Por Yuri Schein
Desde as montanhas do Himalaia até os tratados de Freud, o ser humano tenta decifrar o abismo que há dentro de si. Os antigos chineses viam esse abismo como o yin e o yang, forças opostas que coexistem em harmonia cósmica. Os psicólogos modernos falam em id e superego, pulsões e repressões. Mas ambos — taoísta e terapeuta — orbitam a mesma ilusão ancestral: a de que a alma humana é um equilíbrio de contradições, não um campo de batalha moral diante de um Deus santo.
O taoísmo ensina que o homem sábio é aquele que “flui com o Dao”, o caminho natural das coisas. Mas o cristianismo responde que o homem não deve fluir, e sim ser regenerado. Fluir com a natureza é afundar com o pecado; apenas o Espírito pode inverter a corrente. Enquanto Lao-Tsé prega a harmonia entre luz e trevas, Paulo afirma que “comunhão há entre a luz e as trevas?” (2Co 6:14). A mitologia chinesa dissolve o mal em poesia; o Evangelho o destrói na cruz.
A psicologia moderna herdou esse mesmo dualismo disfarçado. Ela substituiu o dragão por termos técnicos. Onde o chinês via o Qinglong, o dragão azul que representa o poder da vida, o psicólogo vê “forças inconscientes de autossuperação”. A diferença é apenas linguística. Jung não fez mais que batizar o Tao de “inconsciente coletivo” e transformar os deuses chineses em “arquétipos da psique”. Assim, a idolatria oriental virou idolatria interiorizada.
Mas o Deus da Escritura não mora no inconsciente. Ele não é símbolo, nem arquétipo, nem força dual. Ele é o Legislador que penetra a alma até a divisão da alma e do espírito (Hb 4:12). A psicologia tenta interpretar o homem à luz do homem; o cristianismo o interpreta à luz do decreto.
O homem chinês busca o equilíbrio; o homem regenerado busca a verdade. A alma não é yin e yang — é pó e fôlego de Deus. O problema não é psicológico, é teológico. A cura não é terapêutica, é substitutiva: Cristo, o Cordeiro, no lugar do pecador.
E aqui está o ponto onde a mitologia chinesa e a psicologia ocidental se unem na mesma falácia: ambas tentam salvar o homem sem tocar na culpa. O dragão é domesticado, o ego é ajustado — mas nenhum é crucificado.
O cristianismo, ao contrário, não propõe equilíbrio, mas morte e ressurreição. O Evangelho não cura o “dragão interior”; ele o mata. O verdadeiro autoconhecimento não é olhar para dentro, mas para cima: “Conheçamos e prossigamos em conhecer o Senhor” (Os 6:3).
1. Se o homem é apenas um sistema de forças (yin-yang ou psique), então não há moralidade objetiva.
2. Há moralidade objetiva.
3. Logo, o homem é criatura de um Deus racional, pessoal e moral, e somente diante d’Ele pode se conhecer.
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