domingo, 28 de setembro de 2025

Deus e a Causa da Natureza Humana

 


Por Yuri Schein

A maioria ainda pensa em um Deus que “permite” o mal, como se Ele fosse um espectador resignado diante da queda da criatura. Essa visão é mais filosofia pagã do que Escritura. A Bíblia não apresenta um Deus que se limita a assistir ao enredo, mas um Senhor que “faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade” (Ef 1.11). Isso significa exatamente o que está escrito: todas as coisas, inclusive as intenções mais malignas.

Antes da prática do pecado, existe a natureza pecaminosa. E quem causa essa natureza? Não o acaso, não o “livre-arbítrio” autônomo, mas o próprio Deus. Paulo declara: “Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para com todos usar de misericórdia” (Rm 11.32). A Queda não foi acidente de percurso, mas decreto eterno. O mesmo Deus que ordena a salvação é aquele que ordena a perdição, pois “a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para em ti mostrar o meu poder” (Rm 9.17).

Foi Deus quem criou Satanás (Cl 1.16), e foi Ele quem determinou que o coração desse anjo se corrompesse (Ez 28.15-16). É Deus quem causa todos os pensamentos e atos malignos dos demônios (Jó 1.12; 2.6). Foi Ele quem decretou a tentação de Eva (Gn 3.1-6), e mesmo não sendo o tentador direto (Tg 1.13), foi o Autor da existência da própria tentação. Foi Ele quem causou que Adão e Eva pecassem (Gn 3.6; Rm 5.12). Se houvesse um só evento fora de Seu decreto, Ele deixaria de ser Deus.

O apóstolo Paulo reforça com a imagem do oleiro: “Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra?” (Rm 9.21). Note: não existe “massa caída” sem que o oleiro a tenha feito assim. É Deus quem endurece (Rm 9.18), quem envia operação do erro para que creiam na mentira (2Ts 2.11), quem põe um espírito mau para atormentar (1Sm 16.14), quem cria a luz e as trevas, a paz e o mal (Is 45.7).

Isso fere o orgulho humano, mas protege a glória divina. Se o homem peca, é porque Deus o destinou como vaso de ira. Se o homem crê, é porque Deus o predestinou como vaso de misericórdia. “Porque dele, e por ele, e para ele, são todas as coisas” (Rm 11.36).

A história não é um campo de batalha em que Deus “permite” a ação de forças independentes. É um palco em que o Autor decreta cada linha, cada ato, cada queda e cada redenção. A Escritura nunca fala de um Deus que tenta salvar todos mas falha — isso é teologia arminiana de feira. O Deus da Bíblia é o que “opera em vós tanto o querer como o efetuar” (Fp 2.13), e também o que “endurece a quem quer” (Rm 9.18).

Negar isso é tentar salvar a reputação de Deus com categorias humanas, como se Ele precisasse de advogados. Mas a verdadeira defesa da glória divina é admitir o que a Escritura ensina: não há absolutamente nada que Deus não cause.

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