quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Pós milenismo:Tomem a Terra, Não Chorem Depois

 


Por Yuri Schein 

Deuteronômio 1:8 é um daqueles versículos que, quando lidos com atenção histórica e teológica, derrubam qualquer pessimismo escatológico que insiste em enxergar o futuro do Reino de Deus como fracasso iminente. O texto declara:

“Olhem, eu vos tenho dado a terra que percorrestes para possuí-la.”

O contexto é claro e dramático: após quarenta anos de peregrinação pelo deserto, Moisés relembra a Israel toda a trajetória desde o Êxodo, a travessia do deserto e as dificuldades enfrentadas. Agora, prestes a entrar na terra prometida, Deus lhes assegura de forma irrevogável: o que foi prometido não é hipótese, mas posse garantida. O verbo hebraico נָתַתִּי (natati), “dei”, está no perfeito, indicando um ato completo do ponto de vista divino: a concessão já é real no decreto, mesmo que a manifestação física ainda dependa da ação do povo.

Para o pós-milenismo, esse versículo é paradigmático. Ele mostra que o avanço do Reino de Deus é progressivo, histórico e inevitável. Assim como Israel recebeu a terra de Canaã por decreto divino e conquista organizada, a Igreja avança no mundo guiada pelo Rei Jesus. Cada vitória moral, cultural ou espiritual é uma tomada de posse do território do Reino. A promessa não depende da perfeição do povo, mas da fidelidade de Deus, ecoando Números 23:19-21: Deus não é homem para mentir, e Sua palavra se cumpre independentemente das falhas humanas.

O texto também é profundamente tipológico. “A terra” simboliza não apenas uma região geográfica, mas o avanço do Reino de Deus em todos os aspectos da história. A posse da terra antecipa o cumprimento das promessas messiânicas: o cetro que surge de Israel (Nm 24:17) se manifesta em Cristo e na expansão progressiva da Igreja, até que as nações sejam discipuladas (Mt 28:18-20). O mandamento de Moisés reforça que a bênção de Deus não é passiva: ela exige ação histórica, conquista e ocupação, elementos que o pós-milenismo valoriza como evidência da vitória progressiva do Reino.

A leitura fluida do texto nos lembra ainda que o pessimismo teológico é a consequência da miopia humana. Israel estava diante da posse segura, mas podia temer o desafio. Hoje, os críticos do pós-milenismo insistem em ver derrotas temporárias como fracasso final, ignorando que a fidelidade de Deus já decretou a vitória. A exegese mostra que o mesmo Deus que garantiu a posse da terra em Deuteronômio 1:8 também promete, em Cristo, a expansão de Seu Reino até todas as extremidades da terra, culminando na consumação gloriosa e irreversível do plano divino.

Portanto, este versículo não é mero incentivo motivacional, mas um princípio teológico: Deus decreta vitória histórica, e quem O segue participa dessa expansão do Reino. O pós-milenismo não é otimismo humano; é reconhecimento da realidade incontestável do decreto divino, da posse segura da terra, e da marcha progressiva e inevitável do Reino de Cristo sobre a história.

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