Por Yuri Schein
Levítico 19.9-10 diz:
"Quando fizerdes a colheita da vossa terra, não acabareis de colher até as extremidades do campo, nem recolhereis as espigas que ficaram caídas; deixá-las-eis para o pobre e para o estrangeiro. Eu sou o Senhor vosso Deus."
À primeira vista, pode parecer apenas uma lei agrícola ou um detalhe administrativo. Mas, analisado à luz do contexto histórico e teológico, revela um princípio profundamente alinhado com o pós-milenismo: Deus chama Seu povo a santidade que gera progresso social, justiça cultural e bênção histórica. Não se trata apenas de um ato de caridade individual; trata-se de um padrão contínuo de cuidado que transforma a sociedade, garantindo estabilidade, prosperidade e a expansão do Reino de Deus na Terra.
O contexto é decisivo. Israel está estabelecendo suas práticas culturais e sociais em Canaã, uma nação recém-liberta do Egito, aprendendo a viver de maneira distinta das culturas vizinhas. O povo é chamado a agir com responsabilidade social, a olhar para os marginalizados e garantir que a colheita sirva não apenas a si mesmo, mas ao bem comum. O princípio é claro: a santidade não é abstrata, ela se manifesta na vida prática, na distribuição justa de recursos, na promoção da equidade e no cuidado pelos vulneráveis.
Esse mandamento mostra que a bênção de Deus se expressa através da ação do povo, de forma histórica e progressiva. Quando Israel pratica a justiça social, Deus garante proteção, prosperidade e estabilidade: um padrão que se cumpre plenamente na Igreja, onde a ação do Reino produz transformação cultural, moral e social. A lei tipologicamente aponta para a Igreja como agente ativo, estendendo o cuidado divino e a influência do Reino para todas as esferas da vida humana.
A continuidade histórica do progresso do Reino se vê também na ligação direta com a santidade de Levítico 19.2: obedecer à aliança gera bênção, não apenas individual, mas coletiva. Cada geração que pratica justiça, equidade e cuidado social participa do avanço do Reino, cumprindo de forma tangível a promessa de Cristo de que “as portas do inferno não prevalecerão” (Mt 16.18). O avanço do Reino é progressivo, concreto e inevitável, resultado da presença de Deus guiando a História através de Seu povo.
Levítico 19.9-10, portanto, não é apenas uma lei agrícola ou uma instrução pontual. É um modelo de como santidade e justiça geram progresso histórico, transformam sociedades e concretizam a expansão do Reino de Deus. No pós-milenismo, cada ação justa do povo santo é parte do avanço contínuo do Reino, mostrando que a vitória de Deus sobre o mal e a prosperidade de Seu povo são reais, tangíveis e progressivas.
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