sexta-feira, 25 de julho de 2025

Mortificação

 📜 Morrer para o mundo: obra do Espírito, não esforço humano

Vivemos dias em que muitos cristãos falam de "matar o pecado", mas poucos entendem como isso realmente acontece. Na verdade, muitos pensam que devem, com esforço próprio, eliminar o pecado — como se a santidade fosse um troféu conquistado pela disciplina pessoal. Nada poderia estar mais longe da verdade bíblica e reformada.

A Palavra de Deus ensina que a mortificação do pecado não é a causa, mas a consequência da vivificação operada pelo Espírito Santo. Como disse João Calvino:

"A mortificação do pecado é a vivificação do Espírito."

⚠️ Não é o teu esforço que produz vida espiritual, mas é a vida espiritual que Deus soberanamente gera em ti que mortifica o pecado. A carne não pode matar a carne. O homem natural está morto em delitos e pecados (Ef 2:1) e, portanto, é incapaz de fazer morrer qualquer coisa — ele mesmo está morto.


Assim como a luz afugenta naturalmente as trevas, assim também o Espírito de Deus, ao vivificar o eleito, expulsa e mortifica o domínio do pecado. Isso não é fruto do livre-arbítrio, nem de alguma cooperação entre o homem e Deus, mas da operação monergística (única e soberana) do Espírito Santo.


📖 "Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito mortificardes os feitos do corpo, vivereis." (Romanos 8:13)

Observe bem: é “pelo Espírito” que se mortifica o pecado — não por força de vontade ou técnicas humanas.


🌿 Paulo também contrasta claramente obras e fruto. As "obras da carne" são ações humanas; mas o que o Espírito produz em nós não é chamado de obra, mas de fruto:


 “O fruto do Espírito é amor, alegria, paz...” (Gálatas 5:22)


Fruto não é algo fabricado, é algo produzido pela vida interior do Espírito. A árvore não se esforça para dar fruto — ela dá fruto por estar viva. Assim também, aquele que foi vivificado por Deus dará, como consequência inevitável, frutos que incluem a santificação e a morte do pecado.


🙌 Portanto, morrer para o mundo não é uma tarefa autoimposta, mas o resultado necessário da obra de Deus em nós. O verdadeiro cristão não se gloria em sua própria "santidade", mas se prostra diante de Deus com temor e gratidão, sabendo que tudo o que tem é dom imerecido e gracioso.

🕯️ Se há mortificação do pecado em tua vida, é porque há vivificação do Espírito. E se há vivificação, é porque o Deus soberano te regenerou, te chamou, e está te sustentando com poder. A Ele seja toda a glória — hoje e eternamente.


Soli Deo

 Gloria.

✒️ Yuri Schein



quarta-feira, 16 de julho de 2025

O Jovem Rico, o Amor e Expiação Limitada


❓ Pergunta recebida:

> “Schein, boa noite. Uma dúvida sincera: na passagem do jovem rico em Lucas, onde diz que ‘Jesus o amou’, logo ele sai. Isso implica contra a expiação ilimitada?”

✍️ Resposta reformulada, ampliada e enriquecida:

Boa noite, meu caro. Excelente pergunta — e, como todo questionamento sincero, precisa ser desinfectado de pressupostos contaminados antes que possamos analisá-lo.

Primeiro, vamos colocar as cartas na mesa: a expressão “Jesus o amou” não representa nem um tropeço na doutrina da expiação limitada (ou definida, particular ou eficaz, chame como quiser). Pelo contrário, a passagem só confirma quão falha é a leitura superficial que confunde cada menção do verbo agapáō com uma garantia universal de redenção.

⚙️ Desmontando o mito do “amor salvífico universal”

O erro aqui nasce de uma expectativa irracional: imaginar que cada vez que Cristo ama alguém, Ele necessariamente derrama sobre esse alguém os méritos da Sua morte expiatória. É quase como pensar que toda simpatia divina exige um depósito automático de sangue redentor — uma teologia da expiação como se fosse Pix, instantâneo e universal.

Mas, biblicamente, a coisa não funciona assim. O mesmo Cristo que nos manda “amar os inimigos” (Lucas 6:27) pratica, de fato, esse amor perfeito. Amar (agapáō) aqui significa demonstrar benignidade, compaixão, respeito, desejo sincero de bem; mas não implica, nem de longe, decretar salvação eterna.

Se fosse assim, Cristo também teria morrido pelos fariseus a quem chamou de “raça de víboras” (Mateus 23:33) — o que, curiosamente, não combina muito bem com o sentido real da expiação limitada ensinada nas Escrituras.

📜 Expiação limitada ≠ incapacidade de amar moralmente

A doutrina reformada ensina que Deus ama os eleitos com amor salvífico, eficaz e invencível — um amor que alcança o alvo. Aos demais, Deus pode expressar bondade, paciência e até afeto benevolente. Mas isso nunca foi sinônimo de decretar redenção.

O jovem rico foi amado no sentido mais nobre: Cristo, o homem perfeito, cumpriu integralmente o mandamento de amar o próximo, mesmo que esse próximo fosse teimoso e escravo das riquezas. Isso não “quebra” a doutrina da expiação limitada; ao contrário, revela a santidade do Salvador que amava até mesmo quem não estava predestinado a crer.

🧐 E se ele tivesse se convertido depois?

A Escritura não registra se o jovem rico morreu incrédulo ou se, tempos depois, caiu em si como o filho pródigo. É possível que ele tenha se convertido. É possível que não. Só Deus sabe. Mas note: a robustez da expiação limitada não depende de especulações biográficas. Ela se apoia nos decretos eternos de Deus, que não sofrem abalo pela liberdade humana (ou melhor: pela servidão voluntária do pecador).

🧠 Sobre “Agapáō”: o grego não é mágico

Alguns irmãos — tomados por uma quase superstição léxica — acreditam que agapáō carrega um “poder” espiritual absoluto que obriga a salvação. Não. Agapáō designa um tipo de amor que pode ser genuíno, profundo, puro — sem que seja automaticamente redentor.

Cristo amou Jerusalém (agapáō) e mesmo assim declarou: “Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos… e não quiseste” (Mateus 23:37). O verbo é forte, nobre, mas não mágico: não transforma vontade decretiva de Deus num amuleto gramatical.

🛡 Conclusão

A passagem do jovem rico não ameaça a expiação limitada nem com uma espada de brinquedo. A verdadeira ameaça é quando alguém lê o texto carregando pressupostos arminianos de “amor universal” — como se Deus fosse obrigado a tentar salvar todos, fracassando muitas vezes.

Mas o Deus revelado na Escritura não fracassa. Ele ama de forma santa e perfeita; Ele salva eficazmente apenas quem Ele escolheu desde antes da fundação do mundo. O resto é sentimentalismo teológico com aparência de grego.

No fim das contas, agapáō não salva ninguém; quem salva é o Cordeiro de Deus que, voluntária e eficazmente, derramou Seu sangue não por todos sem exceção, mas por todos os que o Pai Lhe deu.

E, por favor, não confundamos um mandamento moral (“amar o próximo”) com o decreto eterno de expiação. Nem mesmo o grego suporta esse peso.


quarta-feira, 9 de julho de 2025

Romanos 11.32: A Soberania Insondável e a Misericórdia Ordenada de Deus


Uma análise exegética e teológica com base em Wallace, Murray, Piper, Cheung e Clark

 "Porque Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para com todos usar de misericórdia." (Romanos 11.32)

Romanos 11.32 ocupa um lugar culminante na argumentação de Paulo nos capítulos 9–11 da carta aos Romanos. Depois de explorar o endurecimento parcial de Israel, a salvação dos gentios e a esperança de restauração final de Israel, Paulo conclui com a declaração de que Deus encerrou (συνέκλεισεν) todos na desobediência, para que pudesse ter misericórdia de todos. Esta frase, longe de ser periférica, concentra alguns dos mais profundos mistérios do plano divino, tocando diretamente a relação entre os decretos de Deus, a liberdade humana, o pecado e a graça.

Neste capítulo, reuniremos as análises de Daniel B. Wallace, John Murray e John Piper, ampliando com a teologia de Vincent Cheung e Gordon Clark, para mostrar como o texto revela a soberania ativa de Deus sobre todas as coisas — inclusive o pecado — sem comprometer sua santidade, e como esse governo absoluto é a base para a manifestação de sua misericórdia.


✍️ Wallace: A gramática da finalidade divina

Em Greek Grammar Beyond the Basics, Daniel B. Wallace explica que o grego ἵνα (hina) com o verbo no subjuntivo muitas vezes indica propósito intencional — aquilo que Deus realmente quis alcançar. No caso de Romanos 11.32, Wallace entende que não estamos apenas diante de um resultado casual, mas de um propósito decretado por Deus: Ele encerrou todos debaixo da desobediência com o propósito de usar de misericórdia para com todos.

Para Wallace, a força do ἵνα demonstra que:

A desobediência universal não foi um acidente histórico, mas um ato soberano de Deus.

A misericórdia não é uma reação de Deus a algo imprevisto, mas o fim pretendido do plano divino.

Desse modo, o endurecimento de Israel e a incredulidade geral dos homens fazem parte de um desígnio divino coerente, cujo ápice é a manifestação da misericórdia. Este aspecto gramatical destrói qualquer teologia que veja a história da salvação como um “plano B” de Deus diante do fracasso humano.


⭐ Murray: O propósito redentor e a misericórdia

No seu clássico The Epistle to the Romans, John Murray desenvolve a ideia de que Deus, ao “encerrar a todos na desobediência”, revela um propósito redentor. Ele escreve:

“O design de Deus é fazer da miséria provocada pelo pecado o palco em que brilhará a sua misericórdia.”

Murray rejeita que Romanos 11.32 ensine universalismo (todos sem exceção sendo salvos), mas sustenta que “todos” refere-se a judeus e gentios — todos os tipos de homens, sem distinção étnica.

A grande tese de Murray é que Deus permitiu e ordenou que tanto judeus como gentios fossem incluídos na desobediência, a fim de demonstrar a misericórdia de modo mais glorioso. Assim, a dureza do coração de Israel não frustra os planos de Deus; antes, é o próprio Deus quem planejou essa dureza como parte do processo histórico que culmina na manifestação de sua graça.


 🙏Piper: Soberania providencial e adoração

John Piper, em suas pregações e escritos sobre Romanos 11, ecoa e expande a visão de Murray, com ênfase especial na soberania de Deus. Piper escreve:

 “A misericórdia de Deus não é uma ideia improvisada em resposta ao fracasso de Israel; ela é o clímax do plano de Deus que inclui a desobediência como parte de seu desígnio soberano.”

Para Piper, a lógica de Paulo leva inevitavelmente ao verso seguinte: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus!” (v. 33). A correta compreensão da soberania de Deus não gera frieza ou fatalismo, mas adoração: Deus planejou até mesmo a queda e a dureza humana para magnificar a grandeza de sua misericórdia.

Piper também ressalta que a misericórdia aqui não é universalismo, mas a abrangência do plano de Deus que inclui todos os povos, superando as divisões étnicas.


👉 Cheung: O decreto soberano e a causalidade divina

Vincent Cheung, em textos como The Author of Sin e Systematic Theology, vai mais fundo: para ele, Romanos 11.32 não apenas sugere que Deus usou a desobediência como meio, mas que Ele causou a própria desobediência, mantendo intacta Sua santidade porque Deus é a única causa verdadeira de tudo, e o mal existe para que Sua misericórdia brilhe mais.

Cheung escreve:

 “Se Deus encerrou a todos na desobediência, então a desobediência não ocorreu independentemente de Sua vontade, mas é uma consequência direta de Seu decreto eterno.”

Assim, o encerramento na desobediência não é apenas um “permitir passivo”, mas um ato positivo do decreto soberano, cujo fim é a demonstração da misericórdia. Essa visão está fundamentada na convicção ocasionalista de Cheung: Deus move todas as vontades, inclusive as rebeldes, sem que isso torne Deus pecador. Ele cita passagens como:

Provérbios 16.4: “O Senhor fez todas as coisas para atender aos seus próprios desígnios, até o ímpio para o dia do mal.”

Atos 2.23: “Este [Jesus], entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, vós o tomastes.”

Cheung afirma que negar que Deus decretou e causou a desobediência é negar a própria força do ἵνα: o objetivo da desobediência foi estabelecido desde a eternidade.


🧩 Clark: Soberania, lógica e necessidade

Gordon Clark, em Predestination e God and Evil, defende posição semelhante: Deus decretou não apenas os eventos bons, mas também os maus. Para Clark, a linguagem de Romanos 11.32 exclui qualquer visão arminiana ou molinista: se “Deus encerrou a todos na desobediência”, então a desobediência faz parte do plano eterno.

Clark afirma que Deus não é autor do pecado no sentido moral (Deus não peca), mas é o autor do mundo no qual existe o pecado — e Ele decretou o pecado para que pudesse exibir Sua misericórdia, Sua justiça e Sua graça. A relação entre decreto e responsabilidade humana permanece um mistério, mas é sustentada pela revelação bíblica.

Ele escreve:

“Não existe evento contingente para Deus; mesmo o pecado foi determinado por Ele para um fim bom.”

(Predestination, p. 53)

Assim, Clark vê Romanos 11.32 como uma declaração explícita da soberania metafísica de Deus: não apenas sobre as consequências, mas sobre as próprias causas do pecado.


🧑‍🏫 Conclusão: A profundidade do plano eterno

Ao reunirmos Wallace, Murray, Piper, Cheung e Clark, vemos um quadro coerente:

Deus decretou e causou a desobediência (Cheung e Clark);

Deus fez isso com o propósito final de demonstrar misericórdia (Wallace e Murray);

Essa soberania leva à adoração e não ao fatalismo (Piper).

O verso 32 não apresenta um Deus reagindo ao mal, mas um Deus planejando todas as coisas, inclusive o mal, para revelar Sua glória e graça.

Paulo conclui:

“Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus!” (v. 33)

A correta leitura de Romanos 11.32 não nos deixa com um “Deus que apenas permite”, mas com um Deus que ordena, governa e até causa todas as coisas, para que o bem maior — Sua misericórdia e glória — resplandeça.

E como diriam Cheung e Clark: negar essa causalidade divina equivale a negar a própria força do texto bíblico e a exaltar a autonomia humana, destruindo a base da fé reformada.


terça-feira, 8 de julho de 2025

Alá não é o Deus da Bíblia:


É isso mesmo: embora linguisticamente “Alá” signifique apenas “Deus” em árabe (e cristãos árabes usem esse termo há séculos), o conteúdo teológico que o Islã atribui a Alá é radicalmente diferente daquele revelado pelo verdadeiro Deus da Bíblia.

📜 Do ponto de vista bíblico (Gl 1.8–9):

"Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo vindo do céu vos pregasse um evangelho diferente daquele que já vos pregamos, seja anátema."

O apóstolo Paulo alerta que qualquer “outro evangelho” vindo mesmo que de “um anjo” deve ser rejeitado e considerado maldito (anátema).

Segundo a tradição islâmica, o Alcorão teria sido revelado por intermédio do anjo Gabriel a Maomé, trazendo uma mensagem diferente da Bíblia, que nega a Trindade, a filiação divina de Cristo, a cruz e a expiação.


✝ Diferenças fundamentais entre o Deus da Bíblia e o “Deus” descrito pelo Alcorão:

1️⃣ O Deus da Bíblia é Trino — Pai, Filho e Espírito Santo; o Alcorão nega explicitamente a Trindade (Sura 4:171; 5:73).

2️⃣ O Deus da Bíblia revelou-se plenamente em Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem; o Alcorão nega que Jesus seja Deus (Sura 5:72).

3️⃣ O Alcorão nega a crucificação e a ressurreição (Sura 4:157); mas Paulo afirma que sem a ressurreição, nossa fé é vã (1 Coríntios 15:14).


☝ Portanto: embora a palavra “Alá” possa ser usada por cristãos de língua árabe de forma neutra para “Deus”, o “Alá” como definido no Islã não é o Deus revelado em Jesus Cristo; é, do ponto de vista bíblico, um deus falso (1 Coríntios 8:5–6).

✅ Conclusão:

– Não importa se a revelação vem de anjo, profeta ou tradição: se nega o evangelho revelado de Cristo crucificado e ressuscitado, é anátema.

– O Deus do Islã não é o mesmo Deus da Bíblia, pois nega os aspectos centrais do evangelho.

Os Cinco Pontos do Calvinismo — As Doutrinas da Graça

 

Por Yuri Schein


Os chamados Cinco Pontos do Calvinismo são amplamente conhecidos hoje em todo o mundo evangélico e também são chamados de "Doutrinas da Graça". Essa designação surge do fato de que esses pontos foram formulados para exaltar, proteger e esclarecer a glória da graça soberana de Deus na salvação, contrapondo-se a qualquer ideia de mérito ou livre-arbítrio autônomo do homem.

Tradicionalmente, esses cinco pontos são organizados em um acróstico em inglês, TULIP, que facilita a memorização e o ensino:

Total Depravity (Depravação Total)

Unconditional Election (Eleição Incondicional)

Limited Atonement (Expiação Limitada)

Irresistible Grace (Graça Irresistível)

Perseverance of the Saints (Perseverança dos Santos)

A origem precisa desse acróstico não é totalmente conhecida; ele provavelmente foi popularizado no contexto anglófono entre o final do século XIX e início do século XX, como resumo das conclusões do Sínodo de Dort (1618–1619), que respondeu aos ensinos do arminianismo. A seguir, cada ponto é explicado com maior profundidade e acompanhado de sua farta base bíblica.

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T – Depravação Total

Desde a queda no Éden, a natureza humana foi corrompida de tal forma que todo homem nasce espiritualmente morto, alienado de Deus e escravo do pecado. Essa depravação é “total” não no sentido de que cada homem é tão mau quanto poderia ser, mas porque toda a pessoa — mente, vontade, afeições — está corrompida, impossibilitada de buscar, amar, obedecer ou sequer desejar a Deus de modo verdadeiro sem a ação soberana de Sua graça.

Base bíblica:

Gn 2.16-17; Gn 6.5; Gn 8.21; 1 Rs 8.46; Sl 14.1-3; Sl 51.5; Sl 53.1-6; Sl 58.3; Sl 143.2; Is 64.6; Jr 13.23; Jr 17.9; Mt 19.21; Jo 5.40; Jo 8.44; Rm 3.9-20; Rm 5.12,18; Rm 7.14-25; 1 Co 2.14; 1 Co 15.22; Ef 2.1-3; Cl 2.13; Tg 3.2; 1 Jo 1.8-10; 1 Jo 5.19


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U – Eleição Incondicional

Antes da fundação do mundo, Deus, segundo o beneplácito de Sua vontade, escolheu soberanamente, em Cristo, todos aqueles que haveriam de ser salvos. Essa escolha não se baseou em previsões de obras, méritos ou fé futura, mas unicamente em Sua graça, misericórdia e prazer soberano, visando manifestar Sua glória e bondade.

Base bíblica:

1 Rs 8.53; Sl 65.4; Sl 78.67-70; Pv 16.4; Is 41.8-9; Mt 24.22,31; Mc 4.11-12; Jo 8.46-47; Jo 13.18; Jo 15.16-19; Jo 17.2-24; At 13.48; Rm 8.28-30; Rm 9.6-24; Rm 11.1-10; Ef 1.3-12; 1 Ts 1.4-5; 1 Ts 5.9; 2 Ts 2.13; 2 Tm 1.9; 2 Tm 2.10; Tt 1.1-2; 1 Pe 1.1-2; 1 Pe 2.7-10; Jd 4; Ap 17.14


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L – Expiação Limitada

Também chamada de Redenção Particular ou Expiação Definida, ensina que a morte de Cristo teve como propósito efetivo salvar os eleitos. Embora Seu sacrifício seja de valor infinito e suficiente para todos, Ele morreu intencionalmente para resgatar, redimir e unir em um só corpo apenas aqueles que o Pai Lhe deu.

Base bíblica:

Is 53.11-12; Mt 1.21; Mt 20.28; Mt 26.28; Mc 14.24; Jo 3.16-18; Jo 10.11-15; Jo 11.51-52; Jo 15.13; Jo 17.9,20; At 18.9-10; At 20.28; Rm 4.25; Rm 5.8; Rm 8.32-34; 1 Co 2.12; Gl 2.20; Ef 5.2,25-27; Tt 2.13-14; Hb 2.10-14; Hb 5.9; Hb 9.28; Hb 10.10-14; 1 Jo 4.9; Ap 1.5; Ap 5.9

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I – Graça Irresistível

Apesar do nome, essa doutrina não nega que o homem naturalmente resiste a Deus (At 7.51). Ela afirma que, no chamado eficaz, o Espírito Santo soberanamente vence essa resistência interior, transformando corações de pedra em corações de carne. Assim, todos os que Deus chama eficazmente, vêm de fato a Cristo, pois Ele mesmo opera neles tanto o querer quanto o realizar.

Base bíblica:

Is 14.27; Ez 11.19; Ez 36.26; Mt 11.27; Jo 1.12-13; Jo 5.25; Jo 6.44-45; Jo 10.16,26-27; Jo 15.5; Lc 14.16-24; At 2.39; At 16.14; At 26.18; Rm 8.29-30; Rm 9.11-12; 1 Co 1.23-24; 2 Co 4.4-6; Gl 1.15; Ef 1.18-20; 2 Ts 2.13-14; 2 Tm 1.9; Tt 3.4-5; 2 Pe 2.9; 1 Pe 5.10; 2 Pe 1.3

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P – Perseverança dos Santos

Também chamada de Preservação dos Santos, Segurança Eterna ou Certeza da Salvação, essa doutrina ensina que todos os que verdadeiramente foram escolhidos, chamados e regenerados por Deus jamais se perderão. Eles podem tropeçar e pecar, mas são guardados pelo poder divino e hão de perseverar até o fim, pois Aquele que começou a boa obra é fiel para completá-la.

Base bíblica:

Dt 30.6; Ez 36.27; Jr 32.40; Jo 5.24; Jo 6.39-40; Jo 10.26-29; Jo 14.3; Jo 17.12; Rm 5.17; Rm 8.30-39; Rm 11.25-29; Rm 14.4; Rm 16.25; 1 Co 1.8-9; 1 Co 10.13; 2 Co 1.22; Fp 1.6; 2 Tm 1.12; Hb 6.17-20; Hb 10.14,23; Hb 13.20-21; 1 Pe 1.1-9; 1 Pe 5.10; 1 Jo 2.19; Jd 24

Essas doutrinas não são fruto de mera especulação teológica, mas refletem uma leitura coerente e reverente das Escrituras, em que Deus é exaltado como o autor soberano da salvação do início ao fim, e toda a glória Lhe pertence. Essa é a verdadeira essência das Doutrinas da Graça: afirmar, com alegria, que "dEle, por Ele e para Ele são todas as coisas" (Rm 11.36).


"Faça ou não faça. Tentativa não há."


Essa famosa frase do Yoda resume, de certa forma, muito do que chamamos de confiança. No universo de Star Wars, é confiança no poder da Força — uma crença de que existe algo invisível que controla tudo e que o usuário pode manipular.

Mas dentro de um contexto cristão, quando enfrentamos obstáculos, a verdadeira confiança está em crer que a Palavra de Deus cumprirá exatamente o que Ele prometeu. Não se trata apenas de mover objetos com a mente — algo que nossa imaginação cética facilmente associa a magia — mas de enfrentar e vencer qualquer adversidade: seja uma doença, o pecado, uma provação ou sofrimento.


Infelizmente, muitos arminianos costumam separar a fé da soberania absoluta de Deus, tratando-a como uma atitude independente, uma espécie de coragem ou decisão isolada do ser humano diante do problema. Já alguns calvinistas, por outro lado, caem em outro erro: pensam que talvez Deus não tenha decretado a vitória naquela situação específica — e por isso hesitam em crer de forma firme.

Ambas as posturas estão equivocadas. A nossa fé não deve se apoiar na vontade oculta de Deus (ou seja, no que Ele decretou secretamente), mas sim em Suas promessas reveladas. Quando Deus prometeu agir mediante a oração, ou quando disse que podemos falar algo pela fé e isso acontecerá, é nossa responsabilidade crer que assim será. Essa é a verdadeira fé: crer que Deus é fiel para cumprir o que Ele mesmo disse.

Portanto, como diz a frase:

"Faça ou não faça. Tentativa não há."

Na vida cristã, isso significa: creia de todo o coração nas promessas de Deus — ou simplesmente não creia. Não existe meio termo, porque fé verdadeira não é dúvida disfarçada; é certeza fundada na Palavra infalível do Deus soberano. 🙏📖✨

#Fé #Confiança #SoberaniaDeDeus #TeologiaReformada #StarWars #Pressuposicionalismo

quinta-feira, 3 de julho de 2025

Mansidão bíblica não é passar pano: a lição que ninguém quer ouvir

 


A Bíblia nos ordena a sermos mansos. Jesus mesmo diz para aprendermos dele, que é “manso e humilde de coração” (Mt 11.28-30). Maravilha. Só que, curiosamente, o mesmo Jesus que nos convida ao descanso com essa mansidão celestial também entrou no templo com um chicote, derrubou mesas, expulsou cambistas (Jo 2.14-17) e ainda fez questão de chamar uma elite religiosa inteira de “raça de víboras” (Mt 23.13-39). Para completar, Ele não economizou na repreensão aos discípulos incrédulos (Mt 16.14) e até mesmo a um respeitadíssimo mestre de Israel, Nicodemos, que levou um belo “Tu és mestre em Israel e não sabes estas coisas?” (Jo 3.10).

Jesus também apontou o dedo na cara dos fariseus e saduceus (Mt 12.29; 22.29), dizendo sem rodeios que eles não conheciam nem as Escrituras nem o poder de Deus. E aos discípulos no caminho de Emaús, que eram os “do time dele”, chamou de “nécios e tardios de coração” (Lc 24.25). Traduzindo para o português mais popular: “vocês são lerdos demais para crer”.

Ou seja, a mansidão que Jesus viveu não tem nada a ver com a mansidão de comercial de margarina que muitos cristãos acham que devem praticar hoje. Não é um convite à covardia ou à conivência com o erro, muito menos um “seja legal para ver se cola”. É uma postura humilde diante de Deus e firme contra o pecado, contra a heresia e contra a hipocrisia.

Veja Pedro, por exemplo. O mesmo apóstolo que manda que demos razão da esperança “com mansidão e temor” (1Pe 3.15-16) também não tremeu ao dizer ao povo judeu que eles mataram o Messias (At 2.36; 4.10). E quando tentou-se silenciá-lo, respondeu com a clássica: “Importa obedecer a Deus antes que aos homens” (At 5.29). Quando Simão tentou comprar o dom do Espírito Santo, Pedro não chamou para tomar um café e “dialogar”: lançou logo um “pereça tu com o teu dinheiro” (At 8.20-21).

E Paulo? Esse então escancara a falácia da “mansidão covarde” como ninguém. Chama Elimas de “filho do diabo” (At 13.10), diz aos gálatas que eles são “estúpidos” (Gl 3.1), e chega ao ponto de desejar que os falsos mestres que perturbavam os gálatas se castrassem (Gl 5.12). Tudo isso vindo do mesmo Paulo que escreveu belíssimas exortações sobre amor, paciência e mansidão. A lição é óbvia: Paulo era manso diante de Deus, mas um leão quando alguém deturpava o evangelho.

Paulo não fez campanha de diálogo inter-religioso, não chamou hereges para sentar num talk show gospel e “fazer pontes”. Pelo contrário: lançou uma maldição (anátema) sobre quem anunciasse outro evangelho (Gl 1.8-9). E antes que alguém diga “mas isso foi só naquela época”, o texto ainda repete duas vezes, só para deixar claro que não foi um surto de mau humor apostólico.

O que isso significa? Significa que um pecado, uma fraqueza ou um tropeço pode — e deve — ser exortado com paciência, mansidão e desejo sincero de restauração. Mas quando alguém prega heresia publicamente, o correto não é ficar em silêncio ou dar tapinha nas costas. É rechaçar publicamente, expor o falso mestre, chamá-lo pelo que é e, sim, humilhá-lo se for necessário, para proteger o rebanho.

Quem prefere a mansidão “fofa” e inofensiva, aquela que tolera tudo, na prática abraça um padrão humanista, não bíblico. É o mesmo padrão que não quer ofender ninguém — exceto a verdade. A Bíblia não manda ser manso com o diabo nem com falsos evangelhos; manda ser manso quando defendemos a fé e quando tratamos de restaurar irmãos que tropeçam (Gl 6.1). Mas quando a questão é defender a sã doutrina contra heresia, não existe “mansidão Nutella” que justifique calar-se.

Afinal, mansidão bíblica não é covardia — é coragem submissa a Deus. É estar disposto a virar a outra face por amor ao próximo, mas nunca virar as costas quando a verdade do evangelho está sendo atacada.

A tolerância com falsos ensinos é, de fato, a marca registrada dos que trocaram a verdade pela opinião pública e o temor de Deus pelo medo do cancelamento.

E como sempre, a Escritura segue dizendo: “Sede mansos, sim. Mas não sedes tolos.”

terça-feira, 1 de julho de 2025

O Arminianismo Interior | Hebreus 6


Baseado em Vincent Cheung, ampliado

Hebreus 6 diz que aqueles que receberam os itens listados — foram “iluminados”, “provaram o dom celestial”, “se tornaram participantes do Espírito Santo” e “experimentaram a bondade da palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro” — se, depois disso, caírem, não podem ser renovados outra vez para arrependimento. Ora, como é isso o que está escrito, é isso que significa. Mas a questão essencial é: quem exatamente são essas pessoas? E o mais importante: o texto realmente descreve a apostasia final de um crente verdadeiro?

Poderíamos argumentar, por exemplo, a partir de Judas Iscariotes. Ele exerceu de fato poderes do mundo vindouro: expulsou demônios, curou enfermos e anunciou o Reino (cf. Mateus 10.1–8). Ainda assim, Jesus disse claramente: “Um de vós é um diabo” (João 6.70). Judas nunca foi verdadeiramente convertido; ele participou exteriormente da comunidade do povo de Deus, experimentou dons e bênçãos temporais do Espírito, mas nunca nasceu de novo. Assim, Judas exemplifica alguém que prova superficialmente as coisas de Deus sem jamais possuir a regeneração interior.

Mesmo assim, essa discussão sobre quem exatamente são esses descritos em Hebreus 6 já é, por si mesma, secundária. É irrelevante para o ponto central da passagem. O texto não afirma que isso de fato aconteceu com os leitores originais. Ao contrário, após advertir com severidade, o autor imediatamente diz:

“Amados, mesmo falando dessa forma, estamos convictos de coisas melhores em relação a vocês, coisas próprias da salvação” (Hebreus 6.9).

Isto é decisivo: o autor deixa claro que está convicto de que os crentes genuínos aos quais ele escreve não passarão por tal apostasia. Assim, a passagem não fornece base alguma para o arminianismo, pois não está descrevendo um caso real de perda da salvação, mas apenas apresentando uma advertência hipotética, cujo propósito é manter os santos vigilantes e perseverantes.

Podemos ilustrar assim: imagine que eu diga: “Se Deus morresse, todo o universo desapareceria.” A frase em si expressa uma verdade condicional sobre a dependência da criação em relação ao Criador. Mas isso significa que existe a real possibilidade de Deus morrer? Obviamente não! Seria absurdo concluir isso. A frase só destaca a total dependência da criação diante da impossibilidade de tal condição. Da mesma forma, Hebreus 6 fala de uma consequência terrível se alguém caísse após ter experimentado essas coisas — mas não afirma que isso realmente ocorrerá aos verdadeiros crentes.

O contexto geral de Hebreus reforça isso: o autor enfatiza repetidas vezes a fidelidade de Deus em conduzir seus filhos até o fim (cf. Hebreus 3.14; 10.14; 10.39; 12.2). A carta inteira exorta à perseverança justamente porque Deus é o autor e consumador da fé (Hebreus 12.2). Não haveria sentido em exortar, com base na obra de Cristo e na fidelidade de Deus, se tudo dependesse apenas da força humana, como quer o arminianismo.

Portanto, a doutrina reformada da perseverança dos santos afirma que os verdadeiros crentes — aqueles regenerados e unidos a Cristo — jamais cairão total e finalmente da graça. Eles podem tropeçar, vacilar e pecar gravemente, mas não perderão a salvação, pois “aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até o dia de Cristo Jesus” (Filipenses 1.6). Jesus disse:

“Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão” (João 10.28).

A perseverança dos santos não é baseada na fragilidade da vontade humana, mas na imutável graça de Deus, na eficácia da obra redentora de Cristo e no poder preservador do Espírito Santo.

A maior dificuldade em refutar o arminianismo, como Cheung destaca, muitas vezes está no arminianismo interior que persiste em nós mesmos: aquela inclinação natural do coração humano de pensar que tudo depende, no fim das contas, do nosso esforço ou decisão. É preciso mortificar esse pensamento e confiar radicalmente que “é Deus quem efetua em vós tanto o querer quanto o realizar, segundo a sua boa vontade” (Filipenses 2.13).


 Referência:

CHEUNG, Vincent. Blasphemy and Mystery, pp. 51–52.

Traduzido por Luan Tavares em 10/02/2019.

https://projetoexpansionismo.tumblr.com/post/182721134109/o-arminianismo-interior

quinta-feira, 26 de junho de 2025

Refutando o Historicismo

O método historicista de interpretação escatológica tem sido amplamente utilizado desde a Reforma, especialmente por reformadores como Lutero e Calvino, que identificaram o papado com o Anticristo. No entanto, esse método possui problemas exegéticos, contradições internas e falhas sistemáticas que exigem crítica, especialmente à luz de uma hermenêutica calvinista, bíblica e consistente.


⚔️ I. DEFINIÇÃO DO HISTORICISMO

O historicismo interpreta os textos proféticos (especialmente Daniel e Apocalipse) como uma revelação contínua da história da Igreja e do mundo desde os tempos bíblicos até o fim dos tempos. Assim:

Os selos, trombetas e taças do Apocalipse são entendidos como eventos históricos sucessivos, geralmente já ocorridos.

O Anticristo é frequentemente identificado com o papado.

As bestas de Apocalipse 13 seriam instituições religiosas e políticas de épocas específicas.

O “tempo, tempos e metade de um tempo” (Dn 7:25; Ap 12:14) equivale a 1.260 anos, desde algum ponto histórico específico até a Reforma ou outro marco.


🚨 II. CONTRADIÇÕES INTERNAS DO HISTORICISMO


1. Datações arbitrárias e mutáveis

O historicismo nunca foi unânime sobre quais eventos históricos se relacionam a quais símbolos proféticos. Diferentes historicistas colocam os 1.260 dias começando:

No decreto de Justiniano (538 d.C.),

No édito de Fócio (ou até em 756 d.C. com a doação de Pepino),

Ou terminando com Lutero (1517) ou Napoleão (1798).

➡️ Contradição: o mesmo número profético (1.260 dias) pode ter diversas datas de início e fim, dependendo do intérprete, anulando qualquer objetividade.


2. Desconexão com o texto imediato

As visões historicistas muitas vezes ignoram o contexto imediato dos capítulos, forçando aplicações históricas que:

Não fazem sentido no fluxo narrativo do Apocalipse;

Ignoram a estrutura literária interna (sete selos, sete trombetas, sete taças, paralelismos);

Supõem que João escreveu para narrar a Idade Média, o que seria inútil para as sete igrejas da Ásia.


➡️ Contradição: o texto é apresentado como revelação “em breve” (Ap 1:1; 22:6), mas o historicismo adia seu cumprimento por milênios.


3. Anticristo contínuo ou mutável

Historicistas afirmam que o Anticristo é o papado, mas:

Qual papa? O sistema inteiro ou um indivíduo específico?

Como pode o Anticristo ser uma figura corporativa e contínua, enquanto 2 Tessalonicenses 2 descreve “o homem da iniquidade” como um só ser que será revelado e destruído por Cristo?

➡️ Contradição: confusão entre um personagem escatológico e uma instituição contínua, o que desvia do texto bíblico.


4. Eisegese política e ideológica

Muitos historicistas projetam cenários contemporâneos em profecias antigas: Napoleão, Hitler, a ONU, a União Europeia, etc. Isso é mais leitura ideológica do que exegese.

➡️ Resultado: interpretações mutáveis conforme o jornal da época.


📖 III. TEXTOS BÍBLICOS QUE REFUTAM O HISTORICISMO

1. Imediatismo das profecias

“Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer...”

— Apocalipse 1:1

“Não seles as palavras da profecia deste livro, porque o tempo está próximo.”

— Apocalipse 22:10


🛡️ O historicismo desrespeita essas declarações, propondo que o cumprimento ocorreria séculos (ou milênios) depois.


2. Unidade do Anticristo como indivíduo

“Esse perverso será revelado, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro da sua boca...”

— 2 Tessalonicenses 2:8

“O anticristo há de vir.”

— 1 João 2:18


🔍 Os textos falam de um ser, não de uma sucessão de papas ou líderes. O historicismo dilui o conceito bíblico de Anticristo.


3. Simultaneidade dos julgamentos

As taças, trombetas e selos no Apocalipse frequentemente mostram eventos cósmicos simultâneos e climáticos, como terremotos finais, juízo total, etc. Por exemplo:

“E houve relâmpagos, vozes, trovões, e um grande terremoto.”

— Apocalipse 11:19, 16:18

🔁 Isso indica eventos escatológicos finais, não progressivos e históricos.


📉 IV. INCONSISTÊNCIA COM A TEOLOGIA DO DOMÍNIO (PÓS-MILENISMO)

Historicistas protestantes frequentemente associam o domínio do Anticristo com o domínio histórico da Igreja Católica Romana. Mas isso ignora o avanço do Reino profetizado nas Escrituras:


> “O Deus do céu levantará um reino que não será jamais destruído...”

— Daniel 2:44

“O Reino é como o fermento que leveda toda a massa...”

— Mateus 13:33


➡️ A visão historicista tende a ser pessimista e preterista seletiva, enquanto afirma ser futurista para outras partes.


🛑 V. CONCLUSÃO: UMA REFUTAÇÃO SISTEMÁTICA


Resumo das contradições do historicismo:

1. Ignora o tempo imediato declarado pelas Escrituras.

2. É altamente subjetivo, variando com o intérprete.

3. Fragmenta profecias literariamente unificadas.

4. Reduz personagens escatológicos a instituições longas, distorcendo o texto.

5. Contraria o avanço do Reino de Cristo profetizado na Escritura.

6. Torna-se dependente do noticiário, em vez de fundamentar-se na exegese fiel.





terça-feira, 24 de junho de 2025

O Espírito Santo Convence do Pecado



"E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo."

— João 16:8 (ACF)

O termo traduzido como "convencerá" (gr. ἐλέγχω, elegchó) significa, conforme o Dicionário Strong, reprovar, expor, condenar, demonstrar a culpa. Em outras palavras, trata-se de uma denúncia espiritual. O ministério do Espírito Santo, conforme este versículo, não é primariamente regenerar todos os homens, mas expor o mundo como culpado — em especial pela incredulidade em Cristo.

A Função Expositiva do Espírito

Essa palavra aparece amplamente nas Escrituras, sempre com o sentido de repreender, refutar, ou denunciar o erro:

1 Coríntios 14:24 – Um incrédulo entra em uma reunião profética e é convencido e julgado, pois os segredos de seu coração são expostos. A convicção é clara, mas não necessariamente salvífica.

Tiago 2:9 – Aquele que faz acepção de pessoas é convencido pela Lei como transgressor. A função é acusatória, não regenerativa.

João 8:9 e 8:46 – Os fariseus são convencidos por sua própria consciência. Cristo, por sua vez, desafia: “Quem dentre vós me convence de pecado?” O termo aqui significa “provar culpa”, não “levar ao arrependimento”.

João Calvino comenta sobre João 16:8:

 “A função do Espírito é iluminar os réprobos quanto à sua miséria, convencê-los de sua culpa e fechar suas bocas. Isso não significa que todos sejam levados ao arrependimento, mas que ficam inescusáveis diante de Deus.”

(Comentário de João 16:8)


Convencer Não É Regenerar

O verbo elegchó também é usado em:

Judas 1:15 – Para convencer os ímpios de suas obras perversas.

Efésios 5:11–13 – Onde Paulo ordena aos crentes que repreendam as obras das trevas, fazendo-as manifestas.

Jonathan Edwards adverte:

"O Espírito muitas vezes convence os homens de pecado, e mesmo assim eles resistem até o fim, pois o convencimento não é o mesmo que a graça eficaz."

(The Works of Jonathan Edwards, Vol. 2)

Em Tito 1:9, 13 e 2:15, Paulo instrui os presbíteros a refutar, repreender e exortar. Essas ações são instrumentos de exposição — não equivalem à concessão do novo nascimento.

Vincent Cheung comenta:

 "A reprovação é um ministério da Palavra. Mas apenas o Espírito Santo pode transformar essa reprovação em arrependimento. O ministério de convencer é universal, mas a conversão é particular."

(Systematic Theology, Cheung)

Exemplos Práticos: Atos 2 e Atos 7

No sermão de Atos 2, Pedro proclama que Israel crucificou o Cristo (v. 23, 36). O Espírito Santo, recém-derramado, convence do pecado. Mas apenas os que foram designados para a vida eterna creram (At 13:48), pois só a estes Deus concedeu arrependimento (2 Tm 2:25).

Já em Atos 7, Estêvão também denuncia o pecado de Israel. Embora o Espírito Santo estivesse operando por meio dele, os judeus resistem (v. 51). Por quê? Porque, segundo Estêvão, eles eram “incircuncisos de coração” — não regenerados, conforme Dt 30:6, Ez 36:26 e Jo 10:26.

Implicações Doutrinárias

A exposição do pecado é obra comum do Espírito; a regeneração, obra especial e eficaz. O Espírito pode reprovar o mundo sem, no entanto, salvar todos. A graça comum não implica graça salvífica.

Martinho Lutero escreveu:

"O Espírito Santo reprova o mundo, mas só cria fé no coração daqueles que o Pai entregou ao Filho."

(Commentary on John, Luther)

Essa distinção entre exposição e conversão é fundamental para manter a soberania de Deus e a doutrina da eleição. Deus não falha em Seu propósito — mesmo quando permite que homens rejeitem a verdade que os reprova (Rm 9:17–23).


domingo, 22 de junho de 2025

O Dispensacionalismo como Apostasia da Fé Evangélica: Uma Refutação Bíblica, Teológica e Exegética





Introdução

Entre os maiores desvios doutrinários que se alastraram no evangelicalismo moderno está o dispensacionalismo, um sistema criado no século XIX por John Nelson Darby, amplamente divulgado pelas notas da Bíblia de Scofield e hoje difundido em diversos círculos pentecostais e batistas fundamentalistas.


Apesar de sua popularidade, o dispensacionalismo não representa a fé evangélica histórica, reformada ou bíblica. Antes, constitui uma apostasia sistemática, pois:


Divide o povo de Deus em dois;


Perverte a unidade da aliança;


Compromete a soberania divina;


Distorce a interpretação apostólica das promessas;


E ensina uma escatologia absolutamente antibíblica.


Este artigo demonstrará como o dispensacionalismo nega verdades centrais da fé cristã e substitui a hermenêutica inspirada por uma interpretação judaizante, racionalista e geopolítica.



1. O Dispensacionalismo em suas Linhas Gerais


O dispensacionalismo ensina:


Que a história se divide em várias “dispensações” em que Deus lida com o homem de formas diferentes.


Que Israel e a Igreja são dois povos eternamente distintos.


Que haverá um arrebatamento secreto da Igreja, seguido por uma tribulação, uma segunda vinda, um reino milenar terreno em Jerusalém, e depois o juízo final.


Que muitas profecias veterotestamentárias ainda aguardam cumprimento literal em Israel étnico, o que implica que as promessas de Deus não se cumpriram na Igreja.


Tais ideias são completamente estranhas à teologia reformada e à exegese bíblica fiel.


2. Romanos 9 e a Fidelidade de Deus às Suas Promessas


A objeção que Paulo antecipa em Romanos 9 é precisamente a que os dispensacionalistas levantam: “As promessas a Israel falharam?”


“Não que a palavra de Deus haja falhado; porque nem todos os que são de Israel são israelitas.” (Rm 9:6)


Paulo responde: a palavra de Deus não falhou, pois as promessas sempre foram feitas ao Israel espiritual, aos filhos da promessa, não da carne. A verdadeira descendência de Abraão é definida pela eleição soberana, não por etnia ou geopolítica.


“Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência.” (Rm 9:8)


✖️ O Erro Dispensacional:


Ao insistir que as promessas devem se cumprir no Israel étnico futuro, o dispensacionalismo nega explicitamente o argumento de Paulo. Para eles, a palavra de Deus ainda não se cumpriu, pois esperam um reino terrestre judaico. Isso implica, de fato, que a palavra de Deus falhou, o que Paulo nega veementemente.



3. A Rejeição da Hermenêutica Apostólica


O Novo Testamento interpreta o Antigo de forma tipológica, espiritual e cristocêntrica:


Amós 9 é citado em Atos 15 como cumprido na Igreja com a entrada dos gentios.


Joel 2 é aplicado à pregação apostólica em Pentecostes.


Isaías 54 e Gênesis 21 são usados para mostrar que nós somos filhos da promessa, não os da carne (Gálatas 4).



✖️ O Erro Dispensacional:


O dispensacionalismo rejeita essa hermenêutica, lendo as promessas como se estivessem ainda por se cumprir literalmente num Israel étnico restaurado. Isso é um abandono da interpretação inspirada dos próprios apóstolos — uma apostasia hermenêutica.



4. A Unidade do Povo de Deus e a Plenitude em Cristo


A Bíblia ensina claramente que a Igreja é o verdadeiro Israel, herdeira de todas as promessas feitas aos patriarcas:


“Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um, e destruiu a parede de separação...” (Ef 2:14).


“Se sois de Cristo, sois descendência de Abraão e herdeiros segundo a promessa.” (Gl 3:29)


O dispensacionalismo rompe essa unidade ao sustentar dois povos distintos e eternos, o que é uma negação da eclesiologia bíblica e da cristologia redentora.



5. O Ataque à Soberania de Deus


O sistema dispensacionalista requer que Deus modifique seus planos ao longo do tempo, agindo de formas diferentes conforme as “dispensações”. Isso é uma negação da imutabilidade e soberania de Deus.


“O Senhor faz tudo conforme o conselho da sua vontade.” (Ef 1:11)


“Eu sou o Senhor, e não mudo.” (Ml 3:6)



O verdadeiro Deus não precisa reformular seus planos, nem repartir suas bênçãos em fases. Ele é soberano, eterno e age segundo um único decreto eterno.



6. A Heresia Escatológica do Dispensacionalismo e a Contradição com 1 Coríntios 15


O dispensacionalismo ensina que:


Cristo retornará antes de um reino milenar terreno.


A ressurreição dos mortos ocorrerá no início desse reino.


Ainda haverá inimigos, guerras e rebelião após a ressurreição.



Mas a cronologia bíblica em 1 Coríntios 15 é clara e destrói toda essa ficção:


🅐 Cristo já reina agora:


“Convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos seus pés. O último inimigo a ser destruído é a morte.” (1 Co 15:25-26)



Cristo reina agora, e não deixará o trono até que a morte — último inimigo — seja vencida. Ou seja, a ressurreição dos mortos é o fim, não o início do Reino.


🅑 A ressurreição é o fim:


“Depois, o fim, quando entregar o Reino ao Deus e Pai...” (1 Co 15:24)



A ressurreição é imediatamente seguida do fim e da entrega do Reino ao Pai. Não há um milênio literal depois disso.


🅒 Após a ressurreição, nenhum inimigo mais existe:


A morte é o último inimigo, e é vencida na ressurreição. Logo, não há espaço para rebeliões apocalípticas depois da ressurreição, como prega o dispensacionalismo (Ap 20:7–9 interpretado literalmente). Isso contradiz diretamente a escatologia bíblica.



7. Silogismos Finalizadores


Silogismo 1 – Fidelidade de Deus


Se as promessas de Deus são cumpridas na Igreja eleita, e não em Israel étnico, então o dispensacionalismo está errado.


A Escritura afirma que as promessas são para o Israel espiritual.


Logo, o dispensacionalismo está errado.



Silogismo 2 – Unidade do Povo de Deus


Todo sistema que separa a Igreja de Israel contradiz Efésios 2 e Gálatas 3.


O dispensacionalismo separa eternamente Igreja e Israel.


Logo, o dispensacionalismo contradiz a Escritura.



Silogismo 3 – Escatologia Final


Após a ressurreição dos mortos, a morte é vencida e vem o fim.


O dispensacionalismo ensina que haverá inimigos após a ressurreição.


Logo, o dispensacionalismo é falso.



Conclusão


O dispensacionalismo é apostasia teológica, hermenêutica e escatológica. Ele:


Destrói a unidade da aliança,


Corrompe a soberania divina,


Judaiza as promessas bíblicas,


Substitui Cristo por Israel terreno,


E ensina uma escatologia anticristã, antibíblica e irracional.


Não é apenas um erro secundário: é um sistema completo de perversão da verdade evangélica, e deve ser rejeitado por todos os que amam a glória de Cristo revelada nas Escrituras.



📚 Citações e Referências


Gordon H. Clark: “O dispensacionalismo compromete a lógica da revelação bíblica e transforma a profecia numa loteria para o Estado de Israel.” (A Christian View of Men and Things)


Vincent Cheung: “A Bíblia é proposicional, sistemática, e centrada em Cristo — não uma colagem de eventos geopolíticos. Dispensacionalismo é uma idolatria nacionalista.” (Systematic Theology)


João Calvino: “Cristo é o fim da Lei, e todas as promessas de Deus se cumprem em seu corpo, a Igreja.” (Institutas, II.10)


Robert L. Reymond: “O pré-milenismo dispensacionalista é uma doutrina de regressão espiritual e apostasia eclesiológica.” (A New Systematic Theology of the Christian Faith)


Bíblia Sagrada: Romanos 9, Efésios 2, Gálatas 3, 1 Coríntios 15, Atos 15, entre outras passagens cruciais.

sábado, 21 de junho de 2025

Sola Scriptura: A Suprema Autoridade das Escrituras sobre a Tradição


1. As Escrituras São Autoautenticadoras

João 10.27-30

Jesus declarou:

“As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem” (Jo 10.27).

A autoridade da Escritura não depende da aprovação de uma igreja, de um concílio ou de qualquer outra autoridade humana. Como afirma Gordon Clark:

"A Bíblia é a própria Palavra de Deus. O seu valor não repousa em testemunhas externas, mas no seu próprio caráter divino. A autoridade das Escrituras é autojustificada.”

(God and Logic, p. 49)

O testemunho do Espírito Santo nos eleitos é o selo interno que autentica a Palavra no coração regenerado. Isso é o que os reformadores chamavam de testimonium Spiritus Sancti internum. As ovelhas ouvem a voz do seu pastor — a Palavra não precisa ser autorizada por homens, pois é Deus quem fala nela.


Outros textos: 

João 8.47 – “Quem é de Deus ouve as palavras de Deus.”

Hebreus 4.12 – “A palavra de Deus é viva e eficaz.”

João 17.17 – “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.”


Calvino comenta:

“A Escritura carrega em si suficiente evidência de sua autoridade, de modo que não é justo que ela dependa de outros para ser acreditada.”

(Institutas, I.VII.5)


A Autoridade Está no Conteúdo, Não no Mensageiro

Gálatas 1.8-9 Paulo declara:

“Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos pregasse outro evangelho além do que já vos pregamos, seja anátema.” (Gl 1.8)

O conteúdo da mensagem tem supremacia sobre o mensageiro. Nem mesmo apóstolos ou anjos têm autoridade acima do conteúdo revelado por Deus. A Palavra é a regra, e tudo deve ser julgado por ela.


Outros textos:

2 Timóteo 3.16 – “Toda Escritura é inspirada por Deus.”

2 Pedro 1.20-21 – “A profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo.”


Martinho Lutero afirmou no debate com Roma:

“Minha consciência está cativa à Palavra de Deus... a menos que seja convencido pelas Escrituras e pela razão pura — pois não confio nem no papa nem nos concílios, que frequentemente erraram...”


Vincent Cheung reforça:

“A autoridade da Escritura não está em quem a transmite, mas no Deus que a fala. Se até um apóstolo pode ser anátema por negar o evangelho, quanto mais qualquer tradição humana?”

(Ultimate Questions, p. 42)


A Escritura É a Regra Final de Julgamento Doutrinário

Atos 17.11 / Isaías 8.20

Os crentes de Bereia foram chamados “mais nobres” porque não creram apenas por ouvir Paulo, mas examinaram tudo segundo as Escrituras:

“Examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim.” (At 17.11)

“À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles.” (Is 8.20)

Assim, os apóstolos foram julgados pela Escritura — e não o contrário. A Igreja verdadeira se submete à Escritura, jamais a governa.


Clark observa:

“Não é a igreja que valida a Bíblia, mas a Bíblia que regula a igreja. É Deus quem fala nas Escrituras, e toda instância humana está sujeita a ela.”

(The Word of God and the Mind of Man, p. 60)


A Escritura É Suficiente e Completa

2 Timóteo 3.15-17 “Toda Escritura é inspirada por Deus... a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.”

A Escritura é suficiente. Ela não precisa ser suplementada com tradição, concílios, decretos e muito menos com revelações que pretendam ser canônicas. Não negamos que Deus possa falar ou agir hoje, mas qualquer palavra, experiência ou orientação deve ser julgada pela Escritura, jamais tratada como normativa por si mesma.


Outros textos:

Salmo 19.7 – “A lei do Senhor é perfeita e restaura a alma.”

Deuteronômio 4.2 – “Nada acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela.”


Cheung comenta:

“A Escritura é suficiente, e qualquer tentativa de estabelecer outra autoridade normativa ao lado dela é uma negação da soberania de Deus e uma idolatria epistemológica.”

(Presuppositional Confrontations, p. 89)


Cristo Rejeita Tradições que Invalidam a Palavra

Marcos 7.6-13

“Invalidando, assim, a palavra de Deus pela vossa tradição, que vós transmitistes.” (Mc 7.13)

Jesus confrontou os fariseus por elevarem suas tradições ao nível da Escritura. Tradições humanas, ainda que antigas e amplamente praticadas, não têm autoridade divina. Pelo contrário, muitas vezes são obstáculos à obediência verdadeira.


Calvino escreve:

“Onde quer que se introduzam tradições humanas, a pureza da religião é corrompida.”

(Institutas, IV.X.14)


O Cânon Foi Reconhecido, Não Determinado

João 10.4 / Apocalipse 22.18-19

“As ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz.” (Jo 10.4)

“Se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus lhe acrescentará as pragas...” (Ap 22.18)

A igreja não criou o cânon, mas reconheceu o que já era inspirado. Isso é como as ovelhas que reconhecem a voz do pastor — elas não criam a voz, mas a identificam. A advertência de Apocalipse mostra que a revelação escrita é fechada: nada pode ser somado ou retirado.


Clark afirma:

"A Bíblia é completa. Não existe autoridade humana para estabelecer outro cânon. O povo de Deus reconhece as Escrituras, porque Deus mesmo fala por meio delas.”

(What Is the Christian Life?, p. 115)


A Escritura é o Fundamento Inalterável da Igreja

Efésios 2.20

“Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas...”

Os apóstolos e profetas foram instrumentos de revelação. Mas a igreja não é chamada a continuar a fundação, e sim a construir sobre ela. O fundamento já foi posto — e está registrado na Escritura. Toda tentativa de continuar o fundamento é uma destruição da estrutura divina.

O Espírito Ilumina a Escritura, Não a Tradição

1 Coríntios 2.13-14 / João 14.26

“O homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus... porque elas se discernem espiritualmente.” (1Co 2.14)

“O Espírito Santo... vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.” (Jo 14.26)

O Espírito não substitui a Escritura, mas conduz os crentes a entendê-la e amá-la. Ele nos leva de volta à Palavra revelada — não a sistemas humanos ou tradições eclesiásticas. Onde o Espírito opera, há retorno à Escritura.

A Tradição Está Subordinada à Escritura

Toda tradição, confissão, costume ou concílio deve ser julgado pela Escritura, e não o contrário. A Palavra é:

Inspirada por Deus (2Tm 3.16)

Viva e eficaz (Hb 4.12)

Suficiente (2Tm 3.17)

Autoconsciente de sua autoridade (Gl 1.8; Jo 10.27)

Reconhecida pelas ovelhas (Jo 10.4)

Vincent Cheung resume bem:

“Sola Scriptura não significa que toda verdade está na Escritura, mas que toda autoridade normativa e infalível está nela. Fora dela, tudo é falível.”

(The Word of God Is the Word of God, p. 13)

Lutero disse diante do Império: 

“A menos que me provem pelo testemunho das Escrituras e pela razão clara... eu não posso e não quero me retratar de coisa alguma. Aqui estou. Que Deus me ajude. Amém.”





sexta-feira, 20 de junho de 2025

A Fantasia da Graça Generosa e Preveniente: Arminianismo ou Autoajuda Espiritual?

A Fantasia da Graça Generosa e Preveniente: Arminianismo ou Autoajuda Espiritual?

“A graça preveniente é dada generosamente.”

— Arminiano otimista com problemas sérios de leitura bíblica

Dessa vez os arminianos resolveram avançar com uma nova alegação: que a tal "graça preveniente" é generosamente distribuída a todos os homens. Uma espécie de panfleto divino universal, distribuído na praça da salvação com direito a escolha de recebê-lo ou jogá-lo no lixo. Segundo eles, Deus é gracioso demais para não dar a todos uma chance. Parece bonito, parece justo, parece... herético.

Vamos analisar calmamente (e com uma boa dose de ironia) os textos citados.

Romanos 8:32 – A Generosidade Restrita à Aliança

“Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas?”

(Romanos 8:32)

Essa é daquelas passagens que o arminiano cita esperando que o rótulo "graça" em algum lugar funcione como selo universal de aprovação. Mas vamos aos fatos.

Quem são os "nós"?

Vamos ver o contexto imediatamente anterior

 “Sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porque os que dantes conheceu, também os predestinou... e aos que predestinou, também chamou, e aos que chamou, também justificou, e aos que justificou, também glorificou.”

(Romanos 8:28-30)

Então a resposta à pergunta “quem são os ‘nós’?” é simples: os eleitos.

Não é a humanidade.

Não é a massa indistinta de pecadores esperando cooperar com a graça.

É um grupo claramente delimitado pela predestinação, chamado eficaz, justificação e glorificação.


Graça generosa? Sim. Mas para quem?

A generosidade de Deus é inegável. Ele não poupou seu Filho. Mas essa entrega foi feita por todos nós — ou seja, os eleitos.

O versículo não prova uma graça “preveniente” universal; pelo contrário, ele reforça a ideia de graça eficaz e soberana para os eleitos.

O uso desse versículo para defender o sinergismo é tão equivocado quanto citar o Salmo 23 para provar que todos os seres humanos têm uma vara e um cajado. A lógica é insustentável. O arminianismo vive de reciclar versículos com etiquetas trocadas.


Romanos 2:4 – Bondade Desprezada, Não Transformadora

“Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento?”

(Romanos 2:4)

Este texto é um verdadeiro clássico da distorção arminiana. Vamos destrinchar.

A inferência errada: a bondade como oferta de arrependimento

O arminiano vê nesse texto uma graça universal que convida todos os homens ao arrependimento, como se Deus estivesse à porta, com flores, esperando o pecador dizer sim. Mas é só continuar lendo para ver o desastre dessa leitura:

“Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus.”

(Romanos 2:5)

Ou seja: o que Deus está denunciando aqui é o rejeição ativa da bondade por parte dos homens, não a eficácia de uma suposta graça "preveniente". A benignidade não é regeneradora por si mesma, pois o homem natural a despreza.


A concessão do arrependimento é prerrogativa de Deus

Paulo, em outra carta, esclarece que o arrependimento não é fruto da bondade genérica, mas um dom soberano:

 “Instruindo com mansidão os que resistem, a ver se, porventura, Deus lhes dará arrependimento, para conhecerem a verdade.”

(2 Timóteo 2:25)


Não se trata de um convite democrático. É Deus quem dá o arrependimento.

E quando Ele dá, o pecador se arrepende.

Não há cooperação, apenas conversão.


O erro teológico: confundir apelo com capacidade

Aqui entra novamente a lição gramatical-teológica de Lutero:

“Ordenar que alguém se arrependa não implica que ele possa se arrepender por si só.”

Assim, Romanos 2:4 é mais uma testemunha contra o arminianismo, pois demonstra que o homem é incapaz de responder corretamente à benignidade de Deus sem intervenção regeneradora.

O destinatário: o judeu religioso

Não esqueçamos que o alvo dessa exortação é o judeu moralista que presume ter superioridade sobre os gentios. Paulo está desmascarando sua hipocrisia, não construindo uma doutrina de graça universal regeneradora.

Pelo contrário, ele está expondo a dureza do coração impenitente, preparando o terreno para dizer em Romanos 3 que “não há justo, nem um sequer.”

Portanto, essa “graça preveniente generosa” é mais um mito teológico derivado de leituras superficiais e desconexas do texto sagrado.


Atos 17:26-27 – "Se porventura tateando o pudessem achar"

“De um só sangue fez toda a geração dos homens para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados e os limites da sua habitação; para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar, ainda que não está longe de cada um de nós.”

(Atos 17:26-27)

Este texto é como um armário do qual os arminianos tentam tirar toda sorte de doutrinas — graça preveniente, livre-arbítrio, e talvez até veganismo se precisarem.

"Se porventura" = incerteza, não capacidade

Paulo está discursando para um grupo de filósofos pagãos. Ele reconhece que o conhecimento de Deus está disponível pela criação e pela consciência — mas isso não resulta em salvação, pois o homem tateia no escuro, tropeçando em ídolos, filosofias absurdas e pecados.

Não há aqui qualquer afirmação de que o homem pode, em sua natureza caída, encontrar a Deus por conta própria. A frase “se porventura” aponta para a tragédia da ignorância humana, não para a glória do livre-arbítrio.


Romanos 1 já destruiu essa tese

“O que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou... para que fiquem inescusáveis.”

(Romanos 1:19-20)

O conhecimento de Deus suficiente para condenação, mas insuficiente para salvação, está gravado na criação.

E qual é a resposta do homem natural?

“Tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus.”

“Deus os entregou a um sentimento perverso.”

“Não se importaram de ter conhecimento de Deus.”


O homem natural rejeita o conhecimento inato por causa da depravação total. O problema não é a ausência de luz, mas a cegueira moral voluntária.

Como Paulo mesmo diz em 1 Coríntios:

“O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.”

(1 Coríntios 2:14)


O final de Atos 17: zombaria e rejeição

O resultado da pregação de Paulo foi claro:

“Quando ouviram falar da ressurreição dos mortos, uns escarneciam...”

(Atos 17:32)


Ou seja, mesmo após exposição clara, racional, teologicamente rica e apologeticamente poderosa, a maioria rejeita.

A graça comum (manutenção da vida, ordem, luz da criação) não regenera.

A “graça preveniente” que não regenera é apenas um nome bonito para impotência teológica.


A Generosidade da Graça é Exclusiva e Eficaz


Sim, Deus é generoso.

Sim, Deus é longânimo.

Sim, Deus é paciente.

Mas nada disso implica que Ele ofereça regeneração universal e passível de rejeição.


A eleição é pessoal.

A regeneração é eficaz.

O chamado é irresistível.

E a salvação é soberana.


A teologia arminiana da graça preveniente é apenas o catolicismo de volta à praça, oferecendo uma graça fraca, resistível e frustrável.

É uma tentativa covarde de salvar a autonomia humana à custa da glória de Deus.

Mas a Escritura, a lógica, e os Reformadores gritam em uníssono:

 “A salvação vem do SENHOR.”

(Jonas 2:9)


E Ele não pede licença.

Ele salva.



Pregação e Graça: O Evangelho como Ferramenta da Soberania, Não do Livre-Arbítrio

“A graça preveniente funciona em combinação com a pregação da Palavra.”

— Arminiano sem vergonha na cara, capítulo 3, versículo da auto-refutação

A frase acima parece até uma confissão honesta, não fosse pelo fato de ser usada para sustentar o exato oposto do que o texto bíblico demonstra.

O arminiano, nesse caso, é como um homem que aponta para um canhão de guerra em operação e diz: “Viu? Isso prova que o inimigo tem chance se correr rápido o suficiente.”


Pois bem, vamos analisar os textos propostos:

Atos 2:37 – “Compungiram-se em seu coração”

 “E, ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração, e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, homens irmãos?” (Atos 2:37)


Esse é o famoso versículo que os arminianos usam como um "momento mágico" em que os ouvintes do sermão de Pedro ficam emocionalmente abalados e decidem, livremente, tomar uma atitude em direção à salvação. A leitura deles é mais ou menos assim:

“Viu? A graça preveniente cooperou com a pregação e agora os homens, em liberdade espiritual, podem responder!”

Só que há um pequeno problema com isso: tudo.


O erro fatal: confundir como o homem deve reagir com o que ele pode fazer

O que os arminianos sistematicamente ignoram — e aqui a ignorância já roça a desonestidade — é que a comoção provocada pela pregação apostólica é obra da graça regeneradora, não de uma graça nebulosa e ineficaz que “torce para que o homem coopere.”


Pedro prega.

O Espírito age.

Os ouvintes são feridos no coração.

Eles reagem.

Fim da linha.


Mas a reação deles já é evidência de que o Espírito está operando com poder, não apenas com sugestão. A pergunta “que faremos?” não nasce do livre-arbítrio intacto, mas de um coração já quebrado.

A promessa é para quem mesmo?

Dois versículos depois, Pedro diz:

“Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar.” (Atos 2:39)

Aqui está a dinamite teológica que explode a doutrina arminiana: a promessa é dirigida apenas aos que Deus chama.

O que o arminiano lê como um "convite universal com RSVP opcional", o apóstolo Pedro declara ser uma promessa eficaz, limitada àqueles que Deus efetivamente chama.

Mas não é qualquer chamado — é o chamado eficaz, aquele que, segundo Romanos 8:30, vem após a predestinação e conduz inevitavelmente à justificação e glorificação.

Ou seja: ninguém está perguntando “que faremos?” a não ser que Deus já esteja os atraindo.

Chamado universal ou chamado eficaz?

Lembre-se:

“Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos.” (Mateus 22:14)

E:

“Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus.” (1 Coríntios 1:24)

Há dois tipos de chamado. Um externo, universal, ineficaz em si mesmo.

Outro interno, particular, eficaz e transformador.

A graça arminiana só consegue conceber o primeiro tipo, pois eles vivem na ilusão de que Deus é um coach espiritual que respeita as escolhas do cliente. Já os apóstolos e os reformadores pregavam um Deus que age soberanamente e com poder criador na alma dos eleitos.

Romanos 10:17 – “A fé vem pelo ouvir…”

“De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus.” (Romanos 10:17)

Mais uma vez, o texto que deveria ser uma evidência do instrumento da graça, é usado para defender um suposto poder autônomo da vontade humana.

Paulo está explicando que a fé nasce através da pregação da Palavra — algo que o calvinismo nunca negou.

Mas os arminianos leem como se dissesse:

“A fé vem pelo ouvir… e o resto depende de você, boa sorte.

A lógica reformada do meio e do fim

Sim, a fé vem pelo ouvir. Mas isso não significa que todos os que ouvem vão crer.

Não significa que a fé está latente na alma esperando a fagulha do sermão para explodir.

Significa que Deus usa o meio da Palavra para realizar o Seu fim eterno: gerar fé onde Ele quiser, quando quiser, e em quem quiser.

“Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos.”

Porque só os escolhidos ouvem com fé.


Lutero destrói os arminianos com gramática e teologia

Os arminianos adoram confundir imperativos com capacidade.

Se Deus ordena, é porque o homem pode — dizem eles.

Mas Lutero já havia triturado essa lógica em 1525, em De Servo Arbitrio:


"Estende a mão”, dizem. Logo, és capaz de estender a mão.

“Fazei um coração novo”, dizem. Logo, és capaz de fazer um coração novo.

“Crê”, dizem. Logo, és capaz de crer.


Lutero chama isso de abuso linguístico, teologia rasa, e ignorância grosseira da função dos verbos imperativos.

Deus ordena coisas que o homem natural não pode fazer — justamente para revelar a sua incapacidade e sua necessidade de regeneração.

Ou seja: a ordem para crer não pressupõe capacidade — pressupõe o milagre da nova criação.


Quem está realmente mais perto de Roma?

No fundo, a “graça preveniente” é um cavalo de Troia católico dentro da teologia evangélica.

É o velho veneno do semi-pelagianismo disfarçado de “amor de Deus”.

Não é à toa que a mesma definição de graça preveniente se encontra no Concílio de Trento, onde Roma decreta:


“...que eles, que por pecados foram alienados de Deus, podem ser dispostos através de seu despertamento e graça de assistência, converter-se a si mesmos a sua própria justificação, por livremente assentir e cooperar com esta dita graça.”

(Concílio de Trento, Sessão VI, Capítulo V)

Ou seja: é a versão católica da mesma mentira arminiana.

É curioso — e patético — ver arminianos dizendo que são "herdeiros da Reforma" enquanto abraçam, beijam e defendem a doutrina de justificação cooperativa do papismo romano.

Eles estão mais perto de Erasmo e do Papa do que de Lutero, Calvino ou da Bíblia.


A Palavra de Deus como martelo da eleição, não brinquedo do livre-arbítrio

Sim, a graça atua pela Palavra.

Sim, a fé vem pelo ouvir.

Mas só crê quem foi chamado eficazmente.

Só pergunta “o que faremos?” quem já foi compungido pelo Espírito.

E só persevera quem foi predestinado, chamado, justificado e glorificado.


A pregação do Evangelho é o meio ordenado por Deus para salvar os Seus eleitos.

Não é uma oferta universal pendurada no cabide do livre-arbítrio, esperando que o pecador venha provar.

É um martelo que quebra o coração de pedra, um milagre criador, um chamado que vivifica mortos.

A doutrina da graça preveniente, por sua vez, é um insulto ao Deus vivo — reduzindo-O a um candidato político que suplica votos espirituais de pecadores mortos.

Mas o Deus das Escrituras não faz campanha.

Ele reina.

E salva.

Sem pedir permissão.


O Carcereiro de Filipos e o Terremoto Teológico: Onde Está a Graça Preveniente?


“E, pedindo luz, saltou dentro e, todo trêmulo, se prostrou ante Paulo e Silas. E, tirando-os para fora, disse: Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar?” (Atos 16:29-30)

E daí?

Essa é a única pergunta racional possível diante do uso desse texto pelos arminianos para defender a ideia de graça preveniente. O trecho narra o desespero de um homem diante de um terremoto milagroso, seu pânico escatológico e, em seguida, sua rendição à autoridade espiritual de Paulo e Silas.

Mas... e a graça preveniente?

Os arminianos, no auge de sua habilidade eisegética (leitura forçada de ideias no texto), olham para esse relato e enxergam ali uma prova clara de que o carcereiro teve sua vontade livremente ativada pela graça universal de Deus, e que, por meio dessa ativação, ele pôde escolher crer. Uma leitura digna de um roteiro de novela da Record — cheia de emoção, e absolutamente divorciada da exegese bíblica séria.

Texto fora de contexto é pretexto... para heresia

Vamos ao que realmente está escrito.

O carcereiro, trêmulo e desesperado, pergunta:

 “Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar?”

Paulo responde com simplicidade:

“Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa.” (v. 31)

Ora, isso é o evangelho sendo apresentado. E ninguém discorda disso. Nem calvinistas, nem luteranos, nem até mesmo os metodistas (quando estão sóbrios). A questão, no entanto, não é se o evangelho é pregado, mas o que está acontecendo nos bastidores espirituais que levou o carcereiro a esse ponto.

O que antecede o desespero?

Antes de tudo isso, temos um evento providencial miraculoso:

Um terremoto.

As portas da prisão se abrem.

As correntes se soltam.

Nenhum preso foge.

Paulo e Silas estão cantando hinos.

O carcereiro, ao ver tudo isso, entra em pânico.

Essa sequência não é casual. É soberana. Foi planejada por Deus para quebrantar aquele homem. Ou seja, não temos aqui uma “graça universal”, oferecida indistintamente a toda a cidade de Filipos, mas uma intervenção direcionada, pontual e eficaz na vida de uma única alma. Nada aqui se parece com o panfleto da “graça preveniente arminiana”.

O desespero é graça? Sim, mas não como eles pensam

O arminiano pode dizer: “Mas veja! Ele quis saber como ser salvo! Isso mostra que a graça preveniente o convenceu!”.

Resposta: errado. Isso mostra que Deus o levou ao arrependimento pela providência, e que o Espírito o regenerou, produzindo a disposição para crer. O que o texto não mostra é qualquer ideia de “graça resistível”, ou “graça para todos”, ou “graça esperando aprovação do livre-arbítrio”.

É sempre bom lembrar: até os demônios crêem e estremecem (Tiago 2:19). O medo do inferno não é regeneração. O pavor diante do juízo não é fé. O que vemos aqui é o resultado de um chamado eficaz, que produziu uma pergunta sincera — mas que só foi possível porque o Espírito já estava operando internamente.

A resposta de Paulo: Justificação pela fé? Sim. Mas fé dada por quem?

“Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa.” (v. 31)

Ah, sim. A resposta do apóstolo. Simples, direta e clara: fé em Cristo resulta em salvação.

Até aí, todo calvinista assina embaixo com sangue.

Mas a pergunta que destrói o castelo de areia arminiano é: de onde vem essa fé?

Resposta bíblica: do próprio Deus.

“Porque vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele, como também padecer por ele.” (Filipenses 1:29)

“Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.” (Efésios 2:8)

Se a fé é um dom, então a ordem “crê” é, na verdade, uma convocação eficaz — não uma sugestão pendurada no gancho do livre-arbítrio. Deus ordena e dá o que ordena. É assim que o Evangelho funciona quando Deus é soberano, não quando o homem é soberano sobre Deus.

Romanos 8:29-30 — O Caminho Irresistível da Salvação

Se queremos entender a lógica da salvação, devemos recorrer ao sistema de Deus, não à teologia emocional do arminianismo. E o sistema é perfeitamente exposto em Romanos 8:28-30:

“...os que dantes conheceu, também predestinou... chamou... justificou... glorificou.”


A cadeia de ouro da salvação é clara:


1. Deus conhece pessoas, não ações.

2. Ele predestina essas pessoas.

3. Ele as chama eficazmente.

4. Esse chamado resulta em justificação.

5. E termina com a glorificação garantida.


Não há espaço para graça preveniente aqui. Não há brecha para cooperação. Não há condição imposta ao pecador para que a graça funcione.

A graça funciona porque Deus age. Ponto.

Contexto é tudo — e o terremoto não é aleatório

É impressionante como os arminianos ignoram solenemente o contexto sobrenatural da passagem.

Não estamos falando de um culto evangelístico com panfleto e música suave.

Estamos falando de um terremoto enviado por Deus, num lugar específico, numa hora precisa, com pessoas predestinadas, e com Paulo e Silas cantando louvores na prisão, como se estivessem em um culto reformado underground.

O carcereiro acorda, vê as celas abertas, pensa que tudo acabou — e então Deus o salva.

Não há acaso.

Não há mérito humano.

Há graça soberana e irresistível operando em tempo real.


A Tristeza de Sempre: Arminianos Sem Bíblia (Inteira)

Talvez o maior problema com a doutrina arminiana não seja apenas sua teologia fraca, mas sua preguiça de ler a Bíblia inteira.

Eles pinçam versículos isolados como se fossem slogans publicitários — e ignoram todo o pano de fundo teológico bíblico que os sustenta. Usar Atos 16:29-30 para provar graça preveniente é como usar João 11:35 (“Jesus chorou”) para argumentar que Deus não sabe o que vai acontecer.

É infantil.

É trágico.

É herético.


Um Terremoto Derrubou as Grades. E a Graça Derrubou o Coração.

O carcereiro de Filipos não é exemplo de livre-arbítrio.

Ele é um exemplo de graça irresistível, de providência soberana, e de redenção decretada.

Deus não sugeriu que ele cresse.

Deus não o esperou gentilmente com uma flor e um convite de RSVP.

Deus derrubou as grades da prisão e do coração.

Essa é a graça que salva — não a preveniente, mas a dominante, eficaz, poderosa e invencível.

O texto não prova graça preveniente. Prova graça soberana.

E isso basta para dormir tranquilo...

Exceto, claro, se você ainda insiste em defender o indefensável: que Deus precisa da autorização do homem para salvar quem Ele quer.


O Caso de Lídia e a "Graça Preveniente": Autópsia de um Texto Mal Usado



"A graça preveniente convence o não crente.”

Com essa frase tão ampla quanto imprecisa, os arminianos iniciam mais uma tentativa de apoiar sua mitológica “graça preveniente” nas Escrituras. Em sua ânsia por encontrar migalhas bíblicas que sustentem a ideia de que Deus dá uma graça universal que apenas “capacita” o pecador a decidir crer ou não, eles nos apresentam dois textos: Atos 16:14 e Atos 16:29-30.

Comecemos com uma dose de honestidade: o problema não está na afirmação de que a graça convence o não crente — o problema está no tipo de graça que se pretende defender. O Reformador fiel crê que a graça não apenas convence, mas regenera, transforma e arrasta o pecador para Cristo. Já o arminiano, munido de seu romantismo teológico, crê que a graça é uma flor oferecida ao pecador, e que este pode ou não aceitá-la, como num primeiro encontro.


Mas, ao lidarmos com Atos 16:14, vemos algo completamente diferente: não uma flor sendo oferecida, mas um coração sendo aberto à força pelo próprio Deus — sem convite, sem consulta, sem livre-arbítrio. Apenas graça soberana, eficaz e irresistível. A verdadeira Graça.


Atos 16:14 — A Operação Cirúrgica de Deus no Coração de Lídia


“E uma certa mulher, chamada Lídia, vendedora de púrpura, da cidade de Tiatira, e que servia a Deus, nos ouvia, e o Senhor lhe abriu o coração, para que estivesse atenta ao que Paulo dizia.” (Atos 16:14)


Este texto é uma joia da soteriologia reformada. Uma peça de ouro doutrinário. Mas, curiosamente (ou tragicamente), o arminiano olha para esta pedra preciosa e vê apenas... uma metáfora de livre-arbítrio?


Vamos por partes.


O Fato: “O Senhor lhe abriu o coração”


A frase é clara. Quem agiu primeiro? Deus.

O que Ele fez? Abriu o coração.

Por quê? Para que ela estivesse atenta ao que Paulo dizia.

Ou seja, Deus mudou a disposição interna de Lídia antes dela ouvir, entender, ou “decidir”.


Se há alguma dúvida sobre o papel de Lídia nesse processo, note que ela não é o sujeito da ação em momento algum. O verbo principal — abrir — é atribuído exclusivamente ao Senhor. Não há cooperação, não há resposta prévia, não há sinergismo. Há um monergismo claro: Deus age, o homem recebe.


O termo grego usado aqui para “abrir” (dianoigō) é o mesmo usado em Lucas 24:31, onde “foram abertos os olhos” dos discípulos no caminho de Emaús. Eles não “abriram” os olhos — alguém abriu por eles. É um verbo divino e passivo — uma ação de Deus no homem, e não do homem em si.


O Absurdo Arminiano: “Mas ela já servia a Deus…”


Aqui vem o golpe de mestre da ginástica teológica arminiana: “Mas Lídia já temia a Deus! Isso mostra que a graça já estava agindo nela prevenientemente!” E assim, num salto olímpico sem base bíblica, eles concluem que Deus estava apenas completando uma obra que ela mesma já começou com sua disposição religiosa.


Mas vejamos:


“E porei o meu temor nos seus corações, para que nunca se apartem de mim.” (Jeremias 32:40)

“Não há temor de Deus diante de seus olhos.” (Romanos 3:18)


Ora, se não há temor de Deus no ímpio, como alguém pode “servir a Deus” antes de ser regenerado? Como pode Lídia “temer a Deus” se o temor é dado por Deus, segundo a nova aliança, como resultado da salvação, e não como pré-condição dela?


Aqui vemos a beleza da revelação: o temor de Lídia já é prova de que Deus já estava operando a regeneração nela antes mesmo do encontro com Paulo. Não se trata de uma graça “preveniente” no sentido arminiano (oferecida a todos), mas de uma graça particular, poderosa, transformadora — a graça do novo nascimento.


O Argumento da Exclusividade: “Por que só Lídia?”


Se a graça preveniente é universal, como ensinam os arminianos, por que só Lídia teve o coração aberto ali? Por que o texto não diz que todos os ouvintes foram igualmente iluminados? Por que Lucas destaca a ação soberana e seletiva de Deus apenas nela?


A resposta é simples: porque Deus age como quer, quando quer, e em quem quer.


"Terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e me compadecerei de quem eu me compadecer.” (Êxodo 33:19; Romanos 9:15)


O texto não diz que o Senhor tentou abrir o coração dela, nem que Lídia “permitiu” ser convencida. Diz que Ele abriu. E ponto.

Essa é a graça eficaz. Não pede licença. Age e transforma.


Atos 16:29-30 — O Medo do Carcereiro e a Soberania de Deus


“Então, pedindo luz, saltou dentro e, todo trêmulo, prostrou-se diante de Paulo e Silas. E, tirando-os para fora, disse: Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar?” (Atos 16:29-30)


O arminiano, sempre ansioso por provas, aponta para esse texto como se dissesse: “Olha lá! O carcereiro pediu o que fazer para se salvar. Livre-arbítrio, está vendo?”


Na verdade, o que estamos vendo aqui é o resultado externo da ação do Espírito Santo, que, por meio do terremoto providencial, do testemunho de Paulo e Silas, e do terror escatológico no coração do carcereiro, produz a disposição regenerada para a salvação. Não há mérito algum no ato de perguntar. Até os demônios sabem que Deus existe — mas só um coração novo pergunta com submissão: “o que devo fazer?”


Paulo responde com o evangelho. Mas até isso é graça. O próprio fato de o carcereiro não se jogar da ponte é graça. O medo de Deus é graça. O desejo de saber é graça. Mas tudo isso é graça eficaz, ordenada, individual. Não uma oferta universal e neutra, como quer o arminianismo.


A Graça Preveniente Foi Desmascarada


Lídia não decidiu aceitar nada — Deus abriu seu coração.


O temor de Deus não é gerado pelo homem, mas concedido soberanamente.


A exclusividade da ação divina em Atos 16 derruba a noção de uma graça universal oferecida a todos igualmente.


O carcereiro de Filipos não é um exemplo de livre-arbítrio, mas de coração quebrantado pela providência e graça de Deus.


A doutrina da graça preveniente é, portanto, uma construção filosófica desesperada para proteger a liberdade do homem em detrimento da glória de Deus. É uma doutrina que reduz a graça a uma sugestão, Deus a um conselheiro e a salvação a uma escolha neutra.

É a versão soteriológica do “você decide”.


Mas o Deus das Escrituras não convida — Ele transforma.

Ele não espera — Ele ressuscita.

Ele não oferece — Ele conquista.


E com Lídia, com o carcereiro, com Paulo, e com todo regenerado pela graça, Ele não pediu permissão. Ele abriu o coração.

E louvado seja por isso.


Refutando a Graça Preveniente Arminiana





Uma autópsia teológica da teimosa ilusão do livre-arbítrio

Por Yuri Schein

“O tolo crê em tudo que ouve, mas o prudente atenta para os seus passos.”

— Provérbios 14:15

Eu realmente preferia que outro se desse ao trabalho de realizar essa dissecação. Mas, como muitos em nossos dias parecem mais preocupados em preservar a aparência de humildade do que em esmagar a cabeça das serpentes doutrinárias, tomo para mim o encargo. Sim, é um encargo. Refutar heresias nunca é agradável, mas é absolutamente necessário. E entre as heresias evangélicas de estimação, poucas são tão populares quanto a “graça preveniente”. Esse unicórnio soteriológico que cavalga os campos do emocionalismo, das tradições humanas e das alegorias mal interpretadas.

A proposta deste texto é simples: desmascarar o conceito da graça preveniente, demonstrar sua completa ausência nas Escrituras, e ainda expor como muitos dos versículos usados pelos arminianos acabam funcionando como sentença de morte à própria teologia deles — o que é quase uma ironia divina.

O Que é a "Graça Preveniente"? Um Mito Disfarçado de Misericórdia

Graça preveniente, segundo a definição arminiana (ou semi-pelagiana, sejamos francos), é aquela “graça universal” concedida por Deus a todos os homens indistintamente, para que eles possam, de maneira livre e autônoma, decidir se crerão ou não no evangelho. Em outras palavras: Deus dá uma ajuda inicial, uma espécie de empurrãozinho, mas a decisão final fica a cargo do homem. Soa bonito, parece democrático, mas é absolutamente antibíblico.

De início, é curioso notar que os próprios defensores dessa doutrina admitem que não há uma passagem clara e direta que ensine isso. Isso mesmo, eles começam seu argumento com um pedido de desculpas embutido:

"A Escritura ensina o conceito de graça preveniente?

Não há uma passagem que estabelece uma definição sistemática, no entanto, o conceito torna-se evidente por todo o teor geral da escritura."

Isso é tão convincente quanto dizer que a Bíblia ensina reencarnação “em espírito” porque há muitas “metáforas sobre nascer de novo”. Quando você precisa recorrer ao “teor geral” para justificar uma doutrina que supostamente sustenta a salvação universalista-condicional do homem, talvez seja hora de voltar para o catecismo. De Genebra, de preferência.

A Premissa Arminiana: Uma Revolta Contra a Soberania de Deus

A graça preveniente é, em última análise, uma tentativa tola de salvar o ídolo favorito da filosofia humanista: o livre-arbítrio. O Arminianismo, por mais que tente parecer uma versão bíblica do cristianismo, nasce de um pressuposto antibíblico: de que a vontade do homem é o fator decisivo na salvação.


Ora, se isso é verdade, então:

O decreto eterno de Deus é secundário.

A eleição incondicional é injusta.

A cruz de Cristo foi uma aposta.

O Espírito Santo apenas “sugere”.


E a regeneração não passa de um convite que o homem pode recusar com educação.

Compare isso com Romanos 9, onde Paulo, sob inspiração do Espírito, antecipa a objeção arminiana:

"Por que se queixa ele ainda? Pois quem tem resistido à sua vontade?" (Rm 9:19)

E ao invés de dar uma explicação arminiana, Paulo dá uma resposta teocêntrica e firme:

"Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?" (Rm 9:20)

Ou seja, Paulo não conhecia graça preveniente. Ele conhecia graça soberana, que escolhe, determina, chama e salva — sem a permissão do homem.

A Inutilidade do Argumento Arminiano: "Está Implícito!"

Vamos ser claros: dizer que algo está “implícito” na Bíblia não é um álibi válido para inventar doutrinas. A Trindade, por exemplo, está implícita — mas em harmonia com todo o restante da revelação e explicitada nas confissões históricas. Já a graça preveniente não tem nem isso. Não é doutrina implícita; é imposição filosófica.

O que o arminiano faz é tentar enxertar ideias de liberdade libertária, autonomia humana e bondade natural em textos que, francamente, falam do oposto. Ele lê João 6:44 (“Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer”) como se dissesse “ninguém vem a mim a não ser que o Pai ajude a puxar”. Ele quer que “trazer” signifique “convidar gentilmente”, quando o termo grego helkō significa arrastar com força — o mesmo usado para a rede cheia de peixes em João 21:11. Ou seja, Deus arrasta os eleitos até Cristo, não os “convida para um café”.

A Corrupção Total do Homem: O Elefante que o Arminiano Finge Não Ver

A doutrina bíblica da depravação total — sim, a que Lutero defendeu com garras e dentes contra Erasmo — ensina que o homem não apenas está doente, mas morto espiritualmente (Ef 2:1). Morto, não desidratado. Morto, não em coma. Morto, como em “sem capacidade de reagir”.

Portanto, dizer que o homem precisa de uma graça que o “coloque numa posição de decisão” é o mesmo que dar um microfone a um cadáver e esperar uma resposta racional.

Veja a descrição de Paulo:

"Não há ninguém que entenda, ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram...” (Rm 3:11-12)

Se ninguém busca a Deus, quem são os tais que respondem à graça preveniente? Extraídos de onde? De que planeta? Nem mesmo Pelágio foi tão otimista com a natureza humana.

A Doutrina Reformada: Graça Irresistível e Regeneração Monergística

A resposta bíblica e coerente é a doutrina da graça irresistível. Deus salva pecadores por meio de um ato soberano, eficaz e infalível de sua vontade, através do chamado interno do Espírito Santo. Essa regeneração precede qualquer resposta humana — e é ela que torna possível a fé.

“Todos os que haviam sido destinados para a vida eterna creram.” (At 13:48)

“Ele nos gerou segundo a sua vontade, pela palavra da verdade.” (Tg 1:18)

Não há “pré-condição” humana. Não há “decisão autônoma”. O novo nascimento é uma criação divina unilateral, um ato do mesmo Deus que disse: “Haja luz” — e houve. (2 Co 4:6)

O Cavalo de Tróia Arminiano

A graça preveniente é o cavalo de Tróia pelo qual o livre-arbítrio tenta invadir os muros da soberania divina. Mas, como todo cavalo de Tróia, é feito de madeira barata e recheado de inimigos. O problema? Muitos púlpitos deixam ele entrar, sem nem perguntar o que diz a Confissão de Fé de Westminster, ou os escritos de Calvino, ou o bom e velho capítulo 9 de Romanos.

Mas nós não.

Nós respondemos com fogo.

Fogo exegético. Fogo lógico. Fogo bíblico.

Pois a verdade é essa: se a graça preveniente existisse, ninguém seria salvo, porque o homem rejeitaria até a misericórdia, se pudesse. O evangelho não é uma proposta — é uma proclamação soberana. Não é uma escolha — é uma intervenção divina. E não é uma chance — é uma certeza para os eleitos.

Prepare-se, então, arminiano. Nos próximos artigos, vamos examinar cada texto que você tenta usar para defender essa doutrina. E, com a graça irresistível de Deus, vamos mostrar que o arminianismo não precisa de refutação — ele se autodestrói com suas próprias citações.



quarta-feira, 18 de junho de 2025

A Cessação dos Dons como Amputação do Corpo de Cristo: Uma Refutação Bíblica ao Cessacionismo

O cessacionismo é a doutrina que afirma que os dons espirituais milagrosos – como profecia, línguas, curas e milagres – cessaram após a era apostólica, tendo cumprido sua finalidade de estabelecer a Igreja primitiva e o cânon das Escrituras. Entretanto, uma análise honesta e exegética da Escritura demonstra que esta doutrina não apenas carece de fundamentação bíblica, mas equivale, na prática, a uma mutilação do próprio Corpo de Cristo.


1. O Corpo de Cristo e a Distribuição dos Dons (1 Coríntios 12)


Em 1 Coríntios 12, o apóstolo Paulo apresenta uma analogia poderosa e instrutiva: a Igreja é o Corpo de Cristo, e os dons espirituais são as diversas funções e membros desse corpo. O texto é claro:


“Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. [...] A cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito para o que for útil.”

— 1 Coríntios 12:4,7


Paulo então enumera dons espirituais como sabedoria, conhecimento, fé, curas, milagres, profecia, discernimento de espíritos, línguas e interpretação de línguas (vv. 8-10), e conclui que “todas estas coisas são realizadas pelo mesmo e único Espírito, e ele as distribui individualmente, a cada um, como quer” (v. 11).


A implicação é direta: se o Espírito Santo continua operando na Igreja (e não há nenhum versículo que afirme que Ele cessou de fazê-lo), os dons continuam sendo distribuídos “como quer” e “a cada um”. Declarar que cessaram é impor uma amputação artificial ao Corpo de Cristo, é declarar que partes essenciais da funcionalidade do Corpo já não são mais necessárias.


“Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos.”

— 1 Coríntios 12:14


“Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde estaria o olfato?”

— 1 Coríntios 12:17


O cessacionismo, portanto, promove uma visão monolítica da Igreja, negando sua diversidade funcional. Isso não é apenas teologicamente problemático, é um atentado direto contra a sabedoria do Espírito na formação do Corpo.


2. A Unidade do Corpo Pressupõe os Dons em Atividade


Paulo insiste que todos os membros, mesmo os que parecem mais fracos, são indispensáveis (1 Co 12:22). O cessacionismo, ao alegar que certos dons cessaram, sugere implicitamente que esses membros e funções eram dispensáveis, o que contradiz diretamente a afirmação paulina.


Mais ainda:


“Ora, vós sois o corpo de Cristo, e seus membros em particular. E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro doutores, depois milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas.”

— 1 Coríntios 12:27-28


O texto não diz que isso era temporário. Ao contrário, diz que “Deus pôs” tais dons na Igreja, não para um tempo apenas, mas como estrutura funcional permanente. Note que a palavra “igreja” não se refere apenas à Igreja de Corinto, mas à ekklesia universal. Se Deus os colocou, quem pode tirá-los?


3. O Erro do Uso Não Justifica o Abuso do Corte (1 Coríntios 14)


Cessacionistas frequentemente argumentam que os dons causam confusão ou que eram específicos para a era apostólica. Mas Paulo, em 1 Coríntios 14, combate exatamente esse tipo de pensamento.


A igreja de Corinto estava abusando dos dons, especialmente o de línguas. Mas o apóstolo não responde proibindo ou ensinando cessação. Ao contrário:


"Desejai ardentemente os dons espirituais, principalmente o de profetizar.”

— 1 Coríntios 14:1


“Não proibais falar em línguas.”

— 1 Coríntios 14:39


Paulo regula, mas não extingue. Corrige o uso, mas não elimina a prática. Isso é fundamental: o abuso não justifica a abolição.


4. Referências Cruzadas: Continuidade dos Dons no Novo Testamento


A Escritura reforça em vários lugares que os dons continuariam na vida da Igreja:


Efésios 4:11-13: Cristo deu à Igreja apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres, “até que todos cheguemos à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito”. Ora, se ainda não chegamos a essa maturidade completa (o que é evidente), esses dons ainda são necessários.


Romanos 12:6-8: “Temos diferentes dons, segundo a graça que nos foi dada.” E Paulo não limita o tempo desses dons. Pelo contrário, ordena que sejam exercidos com zelo e diligência.


Marcos 16:17-18: “Estes sinais seguirão aos que crerem...” – a promessa não é apenas para os apóstolos, mas para os crentes. Os cessacionistas devem mostrar onde Jesus disse que isso teria prazo de validade. Não há tal texto.


Atos 2:17-18: “Nos últimos dias, diz Deus, derramarei do meu Espírito sobre toda carne [...] profetizarão [...] sonhos [...] visões.” Pedro aplica esse texto de Joel ao Pentecostes, e não diz que terminará em uma ou duas gerações. Os “últimos dias” abrangem todo o tempo entre a ascensão de Cristo e sua volta (cf. Hb 1:2; 1 Jo 2:18).


1 Tessalonicenses 5:19-20: “Não extingais o Espírito. Não desprezeis as profecias.” Isso seria incoerente se os dons cessassem em breve.


5. O Silêncio do Novo Testamento sobre a Cessação


Se os dons fossem cessar com a morte dos apóstolos, seria esperado que ao menos uma epístola doutrinária alertasse os cristãos a não mais buscar ou esperar esses dons. Mas o contrário ocorre: até as últimas cartas apostólicas (como 1 e 2 Timóteo), vemos exortações ao uso dos dons (2 Tm 1:6 – “reavives o dom que há em ti”).


Não há nenhum decreto apostólico dizendo: “a era dos milagres terminou”. Isso é invenção da tradição pós-bíblica, não da Escritura.


6. O Fim dos Dons só ocorre na Segunda Vinda


Um dos textos mais usados por cessacionistas é 1 Coríntios 13:8-10, onde se diz que “as profecias desaparecerão, as línguas cessarão... quando vier o que é perfeito.” Mas o que é o “perfeito”?


"Agora, pois, vemos como em espelho, obscuramente; então veremos face a face.”

— 1 Coríntios 13:12


Isso não é o cânon das Escrituras. Paulo está falando da visão beatífica de Cristo na glória. Logo, os dons cessam não com o fechamento do cânon, mas com a segunda vinda de Cristo. O uso desse texto pelos cessacionistas é completamente distorcido.


Conclusão: Cessar os dons é mutilar o Corpo


Dizer que os dons espirituais cessaram é dizer que o Espírito parou de distribuir membros ao Corpo. Isso é dizer que Deus deixou sua Igreja deficiente, como se ela agora fosse cega, surda e aleijada – exatamente o oposto da imagem que o Novo Testamento transmite da Igreja como plena do Espírito, equipada com armas espirituais e unida em diversidade funcional.


“Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe: a quantos Deus nosso Senhor chamar.”

— Atos 2:39


O cessacionismo é, no fim das contas, um ataque disfarçado à soberania do Espírito, uma rejeição da Palavra que Ele mesmo inspirou, e uma amputação teológica do Corpo de Cristo.


Referências Bíblicas Cruzadas


1 Coríntios 12–14

Efésios 4:11-13

Romanos 12:6-8

Atos 2:17-21; 2:39

Marcos 16:17-18

1 Tessalonicenses 5:19-20

2 Timóteo 1:6

1 Coríntios 13:8-12

João 14:12

Hebreus 2:4

Atos 4:30-31

Gálatas 3:5