Por Yuri Schein
Comecemos com a verdade que faz arminiano espumar e molinista correr para debaixo da cama:
“Logo, tem ele misericórdia de quem quer, e também endurece a quem lhe apraz.” (Romanos 9.18)
Pronto. Não é talvez, não é possivelmente, não é apenas permite. É “endurece a quem quer”. Paulo, coitado, se vivesse hoje, seria cancelado pelos teólogos do livre-arbítrio. A hermenêutica dos “permite” não consegue escapar do simples fato: Deus é o causador. Ele não é um velhinho passivo que deixa os homens brincarem de autodeterminação. Ele endurece. Ele tem misericórdia. Ele faz.
Mas como todo bom rebelde contra a Escritura odeia Romanos 9, vamos dar mais textos para que a consciência deles não tenha paz:
“O nosso Deus está nos céus; faz tudo o que lhe agrada.” (Salmo 115.3)
Olha que terrível. “Faz”. Não é “espera que façam”. Não é “permite que façam”. É “faz”.
“Assim como tu não sabes qual o caminho do vento, nem como se formam os ossos no ventre da mulher grávida, assim também não sabes as obras de Deus, que faz todas as coisas.” (Eclesiastes 11.5)
Todas as coisas. A linguagem bíblica não tem dó do livre-arbítrio. Se o ímpio tropeça na calçada, foi Deus quem causou. Se um bebê nasce, foi Deus quem causou. Se uma bomba explode, foi Deus quem causou. Sim, você leu certo: foi Deus.
“Nele, digo, no qual fomos também feitos herança, havendo sido predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade.” (Efésios 1.11)
É como se Paulo tivesse prazer em esmagar a filosofia dos que tentam livrar Deus da soberania. “Todas as coisas segundo o conselho da sua vontade”. O pecado? Todas as coisas. A queda de reis? Todas as coisas. Os pensamentos do coração humano? Todas as coisas.
Agora, a parte divertida: o mito da “permissão”.
Teólogos sem coragem para confessar a soberania de Deus dizem que “Deus permite o mal”. O problema? A Bíblia nunca usa “permissão” em sentido metafísico. Permissão em linguagem bíblica é apenas uma categoria imanente, ou seja, descritiva do modo como as coisas aparecem para nós, não da realidade última da causalidade.
Exemplo: quando José é vendido pelos irmãos, ele mesmo diz: “Vós intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem” (Gn 50.20). Ele não disse: “Deus apenas permitiu e torceu para dar certo”. Ele disse: “Deus o tornou”. Deus estava por trás, como o causador.
Quando o Senhor entrega reis nas mãos de seus inimigos (Js 11.20), não é que Ele só “permitiu” com lágrimas nos olhos. O texto é claro: “porque do Senhor veio o endurecimento do seu coração”. Não existe “plano B”. Não existe “permissão metafísica”. Existe causalidade soberana.
Permissão só existe na dimensão de como os homens percebem. “Deus permitiu que eu pecasse” não significa que Deus se afastou e ficou neutro. Significa apenas que, aos meus olhos, eu me senti livre, mas, na realidade, Deus decretou, causou e sustentou cada detalhe daquele pecado – sem, contudo, pecar.
O Deus bíblico não é o gerente que assina autorizações para ver se o universo anda. Ele é o autor do roteiro, o diretor da peça e o ator principal. Nós? Marionetes conscientes, escravos de nossa própria vontade, mas sempre presos ao fio invisível da soberania absoluta.
Então, da próxima vez que alguém falar que “Deus apenas permite”, sorria com sarcasmo e responda:
— Amigo, o Deus que só permite não é o Deus da Bíblia. Esse é o ídolo que você criou para salvar o livre-arbítrio, mas não salva ninguém.
Porque o Deus verdadeiro não apenas permite.
Ele causa.
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