quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Pós milenismo: Do Éden à Igreja: a missão nunca foi largar a pá, mas edificar o Reino


Por Yuri Schein 

Gênesis 2.15 não é apenas um detalhe bucólico: “Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar.” Aqui está o DNA da história da redenção. O homem não foi criado para contemplar passivamente a natureza, mas para expandir a ordem divina e proteger o espaço sagrado. E esse fio não se rompe com a queda, ele percorre toda a Escritura até culminar em Cristo e na Igreja.

No Éden, Adão recebe o encargo de sacerdote-rei: cultivar (expandir a vida e a ordem) e guardar (proteger contra a serpente). Ele falha, entregando o jardim à corrupção.

No Tabernáculo (Números 3.7-8), os levitas são postos para “guardar” e “servir” (mesmos verbos de Gn 2.15) diante da presença de Deus. O tabernáculo é o Éden portátil, um microcosmo da criação. O que Adão não fez, o sistema levítico prefigura: zelar pelo espaço sagrado para que a glória de Deus habite entre os homens.

No Templo (1 Crônicas 9.27), os porteiros e sacerdotes repetem a mesma função: vigiar, guardar, cultivar a adoração verdadeira. O templo é o Éden centralizado em Jerusalém, onde a ordem divina deveria irradiar às nações.

Chegamos então a Cristo, o último Adão. Ele guarda o povo (João 17.12), vence a serpente (Colossenses 2.15) e inaugura o verdadeiro templo (João 2.19-21). O que antes era jardim, depois tabernáculo e templo, agora é o próprio Cristo e, por extensão, o seu corpo.

E, finalmente, a Igreja: Paulo afirma em Efésios 2.21 que somos “edificados... para santuário dedicado ao Senhor”. O que começou em Éden se cumpre em escala global. A missão não é retroceder, mas expandir: cultivar a terra com a Palavra e guardar a verdade contra heresias e ídolos.

Essa linha mostra que a Bíblia não conta a história de um fracasso, mas de uma restauração progressiva. O pós-milenismo nada mais é do que enxergar que o mandato de cultivar e guardar não foi cancelado, foi retomado em Cristo e continuará até que o mundo inteiro se torne templo vivo.

Portanto, acreditar que o destino da história é derrota cultural e domínio satânico não é “realismo bíblico”, é analfabetismo teológico. Do Éden à Igreja, Deus sempre projetou que sua glória invadisse o mundo. A pá nunca foi largada; ela agora é empunhada pela Igreja até que a terra esteja cheia do conhecimento de Deus.

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