtravam-se pelos buracos naturais no teto da caverna, iluminando parcialmente a área. Havia até um leve cheiro de terra seca e musgo, sinal de que aquela região havia sido menos tocada pelos mortos-vivos.

Ikarus olhou ao redor, avaliando a segurança do local. “Parece que… podemos respirar um pouco. Vamos aproveitar essa luz natural e descansar antes de continuar.”

Raella assentiu, segurando a capa com cuidado. “É bom ver o sol… mesmo que por pouco tempo. Faz tempo que não sentimos algo assim desde que entramos na floresta.”

O grupo se acomodou em um espaço relativamente plano. Poções foram distribuídas e consumidas, ferimentos tratados e energias restauradas. Thomas Walker ajustou suas asas e os montantes, relaxando levemente. Derek limpava e examinava suas flechas, enquanto Jetto permanecia alerta, farejando o ambiente mesmo em repouso.

Enquanto todos se acomodavam, Ikarus sentou-se próximo a Raella, observando a luz tocar o rosto dela. “Sabe… depois do que aconteceu com a bola de fogo, pensei que… você é muito mais poderosa do que imaginei. Mas também… você é corajosa, e isso é raro.”

Raella sorriu, levemente corada. “Obrigada, Ikarus. Mas… não quero que pense que sou fraca só por ser princesa. Eu posso lutar, mesmo com magia branca… e aparentemente… com magia negra involuntária também.”

Ikarus riu baixinho. “Bem… depois daquela explosão na floresta, isso nem passou pela minha cabeça.”

Os dois se olharam, um silêncio confortável pairando entre eles, quebrado apenas pelo som de passos leves de Jetto inspecionando a caverna e o leve farfalhar das asas de Thomas Walker.

Gillian, sentada próxima, percebeu o pequeno momento de aproximação e cruzou os braços, franzindo levemente o cenho. Ela murmurou: “Hmph… sempre a princesa atraindo atenção…”

Thomas Walker, percebendo o desconforto de Gillian, se aproximou, apoiando uma das mãos no ombro dela e disse com um sorriso leve: “Não fique assim, Gillian. Nos reinos de Lenória, é comum que homens nobres se casem com mais de uma mulher… não é algo estranho.”

Gillian corou instantaneamente, desviando o olhar e murmurando algo entre dentes, claramente sem saber se se sentia aliviada ou irritada. Thomas riu baixinho e voltou a ajustar suas armas, satisfeita com o efeito da observação.

Raella, ainda sentada próxima de Ikarus, olhou para ele e disse suavemente: “Obrigada por confiar em mim… mesmo depois do que aconteceu com a bola de fogo.”

Ikarus colocou a mão sobre a dela, um gesto simples, mas cheio de significados: “Sempre, Raella. Somos um grupo… e você faz parte dele.”

O restante do grupo observava a interação discretamente. Jetto farejava a entrada de um dos corredores, Thomas Walker repousava as asas e Derek guardava suas flechas, mantendo-se vigilante, mas aproveitando o momento de paz que, sabiam, seria passageiro.

O sol continuava a penetrar a caverna, banhando-os em uma luz inesperada e calorosa. Por algumas horas, o grupo conseguiu dormir e recuperar forças, mantendo uma guarda de revezamento. Cada um sabia que a noite traria perigos inimagináveis, mas por enquanto, a caverna parecia ter lhes concedido uma trégua.

Enquanto o descanso os envolvia, a trifurcação iluminada parecia quase mágica, um pequeno alívio no meio de um inferno de mortos-vivos.

Ad’Heim: O Sacrifício do Beholder

 


por Yuri Schein 

O grupo avançava lentamente pelo corredor estreito da caverna, ainda processando a estranheza da capa de Raella e o recente aparecimento do Beholder. As tochas iluminavam paredes cobertas de musgo, enquanto o eco de passos arrastados e gemidos ecoava por entre as pedras antigas.

De repente, das sombras mais profundas da caverna, um rugido coletivo soou. Uma nova horda de mortos-vivos surgiu, maior e mais diversa que a anterior: zumbis arrastando corpos deformados, esqueletos empunhando armas antigas, ghouls de aparência monstruosa com dentes afiados e braços alongados, e criaturas cujos olhos vazios refletiam um ódio antigo. O grupo se viu cercado, encurralado contra as paredes úmidas e frias.

“Não há como passar por aqui!” exclamou Derek, apontando a flecha para o mar de inimigos. “Se continuarmos, seremos esmagados!”

Thomas Walker bateu os montantes no chão, agitando suas asas em posição de ataque. “Precisamos de uma distração!”

Ikarus olhou em volta, analisando a situação. A única rota de fuga visível era um estreito corredor lateral à direita, parcialmente escondido por pedras e detritos. Mas atravessá-lo exigiria que o grupo resistisse ao ataque inicial da horda.

Raella, respirando fundo, tomou uma decisão drástica:

“Eu… vou usar o Beholder! Ele pode nos abrir caminho!”

O grupo olhou para ela, surpreso. Ikarus franziu o cenho: “Está certa disso? Ele pode ser instável!”

“Não temos escolha,” respondeu Raella com firmeza. “Confio que ele entenderá… ou morrerá tentando.”

Ela ergueu a mão, e uma luz azulada formou-se diante dela, evocando novamente o Beholder que antes havia desaparecido. Seus olhos flutuavam e, sem precisar de comando consciente, ele avançou para o meio da horda de mortos-vivos. Raios mágicos, feixes de energia e explosões de luz surgiam de seus olhos, atingindo zumbis, esqueletos e ghouls com precisão devastadora.

O grupo aproveitou a distração. Raella e Jetto lideraram a retirada pelo corredor estreito, enquanto Ikarus, Derek e Thomas protegiam a retaguarda, mantendo a horda contida o máximo que podiam.

Apesar do poder do Beholder, o inimigo era numeroso. A criatura mágica foi lentamente cercada, atacada por vários zumbis e ghouls ao mesmo tempo. Raios e magias voaram pelo ar, criando um espetáculo caótico de luz e sombra.

Finalmente, o Beholder foi destruído, explodindo em uma onda de energia que dissipou os últimos inimigos próximos e abriu o caminho final para o grupo. Raella, ofegante, observou o sacrifício da criatura, ciente de que aquele ato involuntário da capa lhes havia salvado a vida.

“Ele… fez isso por nós,” murmurou Gillian, impressionada com o poder e a determinação da magia envolvida.

Ikarus respirou fundo, apoiando-se contra a parede. “Bem… pelo menos estamos vivos. E a capa de Raella… definitivamente guarda segredos que ainda precisamos entender.”

O grupo atravessou o corredor estreito, reunindo forças, tratando ferimentos e refletindo sobre o preço do poder. O sacrifício do Beholder não seria esquecido, e agora eles estavam mais conscientes de que a caverna ainda guardava perigos muito maiores do que poderiam imaginar.

Ad’Heim: A Caverna dos Mortos-Vivos – O Despertar da Capa Mágica

 


por Yuri Schein 

O grupo avançou pela caverna, mantendo-se alerta após a última batalha. O local era úmido, com o eco de gotas d’água batendo nas pedras antigas, paredes cobertas por musgo e teias secas. No chão, pequenas poças refletiam a luz das tochas, enquanto pinturas antigas mostravam guerreiros e rituais esquecidos. Entre os destroços, encontraram algumas moedas de prata e cobre, uma espada enferrujada com uma esmeralda cravada na ponta e uma capa com capuz, evidentemente feita para um mago.

Raella, curiosa, vestiu a capa. Instantaneamente, sentiu-se mais ágil, mais alerta e com uma sensação de poder correndo pelo corpo. “Não sei o que esta capa faz, mas… sinto-me incrivelmente diferente”, disse, admirando o tecido que parecia brilhar levemente à luz da caverna.

Enquanto exploravam mais a sala, Jetto encontrou uma alavanca escondida atrás de uma pedra. Ao puxá-la, um estrondo ecoou pela caverna: uma porta secreta se abriu e dele surgiram diversos zumbis e esqueletos, avançando com braços rígidos e olhos vazios. O grupo rapidamente se afastou, preparando-se para a batalha.

Raella foi a primeira a reagir, canalizando sua magia. Com mãos firmes, conjurou raios de energia branca que curavam pequenos ferimentos do grupo ao mesmo tempo em que queimavam os inimigos mais fracos. Mas, quando tentou concentrar uma magia maior, a capa reagiu sozinha, e uma terrível esfera de energia surgiu, evocando um Beholder, cujos olhos flutuavam ameaçadoramente acima do grupo, estudando cada movimento.

O grupo congelou por um instante, surpreso e pronto para atacar. Derek apontou sua flecha, Thomas ajustou seu montante duplo, e Ikarus levantou a espada, prestes a atacar. Mas Raella levantou a mão, apressada:

“Esperem! Isso… não fui eu! Acho que a capa tem algum efeito próprio, algo involuntário!”

Gillian franziu o cenho, mas respirou fundo e deixou o grupo hesitar por um momento. O Beholder, ainda pairando, não atacava diretamente, como se estivesse aguardando ou observando.

A batalha contra os zumbis e esqueletos, entretanto, continuou feroz. Raella se destacou, curando ferimentos críticos e usando a magia de ataque para dispersar grupos de inimigos. Thomas Walker aproveitou os momentos de distração, golpeando com precisão e usando suas asas para ganhar vantagem aérea. Derek, finalmente, brilhou ao mirar e derrubar inimigos chave que ameaçavam cercar o grupo.

Após eliminar a última onda de mortos-vivos, todos se viraram para o Beholder, preparados para um ataque decisivo. Raella ergueu a mão novamente:

“Não precisamos matá-lo! Eu não o convoquei conscientemente… a capa provavelmente liberou essa magia por instinto, algo ligado ao poder antigo do lugar.”

O grupo se entreolhou, impressionado e cauteloso. A criatura, aparentemente inofensiva por enquanto, flutuava acima deles, seus olhos os observando curiosamente antes de desaparecer lentamente em uma fenda no teto da caverna, como se aceitando o aviso de Raella.

“Essa capa… definitivamente não é algo comum,” comentou Ikarus, observando a jovem maga com um novo respeito.

Raella respirou fundo, ainda sentindo o poder correndo pelo corpo, enquanto o grupo se recompunha, limpando suas armas e analisando os novos tesouros encontrados. A espada enferrujada e a capa, agora mais misteriosa do que nunca, prometiam ter um papel crucial nas aventuras futuras.

O grupo avançou com mais cuidado, ciente de que a caverna ainda guardava perigos inesperados — e que Raella agora carregava um poder que eles ainda precisavam entender completamente.


Ad’Heim: A Caverna dos Mortos-Vivos: Descobertas e Armadilhas

 


Por Yuri Schein 

O grupo avançava com cautela pelo corredor estreito da caverna, a iluminação das tochas refletindo nas paredes úmidas e irregulares. O cheiro de mofo e terra molhada era constante, misturado a um odor mais intenso de decomposição nas áreas mais antigas. A caverna parecia antiga, com vestígios de vida inteligente que remontavam a séculos atrás: nas paredes, pinturas gastas mostravam cenas de rituais, batalhas e criaturas místicas, algumas parecendo figuras humanas lutando contra mortos-vivos e monstros desconhecidos.

Enquanto caminhavam, Derek notou moedas espalhadas pelo chão. Havia pequenas pilhas de prata e cobre, cobertas de pó e ferrugem, provavelmente esquecidas por antigos aventureiros ou habitantes da caverna. Thomas, curioso, encontrou uma espada enferrujada encostada em uma parede, mas algo chamava atenção: na ponta da lâmina, incrustada, havia uma pequena esmeralda que ainda brilhava com uma luz fraca, quase mágica.

“Essa espada… não está totalmente perdida,” murmurou Thomas, retirando cuidadosamente a arma da parede. “Mesmo enferrujada, parece ter algum valor… ou poder.”

Não muito longe, Raella encontrou uma capa com capuz, levemente empoeirada, que parecia feita sob medida para um mago. Ela a ergueu e a vestiu. Instantaneamente, sentiu um calor reconfortante percorrer seu corpo, como se a capa fortalecesse sua energia vital. Seus olhos castanhos brilharam de surpresa, e um leve sorriso se formou em seu rosto.

“Isso… isso me faz sentir mais leve… mais forte,” disse Raella, girando o capuz sobre a cabeça. O grupo trocou olhares cautelosos, intrigado, mas consciente de que desconheciam a origem ou os poderes reais do objeto.

Continuando a exploração, eles se depararam com uma grande pedra que parecia deslocada do resto da parede. Thomas se aproximou e notou uma alavanca escondida atrás dela. Com esforço, puxou a alavanca, que rangiu alto, ecoando pelo corredor. Para surpresa do grupo, uma porta secreta lateral se abriu, revelando uma escuridão ainda mais profunda e um cheiro mais forte de podridão.

Mal tiveram tempo de reagir, quando uma horda de mortos-vivos surgiu da porta: zumbis com roupas rasgadas, esqueletos empunhando armas corroídas e criaturas que pareciam um híbrido de humano e fera. Todos recuaram, formando uma linha defensiva. Thomas posicionou-se à frente, brandindo seus montantes, enquanto Gillian e Derek se preparavam para atacar à distância, e Raella concentrava sua energia de cura, agora consciente de que a capa poderia ajudá-la.

“Preparar-se! Esta vai ser uma batalha difícil,” gritou Ikarus, assumindo novamente seu papel de líder. “Não podemos subestimar o que encontramos aqui!”

O grupo se afastou da porta secreta, cercando-se estrategicamente, iluminando a área com tochas e magia, enquanto os mortos-vivos avançavam, com sons de ossos rangendo e gemidos ecoando pelo corredor. A batalha estava prestes a começar, e cada membro do grupo sabia que precisaria usar toda sua habilidade, coragem e inteligência para sobreviver às profundezas da caverna.

Ad’Heim: O Beholder da Caverna Sombria

 


por Yuri Schein 

O grupo avançava cautelosamente, ainda sentindo o efeito da batalha anterior. As moedas e poções recém-descobertas foram guardadas, e o silêncio da caverna era perturbador. Cada passo ecoava pelo corredor de pedra, amplificando o suspense.

De repente, uma luz verde e pulsante surgiu de uma grande câmara à frente. Raios de energia mágica começaram a percorrer o ar, e um rugido estrondoso reverberou pelas paredes. Da escuridão, uma criatura que parecia ter saído de pesadelos se materializou: um Beholder¹. Seus múltiplos olhos flutuantes se moviam independentemente, cada um irradiando um feitiço diferente.

— Todos para posição! — gritou Ikarus, empunhando a espada. — Cuidado com os olhos, eles não brincam!

Thomas Walker abriu suas asas, assumindo a linha de frente, girando seus montantes com precisão para atacar os servos menores que surgiam junto do Beholder. Rickson desferia golpes cirúrgicos contra os monstros menores, protegendo Raella e Gillian. Jetto avançava com suas garras de lobisomem, esquivando-se das rajadas mágicas que o Beholder disparava de seus olhos flutuantes.

A batalha parecia equilibrada, mas o Beholder começou a concentrar energia em seu olho central, emitindo um raio devastador que ameaçava pulverizar tudo à frente. O grupo recuou, tentando se proteger atrás de pilares de pedra e túneis estreitos.

— Se esse raio acertar, estamos mortos! — gritou Gillian, conjurando barreiras defensivas.

Foi então que Derek encontrou sua oportunidade. Ele percebeu um padrão: sempre que o Beholder preparava o raio, seus olhos laterais piscavam, quase como se revelassem seu ponto cego. Com precisão quase sobre-humana, Derek ergueu seu arco, ajustou a mira e disparou uma flecha encantada que ricocheteou na parede, atingindo exatamente o olho central.

O impacto provocou uma reação em cadeia: o Beholder soltou um grito horrível, cambaleou, e seus olhos menores se fecharam temporariamente. Derek, sem perder tempo, disparou uma segunda e terceira flecha, atingindo os olhos flutuantes restantes, enquanto Thomas e Rickson avançavam para ataques finais com os montantes e espada.

Com um rugido final, o Beholder colapsou, se desintegrando em uma nuvem de energia mágica que rapidamente se dissipou nas paredes da caverna. O silêncio caiu novamente, apenas quebrado pela respiração ofegante do grupo.

— Incrível… — disse Thomas, impressionado. — Nunca vi alguém dominar assim um Beholder.

Ikarus riu, aliviado, e deu um tapinha nas costas de Derek:

— Parece que você é nosso arqueiro de elite agora, hein? Excelente trabalho!

Derek, ainda ofegante, sentiu uma onda de orgulho. Pela primeira vez, ele realmente havia mostrado seu valor em uma batalha crítica, provando que, mesmo humano e sem grupo antes, podia brilhar ao lado de guerreiros lendários e criaturas poderosas.

— Só… só precisamos continuar com cuidado — disse Rickson, limpando a lâmina. — Não sabemos quantas dessas criaturas ainda podem estar escondidas mais adiante.

Raella aproximou-se, seu cajado brilhando levemente.

— Precisamos manter nossos olhos abertos. Se a caverna já tem magia suficiente para invocar um Beholder, o que mais pode estar à espreita?

O grupo respirou fundo, recuperando o fôlego e organizando-se novamente, conscientes de que, apesar da vitória, a caverna ainda guardava perigos maiores. Mas naquele momento, Derek finalmente sentiu que pertencia a algo maior, e que seu arco poderia decidir o destino do grupo nas próximas batalhas.


¹Nota de Rodapé – Beholder

O Beholder é uma criatura icônica da fantasia moderna, especialmente associada a jogos de RPG e literatura de fantasia. Sua origem remonta principalmente ao universo de Dungeons & Dragons (D&D), criado por Gary Gygax e Dave Arneson em 1974, onde foi introduzido como um dos monstros mais perigosos e emblemáticos. A característica mais marcante de um Beholder é seu corpo esférico, geralmente descrito como uma grande esfera flutuante com um único olho central gigantesco e múltiplos olhos menores em tentáculos orbitando a cabeça. Cada um desses olhos laterais possui um poder mágico distinto, permitindo ataques variados como petrificação, envenenamento, desintegração ou confusão mental, enquanto o olho central é geralmente capaz de disparar um raio destrutivo de energia mágica concentrada.

Na literatura de RPG e suas adaptações, os Beholders são frequentemente descritos como extremamente inteligentes, paranóicos e territoriais, tornando-os adversários formidáveis não apenas fisicamente, mas também estrategicamente. Segundo Ed Greenwood, criador do Forgotten Realms, os Beholders são originários de planos paralelos, existindo em regiões instáveis da realidade e manipulando magia de forma natural, o que reforça sua aura de perigo quase mítico. Textos mais antigos de D&D (como Monster Manual, 1977 e edições subsequentes) descrevem Beholders como criaturas agressivas, raramente podendo ser domadas, e com uma cultura própria centrada em dominação territorial e medo.

Autores de literatura fantástica posterior, como R.A. Salvatore em obras ambientadas nos Reinos Esquecidos, expandiram o conceito do Beholder, enfatizando sua psicologia complexa: cada olho representando uma forma de percepção ou intenção independente, tornando o combate com a criatura altamente imprevisível. No RPG moderno, eles são considerados desafios de alto nível (high-level encounter) devido à multiplicidade de ataques simultâneos, resistência mágica e capacidade de voar, tornando-os inimigos que exigem planejamento, cooperação e habilidades diversificadas do grupo de aventureiros.

Além disso, o Beholder serviu de inspiração para criaturas em outras mídias de fantasia, incluindo videogames, romances e quadrinhos, mantendo sempre o arquétipo de adversário que combina inteligência, poder mágico e visual aterrorizante. É importante notar que, apesar da representação fantástica, a lógica de suas habilidades — múltiplos ataques mágicos simultâneos, manipulação de gravidade ou petrificação — está mais alinhada à mecânica de jogos e narrativa épica do que a qualquer tentativa de base científica, o que reforça seu caráter de ícone da fantasia imaginativa.

Fontes de referência:

Dungeons & Dragons Monster Manual, TSR, 1977 e edições subsequentes.

Greenwood, Ed. Forgotten Realms Campaign Setting, TSR, 1987.

Salvatore, R.A. The Crystal Shard, TSR, 1988.

Mearls, Mike; Crawford, Jeremy. D&D 5e Monster Manual, Wizards of the Coast, 2014.

Ad’Heim: O Resplendor de Thomas Walker

 


por Yuri Schein 

O grupo avançava cautelosamente pela caverna, o eco dos passos misturando-se ao gotejar constante da água que escorria pelas paredes úmidas. Entre corredores tortuosos, Derek tropeçou em algo metálico, chamando a atenção dos demais.

— Olhem isso — disse Rickson, iluminando o chão com sua tocha. — Moedas de ouro… e poções! Parece que alguém deixou provisões aqui, talvez para quem conseguisse atravessar essas armadilhas.

Thomas Walker se aproximou, os olhos amarelados refletindo a luz, analisando o pequeno tesouro com interesse.

— Não devemos desperdiçar isso — falou, guardando algumas moedas e analisando as poções. — Elas podem ser úteis mais tarde.

O grupo ainda se recuperava do susto anterior quando um som sinistro ecoou pelo corredor: ossos se arrastando e estalos secos que prenunciavam a morte. Uma horda de esqueletos surgiu das sombras, armas enferrujadas em mãos ossudas. Ao mesmo tempo, das profundezas de um poço escuro, uma aranha gigantesca, do tamanho de um cavalo, desceu rapidamente, suas patas terminando em garras afiadas que arranhavam o chão de pedra.

— Formação defensiva! — gritou Ikarus, empunhando sua espada. — Cuidado com a aranha!

Derek disparou flechas certeiras, atingindo alguns esqueletos, enquanto Rickson desferia golpes precisos com sua espada de escamas de dragão. Jetto saltava, usando suas garras de lobisomem para rasgar os ossos dos inimigos. Gillian conjurava feitiços defensivos e curativos, protegendo os companheiros de ferimentos graves.

A aranha gigante avançava com incrível velocidade, desviando de ataques e atacando com suas presas envenenadas. Thomas Walker respirou fundo, batendo seus montantes nas mãos e girando-os com destreza. Suas asas se abriram, aumentando seu alcance, e ele saltou no ar, girando violentamente.

— Eu cuido disso! — gritou Thomas, a voz firme, enquanto ambos os montantes cortavam o ar com precisão mortal.

Em um movimento rápido e sincronizado, ele atacou o corpo da aranha, perfurando seu exoesqueleto com golpes estratégicos. Com um último giro, Thomas cravou os montantes no tórax da criatura, que estremeceu violentamente antes de desmoronar no chão, transformando-se numa fumaça brilhante que se condensou em forma humana: uma sedutora elfa negra, de longos cabelos negros e olhos verdes hipnotizantes.

— Não… — sussurrou Derek, os olhos fixos nela. — Ela… ela é…

Um feitiço mágico havia sido liberado da transformação da aranha: um encanto poderoso que começou a afetar os homens do grupo, tornando-os momentaneamente incapazes de resistir à sedução da elfa. Ikarus e Derek sentiram uma estranha atração, quase paralisante, enquanto Rickson hesitava em se aproximar.

— Cuidado! — gritou Gillian, reconhecendo o perigo. — É um feitiço de sedução!

Ela ergueu as mãos e lançou um feitiço de dissipação, quebrando o encantamento sobre os companheiros. A elfa negra caiu inconsciente no chão da caverna, respirando pesadamente. Thomas Walker observou com os punhos cerrados, ainda alerta, enquanto a luz das tochas refletia em suas asas abertas.

— É… melhor assim — disse Thomas, guardando os montantes. — Não podemos subestimar nada aqui.

Rickson abaixou a espada, suspirando aliviado.

— Essa caverna… não é apenas cheia de mortos-vivos. É viva, cheia de magia antiga e armadilhas que testam não só nossas habilidades, mas também nossas mentes.

Ikarus assentiu, olhando para o grupo.

— Precisamos seguir adiante, mas fiquem atentos. Se encontrarmos mais dessas armadilhas ou criaturas… Thomas, Gillian, mantenham-se na frente. O restante de nós cobre a retaguarda.

Jetto, com as orelhas levemente eriçadas e a cauda roçando o chão, murmurou:

— Esta maldição de lobisomem ainda me dá vantagem em combate, mas não posso subestimar a magia negra que encontrei aqui.

Raella, ainda segurando seu cajado, aproximou-se. A elfa negra inconsciente no chão era prova viva de que a magia do mal e do feitiço podia vir de formas inesperadas.

— Se a Dríade não entra, estas criaturas e feitiços podem ser os remanescentes de antigos habitantes da caverna — disse Raella. — E se estão aqui, é por algum motivo. Talvez estejam protegendo algo maior.

Com cuidado renovado, o grupo avançou mais profundamente na caverna, iluminando o caminho com tochas e mantendo os sentidos alerta para armadilhas, feitiços e criaturas que ainda aguardavam no escuro. Thomas Walker, com suas asas recolhidas e montantes em mãos, agora brilhava não apenas pela força, mas pelo equilíbrio entre coragem e estratégia, mostrando ao grupo que, apesar do estigma, seu valor era inquestionável.

Ad’Heim: Ecos da Caverna Proibida

 


por Yuri Schein 

O grupo avançava com cuidado pela caverna dos mortos-vivos, cada passo ecoando pelas paredes úmidas e musgosas. A escuridão parecia viva, e a luz das tochas apenas delineava sombras que se moviam à beira da percepção. O chão irregular, coberto por pequenas pedras e raízes expostas, lembrava a todos que qualquer passo em falso poderia ser fatal. O silêncio era absoluto, exceto pelos gotejamentos irregulares das estalactites, que soavam como ecos de antigos lamentos.

— Fiquem atentos — murmurou Ikarus, segurando firme sua espada, enquanto seu olhar percorria cada canto da caverna. — Este lugar não está vazio.

Thomas Walker, com suas asas recolhidas contra as costas e os chifres refletindo a luz das tochas, examinava atentamente o chão e as paredes, batendo com cuidado seus montantes.

— Olhem estas marcas — disse ele, inclinando-se para analisar pequenas depressões no chão. — Parece que há mecanismos antigos escondidos. Armadilhas.

Rickson, sempre atento, avançou com cuidado, examinando cada detalhe. Derek tentava acompanhá-lo, os dedos firmes no arco, mas mesmo com sua precisão, não percebeu uma pressão sutil no chão: uma lâmina de ferro disparou, atingindo seu ombro e arrancando um gemido de dor. A lâmina girou de volta com um clique ameaçador, mas não repetiu o ataque.

— Derek! — exclamou Gillian, correndo até ele. Sua pele morena reluzia à luz das tochas, e os olhos castanhos mostravam preocupação genuína. — Aguente firme!

Raella ergueu o cajado, concentrando sua magia. A pedra preciosa na ponta brilhou intensamente, emanando uma luz dourada que se espalhou pelo ferimento. Uma sensação quente e reconfortante percorreu o corpo de Derek, e a dor diminuiu até desaparecer quase por completo.


— Obrigado… — disse Derek, respirando fundo, aliviado, enquanto tocava o ombro curado. — Essa foi por pouco.

Ikarus aproveitou a pausa para falar com o grupo, quebrando um pouco da tensão:

— Isso mostra que não estamos lidando com simples monstros. Quem quer que tenha construído essa caverna era inteligente, poderoso e meticuloso.

Thomas assentiu, batendo levemente seus montantes.

— Não apenas inteligente. Mortais comuns não deixariam armadilhas que ainda funcionam depois de tantos anos. Isso foi feito para proteger algo — ou alguém.

Jetto, com os pelos eriçados e o olhar atento de lobisomem, aproximou-se.

— Eu sei do que se trata — disse, a voz rouca pelo tempo em que esteve preso à licantropia. — Antes de me tornar um lobisomem, eu vivia com a Dríade que governa esta floresta. Ela sequestrava seres racionais — humanos, elfos, e até dragões — para serem seus noivos. Eu quase fui capturado, mas consegui escapar, transformado nesta maldição que carrego até hoje.

O grupo trocou olhares apreensivos. A Dríade, apesar de não entrar na caverna, ainda deixava rastros de sua influência.

— E ela não entra nesta caverna — continuou Jetto. — Ela a considera sagrada ou amaldiçoada. Mas este lugar já foi lar de seres inteligentes, maridos e esposos da Dríade. Um deles viajou para o norte da floresta e se tornou um vampiro. Desde então, a Dríade intensificou seus sequestros, sempre visando seres racionais, deixando monstros e mortos-vivos fora de sua jurisdição.

— Então, se a Dríade não entra aqui, essas armadilhas e criaturas… — murmurou Gillian, observando as paredes cobertas de musgo e fungos que lançavam uma luz verde esbranquiçada. — …provavelmente foram deixadas para proteger algo que ela considerava valioso. Um tesouro ou… seres vivos.

Rickson franziu a testa:

— E se ainda houver algo vivo aqui? Algo que não seja controlado nem morto-vivo? Talvez alguém buscando proteção ou vingança?

Raella, ainda segurando seu cajado, acrescentou:

— Ou talvez guardando segredos antigos. E se houver magia adormecida ou espíritos que não querem ser perturbados…

— De qualquer forma — disse Ikarus, assumindo a postura de líder — precisamos avançar com cautela. Derek, Thomas, fiquem atentos às armadilhas. Raella, cuide de qualquer ferimento imediatamente. Jetto, seus instintos serão cruciais aqui.

— Entendido — respondeu Jetto, olhando para os corredores sombrios da caverna. — A Dríade não entrará, mas suas sentinelas podem estar à espreita, e ainda temos que lidar com os mortos-vivos e qualquer outro guardião que tenha sido deixado para trás.

O grupo avançou com passos silenciosos, cada movimento calculado. As tochas lançavam sombras gigantes que se contorciam nas paredes, e o cheiro úmido da caverna misturava-se com o aroma de musgo e ferro antigo. Cada corredor parecia mais estreito, mais perigoso, e as bifurcações aumentavam a sensação de que a caverna guardava segredos muito além da compreensão de meros mortais.

Enquanto avançavam, o grupo refletia sobre o que Jetto dissera. Seres inteligentes haviam habitado ali. Talvez há anos, talvez até séculos. A Dríade e seus maridos transformados em vampiros tinham uma história por trás dessa caverna, e tudo indicava que eles agora seriam testados — pelas armadilhas, pelos mortos-vivos e pelo próprio eco do passado inteligente que permanecia preso naquele lugar sombrio.

Ad'Heim: O Lobismem na Caverna

 

O grupo se reuniu em um pequeno alçapão da caverna, onde a luz das tochas refletia nas paredes úmidas, criando sombras que dançavam pelo chão irregular. O cheiro de mofo e pedra molhada era constante, lembrando a todos que não havia volta fácil. Antes de seguirem mais fundo, decidiram conversar e se apresentar melhor, criando laços que poderiam ser essenciais nos perigos que os aguardavam.

Ikarus, como líder, começou:

— Precisamos estar preparados para tudo. Cada passo que damos aqui pode ser decisivo. Mas antes de avançarmos, vamos nos conhecer melhor. Isso ajuda a confiar uns nos outros.

Thomas ajustou suas asas e segurou firmemente os dois montantes. Mas ainda havia uma pessoa que não se apresentou na noite passada, todos se voltaram para um homem robusto, de feições fortes, pelos parcialmente cobertos por pêlos, olhos com um brilho âmbar estranho e dentes um pouco alongados. Jetto respirava fundo, observando cada rosto antes de falar:

— Eu sou Jetto. Antes era mercenário, humano. Agora... um lobisomem. — Ele fez uma pausa, olhando para Thomas e Derek. — Não escolhi essa maldição, mas sei que ela me deixa vulnerável sozinho. Por isso decidi acompanhar vocês. Enquanto estiver com a licantropia, é mais seguro ficar em grupo. Não sei se existe cura para isso, mas se houver, vou encontrá-la. Até lá, posso contribuir com minhas habilidades de combate e rastreamento.

O silêncio que se seguiu não era de estranheza, mas de respeito. Todos entenderam que, apesar da diferença de cada um, ali dentro da caverna precisariam confiar plenamente uns nos outros.

Ikarus assentiu, quebrando a tensão:

— Então está decidido. Todos juntos. Cada um de nós tem algo que o outro precisa. Jetto, sua experiência e instinto podem ser cruciais. Vamos avançar com cuidado.

Thomas deu um leve sorriso, ajustando seus montantes:

— Que comecem os desafios. Estou pronto para enfrentar o que vier.

Rickson, olhando para a escuridão adiante, completou:

— E que nenhum morto-vivo subestime o que um grupo unido pode fazer.

Com isso, o grupo avançou para o corredor mais profundo da caverna, as tochas lançando luz vacilante sobre as paredes cobertas de musgo. O som de passos arrastados e sussurros distantes ecoava pelo túnel, lembrando a todos que os mortos-vivos estavam mais próximos do que imaginavam. Jetto manteve-se atento, suas orelhas e sentidos lupinos captando qualquer movimento anormal, enquanto os demais se posicionavam estrategicamente para o que estava por vir.

Ad'Heim: A Princesa fugitiva

 


Por Yuri Schein 

Raella respirou fundo e ergueu o olhar para o grupo, a luz azulada dos cristais refletindo em seus cabelos castanhos e em seus olhos do mesmo tom. Sua pele clara contrastava com o robe branco de maga que vestia, e o cajado de madeira com uma pedra preciosa na ponta descansava levemente em sua mão.

— Eu… sou Raella — começou, com uma voz firme, mas cheia de serenidade. — Sei que muitos de vocês devem pensar que sou apenas a princesa de Lenória, alguém que deve ser protegida. Mas não quero que pensem isso de mim. Sei me cuidar, sei me defender, e posso ajudar de forma ativa nesta missão. Minha especialidade é a magia de cura, mas… há algo mais que poucos conhecem. — Ela fez uma pausa, os olhos brilhando com determinação. — Posso… manipular energias que não são apenas de cura. É incomum, e exige cuidado, mas posso lutar ao lado de vocês se for necessário.

Ela fez um gesto com o cajado, e uma leve aura cintilante envolveu a ponta, como se fosse a prova de seu poder latente.

— Decidi me juntar a vocês porque acredito que todos nós temos um papel nesta missão. E, por mais que eu seja princesa, não quero que ninguém sinta que precisa me carregar. Estou aqui para lutar e proteger tanto quanto qualquer um de vocês.

O silêncio tomou conta da sala por alguns segundos, apenas quebrado pelo crepitar da pequena fogueira improvisada. A determinação nos olhos de Raella fez com que Ikarus esboçasse um sorriso discreto, sabendo que aquela garota, apesar de nobre, tinha coragem suficiente para enfrentar qualquer perigo junto com eles.

Ikarus não pôde deixar de soltar uma risada baixa, olhando para Raella com um brilho divertido nos olhos.

— Sabe, Raella — começou, enquanto ajeitava sua espada nas costas — depois da sua… digamos, “explosiva” demonstração de magia na floresta, eu nem pensei que você poderia ser fraca. Aquela bola de fogo que você lançou? Foi… impressionante. Quem diria que a princesa de Lenória tinha um lado tão… devastador?

O grupo inteiro caiu na risada, lembrando-se da clareira que havia ficado queimada após o ataque aos centauros e faunos. Até Jetto soltou um rugido que misturava riso e apreciação, abanando a cauda.

Raella corou levemente, segurando o cajado com firmeza, mas não conseguiu conter um sorriso tímido.

— Ok, ok — disse ela, rindo junto com eles — Acho que subestimei minha própria força. Mas prometo que vou usá-la com cuidado. Só não quero que fiquem assustados comigo!

— Medo? — retrucou Gillian, entre risadas — Depois daquilo, nem passou pela minha cabeça. Você simplesmente detonou todo o nosso caminho!

Todos riram novamente, e por alguns instantes, a tensão da caverna diminuiu, dando espaço a um momento de leveza. Raella finalmente se sentiu parte do grupo, não apenas como princesa, mas como companheira de batalha, pronta para enfrentar os perigos que ainda os aguardavam nas profundezas da caverna.



Ad'Heim: Meio-Dragao & Caverna

 


O silêncio que se seguiu à fala de Gillian foi quebrado por um bater de asas metálicas e o som profundo de chifres ecoando na sala. Todos olharam para a entrada, e ali estava Thomas Walker, meio-dragão, sua presença impondo respeito imediato. As escamas levemente iridescentes de seus braços e ombros refletiam a luz da fogueira, e suas asas dobradas atrás das costas se agitavam levemente, como se sentissem a tensão do grupo. Seus olhos âmbar observavam cada detalhe com precisão felina, enquanto ele caminhava até a fogueira, cada passo firme e controlado.

— Meu nome é Thomas Walker — disse, com uma voz grave e segura, carregada de autoridade natural. — Sou meio-dragão. Nasci nos Montes Lendários do Norte, filho de um dragão antigo e de uma humana corajosa. Por isso, minha vida nunca foi fácil. Tanto humanos quanto dragões me olham com desconfiança. O preconceito e a desconfiança sempre estiveram comigo, mas aprendi a transformá-los em força.

Ele ergueu as mãos e, com um movimento ágil, empunhou dois montantes, um em cada mão, as lâminas refletindo a luz do fogo.

— Minhas armas — disse, mostrando os montantes — são extensões do meu corpo. Com elas, posso enfrentar múltiplos inimigos ao mesmo tempo. Minhas asas me permitem manobrar rapidamente em combate e até escapar quando necessário. Meus chifres são não apenas para intimidação — posso usá-los em ataques frontais e defensivos.

Thomas se aproximou do grupo, olhando para cada um nos olhos:

— Fui convocado pelos senhores dos dragões para provar meu valor. Esta missão em Lenória Imperial é meu teste, uma chance de mostrar que posso proteger não apenas a mim mesmo, mas aqueles que confiam em mim. Não estou aqui por glória, nem por recompensa. Estou aqui porque sei que posso fazer a diferença.

Ele respirou fundo, mantendo a postura firme, e continuou:

— Sei que ainda somos desconhecidos uns para os outros, mas enquanto estivermos juntos, precisaremos confiar uns nos outros. Eu confiarei em vocês, como espero que confiem em mim. Juntos, podemos enfrentar qualquer ameaça — disse, enquanto suas asas se agitavam levemente, sinalizando prontidão.

O grupo assentiu, a fogueira iluminando a determinação nos rostos de todos. Agora, com Ikarus como líder, Rickson trazendo sua experiência e passado em Aldora, Derek ansioso por provar seu valor, Gillian como protetora e estrategista, Raella com sua magia multifacetada e Thomas Walker com sua força dracônica e habilidades únicas, todos estavam preparados para enfrentar a floresta encantada e a caverna dos mortos-vivos.

— Amanhã ao amanhecer — disse Ikarus, olhando para cada um do grupo — avançaremos para a caverna. Precisamos descansar, pois tudo o que nos espera é maior do que qualquer batalha que já enfrentamos.

O crepitar do fogo e o som das asas de Thomas batendo levemente ao fundo marcaram o fim da noite. Cada um, com seus pensamentos, recordações e expectativas, se preparava para a jornada que poderia mudar não apenas suas vidas, mas o destino de Lenória Imperial e de todo o mundo.

Ad'Heim: A combatente


 Enquanto Derek respirava fundo, mostrando sua determinação, um silêncio confortável se instalou em torno do grupo. Então, Gillian se levantou, ajustando a capa de couro sobre seus ombros. Sua postura era firme, mas elegante, revelando a confiança que adquirira em anos de treino e batalhas.

— Acho que é minha vez — disse, com a voz calma e resoluta, mas cheia de autoridade natural. — Meu nome é Gillian.

Seus cabelos longos e negros caíam em ondas suaves sobre os ombros, contrastando com a pele morena e parda e o olhar intenso de olhos verdes, que pareciam analisar cada detalhe ao redor. Apesar de sua estatura mediana, havia algo em sua presença que impunha respeito — a certeza de quem conhece o próprio valor.

— Sou uma guerreira de Lenória Imperial — continuou, cruzando os braços por um instante antes de abrir novamente, revelando as luvas reforçadas que cobriam suas mãos e punhos. — Treinei sob o olhar atento de meu pai, Rufus, que também é mentor de Ikarus. Cresci ao lado dele, aprendendo tanto sobre combate quanto sobre honra e estratégia. É como se tivesse dois pais: meu próprio pai e Rufus, que me ensinou a proteger e guiar aqueles que não podem se defender.

Ela caminhou um pouco em torno do grupo, como se medisse a atmosfera de confiança e camaradagem.

— Minhas habilidades são variadas. Sou exímia com armas de curto e médio alcance, especialmente espadas e adagas. Tenho experiência em combate corpo a corpo e técnicas de infiltração — disse, olhando para Derek, Ikarus e os demais — e, acima de tudo, sei como manter a calma quando a batalha parece impossível. Posso proteger, atacar ou abrir caminho. Minha prioridade sempre será manter o grupo vivo.

Gillian respirou fundo, a luz da fogueira refletindo em seus olhos.

— Moro com Rufus, que além de ser um grande mentor, é uma figura paterna para Ikarus e para mim. Ele me ensinou não apenas a lutar, mas a confiar em meus instintos e a valorizar cada aliado. Hoje, estou aqui não apenas para lutar, mas para garantir que ninguém neste grupo enfrente os horrores sozinhos.

Ela sorriu levemente, mas havia um brilho de determinação e seriedade em seu olhar.

— Agora que todos nos conhecemos, podemos seguir adiante com mais confiança. Unidos, podemos enfrentar qualquer coisa — concluiu, sentando-se ao lado da fogueira e esperando que os demais também compartilhassem suas histórias.

O grupo agora estava completo, pelo menos por enquanto, cada um carregando seu passado, suas dores, habilidades e a determinação de enfrentar os mortos-vivos e as forças desconhecidas que se escondiam na floresta encantada e nas profundezas da caverna.

Ad'Heim: O Arqueiro medíocre


 O silêncio após a fala de Rickson se estendeu por alguns segundos. Todos olhavam para Derek, que ainda mastigava um pedaço de carne assada, como se ponderasse cuidadosamente as palavras que iria dizer. Por fim, ele limpou a boca e respirou fundo.

— Eu… eu sou Derek — começou, a voz firme, mas com um toque de humildade. — Sou apenas humano. Não tenho linhagem nobre, nem habilidades sobrenaturais como vocês. E, para ser honesto, às vezes me sinto pequeno perto de guerreiros, dragões e magos.

O grupo escutava atento, alguns assentindo levemente, outros apenas em silêncio.

— Venho do vilarejo chamado Vilas Gêmeas — continuou, olhando para o chão por um instante antes de erguer os olhos. — Um lugar pequeno, insignificante… onde ninguém realmente se importa com o que um arqueiro solitário pode fazer. Eu estava com fome, cansado de dormir nas ruas, mas não podia me render. Precisava encontrar um propósito. E então… o chamado de Oberon chegou.

Ele engoliu em seco, tentando controlar a emoção.

— Ninguém queria essa missão. Nenhum soldado, nenhum mercenário, nenhum mago — todos queriam recompensa, ouro, prestígio… mas eu não posso esperar que o mundo me recompense antes de provar meu valor. Eu escolhi vir por necessidade, sim, mas também porque quero mostrar que posso fazer a diferença.

Derek respirou fundo, olhando cada um nos olhos, e finalmente sorriu com determinação.

— Sou arqueiro. Talvez não tenha a força de um guerreiro de dragão ou a magia de uma maga ou de Rickson, mas minhas flechas são precisas, minha visão nunca falha, e minha perseverança… essa é minha arma mais poderosa. Eu quero provar que posso lutar ao lado de todos vocês e, se for necessário, proteger aqueles que não conseguem se proteger.

Thomas inclinou levemente a cabeça, silenciosamente avaliando o humano, e Gillian deu um pequeno sorriso encorajador. Rickson assentiu, respeitando a honestidade de Derek, e até Raella, mesmo cansada, pareceu admirar a determinação dele.

Ikarus então colocou a mão no ombro de Derek, num gesto firme de liderança e confiança.

— Muito bem, Derek. Valor não vem apenas de sangue ou magia. Vem de coragem, da vontade de enfrentar o desconhecido e da determinação de não ceder diante do perigo. Se você está conosco, será parte do grupo. E amanhã, todos teremos a chance de mostrar que juntos somos mais fortes do que qualquer ameaça.

Derek respirou fundo, sentindo uma onda de alívio e orgulho. Pela primeira vez desde que começou sua jornada, sentiu que fazia parte de algo maior.

O fogo da fogueira continuava crepitando, a comida ainda cheirava tentador, mas agora o grupo tinha mais do que energia física. Tinha confiança, união e a determinação de enfrentar os horrores que aguardavam nas profundezas da floresta encantada e da caverna dos mortos-vivos.