Por Yuri Andrei Schein
O texto de Gênesis 1.26-28 apresenta o chamado “mandato cultural”: o homem criado à imagem de Deus deve dominar sobre a criação e multiplicar-se, enchendo a terra. O objetivo não era simplesmente demográfico, mas teológico: encher a terra com portadores da imagem divina, de modo que a glória de Deus se refletisse em toda a ordem criada.
O problema é que, após a queda, os homens continuaram a se multiplicar biologicamente, *mas não refletiam mais a imagem santa de Deus, e sim a corrupção do pecado.* O resultado é a geração de Caim, os gigantes de Gênesis 6, a Babel de Gênesis 11 — uma “multiplicação da maldade”.
Cristo, como o último Adão (1Co 15.45), vem restaurar e cumprir o que o primeiro falhou. Ele recebe do Pai toda autoridade nos céus e na terra (Mt 28.18), eco direto do “domínio” de Gênesis 1. Mas agora esse domínio não é apenas cultural ou biológico, mas espiritual e escatológico.
O “crescei e multiplicai-vos” de Gênesis encontra seu cumprimento tipológico e redentor em “ide e fazei discípulos de todas as nações” (Mt 28.19). O paralelo é inescapável:
Em Gênesis, o homem deve encher a terra de descendência física, imagem de Deus em Adão.
*Em Mateus, a Igreja deve encher a terra de descendência espiritual, imagem de Cristo, o Filho perfeito.*
O que era apenas sombrio e provisório em Gênesis, torna-se definitivo em Mateus. Como diz Paulo, em Cristo “nos revestimos do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e santidade” (Ef 4.24). O mandato original é reeditado, mas agora purificado da corrupção adâmica.
A missão da Igreja, portanto, não é um plano alternativo, mas a plenitude do projeto de criação: encher o mundo de filhos de Deus. Assim, o eco de Gênesis 1.28 ressoa até Habacuque 2.14: “A terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar”.
Implicações:
1. O discipulado é o verdadeiro “crescimento e multiplicação”. Evangelismo não é opcional; é o próprio cumprimento do mandato cultural.
2. O domínio é exercido não pela espada de César, mas pelo cetro de Cristo, através da Palavra e do Espírito.
3. O sentido da história é a consumação do Éden em escala cósmica: uma nova humanidade, redimida, enchendo a Nova Terra.
Portanto, podemos afirmar sem hesitar: o mandamento de multiplicar em Gênesis 1 encontra seu clímax e cumprimento no mandamento de fazer discípulos em Mateus 28.
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