✍️ Yuri Schein
A grande desculpa de muitos pseudo-cristãos é a de que certas doutrinas bíblicas seriam "profundas demais", "não caberiam no púlpito", ou ainda, "não edificariam os simples". Essa retórica nada mais é do que um insulto direto ao próprio Cristo, que não apenas ensinou essas doutrinas em público, mas o fez de forma aberta, direta e confrontativa.
O evangelho não é leite ralo, mas alimento sólido desde o princípio. Cristo nunca teve medo de escandalizar os fariseus e saduceus com a soberania absoluta de Deus. Aliás, Mateus 15.13 é um soco no estômago de qualquer arminiano: “Toda planta que meu Pai celestial não plantou será arrancada”. Aqui está a doutrina da eleição e reprovação exposta sem rodeios. Não é Paulo, não é Calvino — é Jesus.
Ele também não deixou espaço para o acaso em sua cosmovisão: “Não se vendem dois pardais por um asse? E nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai” (Mt 10.29). Essa frase é dinamite contra qualquer noção de livre-arbítrio autônomo. Não há movimento de pardal, queda de folha ou pensamento humano fora do decreto divino. É puro determinismo divino.
E quando conversa com Nicodemos, um não convertido, Jesus não hesita em lançar a doutrina que muitos crentes têm medo até de mencionar em um estudo de célula: a regeneração precede a fé (Jo 3.3-6). Ele não diz: “Nicodemos, você precisa escolher aceitar a Deus”; mas: “É necessário nascer de novo” — e o Espírito sopra onde quer, não onde o homem decide.
João 6.29 vai ainda mais fundo: a fé não é obra da vontade humana, mas operação direta de Deus. Cristo não prega uma fé autônoma, mas uma fé dada. E para que ninguém fique com dúvidas, Jesus martela a depravação total do homem em diversos textos (Mt 7, 12, 15; Jo 3-10): o coração humano é árvore má, e árvore má não pode dar fruto bom. Simples assim.
E Paulo? Segue a mesma linha sem pedir desculpas. Em Atos 13 ele anuncia a justificação pela fé, e nos capítulos iniciais de Romanos expõe publicamente aquilo que hoje seria chamado de “assunto polêmico para teologia acadêmica”. Em 1 Coríntios já no primeiro capítulo a justificação é posta na mesa da assembleia como tema central.
Ou seja, toda a Escritura zomba da infantilidade dos que querem manter a igreja em dieta de leite sem nunca servir carne. A própria distinção que muitos fazem entre “coisas básicas” e “coisas profundas” é antibíblica: Jesus e Paulo falam da eleição, depravação, regeneração e justificação como catecismo básico do cristianismo. O problema não é que a igreja não aguente alimento sólido; é que muitos pastores preferem continuar servindo papinha para não confrontar as cabras e perder seus aplausos.