quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Pós milenismo: A Terra que Não Falha

 


Por Yuri Schein 

Números 33:53 é um daqueles versículos que, lidos com atenção pós-milenista, revelam a meticulosidade e a fidelidade histórica do plano de Deus. O texto diz:

 “Tomai posse da terra, habitai nela; pois a vosso favor vos dei a terra para a possuíres; expulsai diante de vós os moradores da terra e destruí diante de vós toda a sua imagem de escultura.”

Estamos no clímax do percurso do povo de Israel pelo deserto. Após quarenta anos de peregrinação, Deus apresenta um mandato explícito: a terra prometida não é uma sugestão, mas uma posse assegurada pela fidelidade divina. Cada passo, cada batalha e cada desafio estava alinhado com o decreto irrevogável que Números 23:19 já havia estabelecido: Deus não é homem para mentir.

O contexto histórico é essencial. Moisés está instruindo Israel a entrar na terra de Canaã, mas com precisão: não é apenas ocupação territorial, é execução do decreto divino. O verbo hebraico יָרַשׁ (yarash), “tomar posse” ou “herdar”, implica ação definitiva, legal e histórica; não se trata de mera expectativa espiritual. Deus conferiu autoridade real e temporária ao Seu povo para estabelecer a ordem prometida.

Para o pós-milenismo, este versículo é paradigmático. Ele mostra que Deus atua de forma histórica e progressiva: a promessa não é meramente espiritual, nem confinada a uma realidade futura distante. A terra prometida se torna um símbolo do avanço do Reino de Cristo na história: cada vitória de Sua Igreja reflete a posse segura da herança divina. A expulsão dos moradores da terra, embora literal no Antigo Testamento, é tipológica da expansão do Reino contra as forças do pecado, da maldição e da oposição ao plano divino.

O texto é reforçado por uma perspectiva tipológica: assim como Israel recebeu Canaã por decreto divino e conquista histórica, a Igreja avança no mundo guiada pelo Rei Jesus, e “as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16:18). O pós-milenismo interpreta essa conquista progressiva como o cumprimento escatológico das promessas de Deus, não uma fantasia otimista, mas a consequência lógica da fidelidade divina demonstrada em cada geração.

O paralelo com Números 23:19 e 23:21 é inevitável: o Deus que não mente garante que a iniquidade do povo não frustará o cumprimento do plano divino. A terra, assim como a história da Igreja, é confiada a aqueles que Ele escolheu e para os quais Ele já determinou vitória. A “tomada de posse” é, portanto, tanto literal quanto simbólica: o avanço do Reino é inexorável, guiado pelo cetro que se levantará de Israel (Nm 24:17) e abençoando todas as nações em Cristo (Gn 12:3).

A exegese hebraica detalha ainda que a instrução “destruí diante de vós toda a sua imagem de escultura” (pesel) representa a erradicação sistemática da oposição espiritual, não apenas a destruição física, mas a eliminação do poder do pecado e da idolatria. Cada vitória histórica da Igreja é uma manifestação desta ordem divina: o Reino avança, o cetro governa, e a terra, literal ou figurativa, é possuída.

Em síntese, Números 33:53 reforça o princípio pós-milenista: Deus cumpre Suas promessas de forma histórica, progressiva e inabalável. A terra prometida, como cada conquista do Reino, é segura, irrevogável e alinhada com a fidelidade do Deus que não falha. O pessimismo escatológico não passa de um eco de Balac moderno, incapaz de entender que a estrela que se levanta de Jacó nunca deixa de brilhar, e a terra dada pelo Senhor nunca será perdida.

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