Por Yuri Schein
O texto de Gênesis 12.3: “Abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra” não é uma promessa decorativa, nem uma daquelas frases bonitas que servem para bordar em toalhinha de igreja. É o coração pulsante da aliança abraâmica, um eixo escatológico que projeta a luz do Reino de Deus não apenas sobre Israel étnico, mas sobre todas as nações. E aqui já começa o problema: aqueles que negam o pós-milenismo fazem uma espécie de amputação exegética, como se essa bênção universal fosse apenas espiritualizada, limitada, ou ainda empurrada para um futuro etéreo, sem impacto histórico.
Mas a promessa é concreta: todas as famílias da terra. Não algumas, não uma elite escondida em guetos religiosos, mas um alcance universal. Aqui se encontra o germe da visão pós-milenista: o propósito redentor de Deus não é um fracasso anunciado, mas uma consumação histórica que progride até que a Terra seja cheia do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar (Habacuque 2.14). A bênção de Abraão não pode ser reduzida a mera salvação individual; ela implica uma transformação cultural, civilizacional, social e histórica, porque a aliança tem como horizonte o domínio do Messias sobre todos os povos (Salmo 2; Salmo 72).
O próprio contexto de Gênesis 12 é instrutivo: Abraão é chamado para sair de sua terra e tornar-se o início de uma linhagem que abençoaria todas as nações. Isso aponta para Cristo (Gálatas 3.16), mas não apenas no sentido de redenção pessoal. Paulo interpreta essa promessa como fundamento da missão universal da igreja: “A Escritura, prevendo que Deus justificaria os gentios pela fé, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Em ti serão benditas todas as nações” (Gálatas 3.8). Ou seja, o chamado de Abraão já era evangelho e evangelho global.
É por isso que o pós-milenismo não é um otimismo vazio, mas simplesmente a leitura coerente da aliança: a bênção a Abraão implica uma história real em que o evangelho triunfa, permeia culturas, subjuga idolatrias e leva nações inteiras a serem “discipuladas” (Mateus 28.19). Se Cristo é o descendente de Abraão que herda as nações (Salmo 2.8), então a história não pode terminar em colapso ou derrota da igreja, mas em vitória progressiva até que todas as famílias sejam realmente abençoadas nele.
O amilenismo, nesse sentido, soa como aquele aluno preguiçoso que lê o versículo pela metade: foca na parte da maldição (os que rejeitam serão amaldiçoados), mas não tem coragem de lidar com o escopo universal da bênção. O pré-milenismo, por sua vez, tenta adiar essa promessa para um milênio literal no futuro, como se Deus tivesse feito um contrato de espera com Abraão que duraria milhares de anos antes de se cumprir. Mas o texto não dá margem para adiamentos escatológicos: a bênção já começou, já se expande e já se cumpre historicamente.
Assim, Gênesis 12.3 é um manifesto pós-milenista: a vitória de Cristo é certa, a bênção é universal, e a história se curva diante da aliança. A questão é simples: ou se crê que “todas as famílias da terra” realmente significa todas, ou se rebaixa a promessa de Deus a um ornamento litúrgico sem impacto real. No fim, só resta uma conclusão lógica e bíblica: a bênção abraâmica é o alicerce do triunfo do evangelho na história, e negar isso é zombar da aliança de Deus.
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