quinta-feira, 25 de setembro de 2025

O Ocasionalismo de Gordon Clark

 


Por Yuri Schein

Os clarkianos que babam na sola do sapato de Gordon Clark e torcem o nariz para Vincent Cheung, especialmente quando o assunto é ocasionalismo, deveriam se dar ao trabalho de ler o próprio Clark antes de cuspirem fogo contra Cheung. Afinal, o que eles chamam de “heresias malebranchianas” em Cheung, Clark já tinha reconhecido com clareza e sem vergonha alguma.

Clark, em Senhor Deus da Verdade, diz:

 “O que os teólogos de Westminster chamam de causas secundárias Malebranche chama de Ocasiões.”¹

E aqui está o ponto crucial: ao reconhecer que as “causas secundárias” da Confissão são o mesmo que Malebranche chamou de ocasiões, Clark está assumindo que Deus é a única causa metafísica real, e que as criaturas não passam de meros pontos-de-referência providenciais — ou seja, ocasiões. Isso não é uma metáfora: é ocasionalismo puro, e quem negar precisa arrancar essas páginas do Clark e fingir que nunca existiram.

Mas os clarkianos “puristas” têm calafrios quando Cheung usa a mesma linguagem. Eles acusam Cheung de “exagerado”, “não confessional”, “malebranchiano” e até “blasfemo”. Só que se o problema é usar o termo “causas secundárias”, sinto informar: Cheung também o usou em diversos artigos. A diferença é que ele não idolatra a Confissão de Westminster como se fosse uma segunda Bíblia. Cheung é honesto: a Confissão é útil, mas não é inspirada. Ele respeita Westminster muito mais do que os teólogos modernos justamente porque não a coloca em pé de igualdade com a Escritura, e ainda assim procura fundamentar tudo no que chama de deducionismo bíblico.

Os inimigos de Cheung, portanto, caem em contradição. Querem Clark sem ocasionalismo, mas Clark o afirmou. Querem Westminster sem ocasiões, mas a própria Confissão, lida com olhos atentos, não nega que Deus é a causa primeira de absolutamente tudo — inclusive do pecado.

O resultado é que, ao rejeitar Cheung, os clarkianos terminam rejeitando o próprio Clark. E ao rejeitar o ocasionalismo, acabam rejeitando Westminster, porque “causas secundárias” e “ocasiões” são duas expressões para a mesma coisa. No fundo, a birra é contra a ideia de que Deus causa o mal sem ser culpado, mas isso não é invenção de Cheung: é puro supralapsarianismo, é Clark, é Calvino, é Westminster.

Portanto, parem de fingir que Gordon Clark não era ocasionalista. Ele era — metafísica e epistemologicamente. E parem de fingir que Vincent Cheung está inventando moda: ele só está aplicando com coerência o que Clark e Westminster já disseram. O que sobra, então, não é teologia reformada — é só orgulho acadêmico travestido de ortodoxia.

¹ Gordon Clark, Senhor Deus da Verdade, p. 48-49. Editora Monergismo, Pt-Br.


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