por Yuri Schein
O problema da teologia moderna é que ela teme o próprio Deus que professa adorar. Cria refúgios filosóficos para proteger a reputação divina, como se o Altíssimo precisasse de um advogado humano. Assim nascem as distinções antibíblicas entre “decreto permissivo” e “decreto eficaz”, entre “causa moral” e “causa metafísica” — categorias tão artificiais quanto um Aristóteles travestido de reformado. A Escritura, porém, é brutalmente clara: Deus faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade (Ef 1.11). Isso inclui o pecado, o engano, a rebelião e a condenação.
Quando José diz a seus irmãos: “Não fostes vós que me enviastes para cá, mas Deus” (Gn 45.8), ele destrói a idolatria da causalidade secundária. O homem age, mas não causa. Ele é o instrumento que manifesta o decreto. Não há “gosma moral” sendo infundida — o mal é uma forma determinada pelo Oleiro, que molda vasos de ira e vasos de misericórdia conforme o seu propósito eterno (Rm 9.21-23). Adão, Satanás e Faraó foram obras do mesmo Artista, cada um criado com a forma necessária para cumprir o drama divino.
A responsabilidade humana não nasce de liberdade indeterminada, mas da relação ontológica com o Criador. Deus não pede permissão para ser soberano; Ele põe nos corações dos reis o que deseja (Ap 17.17), engana os profetas (Ez 14.9) e predetermina a crucificação de Cristo (At 4.27-28). Falar em “permissão” é negar a onipotência e recair no dualismo pagão. Ocasionalismo não é uma especulação filosófica — é a própria gramática do ser bíblico: só Deus age, e tudo o mais é ocasião para o Seu poder se manifestar.
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