quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Pós milenismo: Gênesis 6.6-8: Deus se arrepende, mas o plano continua (ironia divina para os pessimistas)



Por Yuri Schein 

"Então arrependeu-se o Senhor de haver feito o homem sobre a terra, e isso lhe pesou em seu coração. E disse o Senhor: Destruirei da face da terra o homem que criei, desde o homem até o animal, até o réptil e as aves do céu, pois me arrependo de os haver feito. Mas Noé achou graça aos olhos do Senhor."

Se você lê isso e pensa que Deus está “confuso” ou que o mundo caminha inevitavelmente para o fracasso, você está ignorando a técnica escatológica da Escritura. Aqui, o texto é brutalmente honesto: a humanidade falhou em sua missão cultural, o pecado saturou a criação, e o juízo é inevitável. Mas note a agudeza: mesmo no ápice do juízo, Deus não abandona o plano. Ele preserva a linha de graça.

O ponto-chave para o pós-milenismo está em Noé. Ele não é apenas um sobrevivente; é o início de uma nova história, uma reiniciação da vocação humana: cultivar, guardar, multiplicar e dominar a criação. O juízo é severo, mas o mandato cultural não é revogado, ele é reiterado. Deus destrói o velho mundo corrompido, mas estabelece o palco para o progresso histórico do Reino.

Observe a estrutura narrativa: Deus se arrepende do homem, mas não se arrepende de salvar e preservar o plano redentor. A graça em Noé é o ponto de virada: o juízo não é o fim da história, mas o meio pelo qual Deus preserva a continuidade do seu plano. O pós-milenismo lê exatamente isso: Deus trabalha historicamente, de forma contínua, para que o mal seja vencido e o Reino avançado. Não há derrota final; há correção histórica e reinício estratégico.

Outro ponto agudo: muitos leem “arrependeu-se” e supõem incerteza no plano divino. Nada mais errado. O “arrependimento” aqui é antropopático, Deus fala em termos humanos para revelar sua justiça e santidade, mas a progressão do plano é infalível. Noé é o tipo de Cristo que atravessa o juízo e restaura a história. Cristo, como o último Adão, realiza plenamente o que Noé prefigurou: redenção, vitória e expansão da bênção na terra.

Além disso, a narrativa deixa claro: juízo e bênção coexistem. A destruição do mundo antigo é proporcional à preservação do remanescente fiel. Isso é exatamente o que o pós-milenismo sustenta: a história não é uma sequência de derrotas acumuladas até a volta de Cristo, mas uma série de vitórias progressivas, intercaladas com correção divina, até que a promessa se cumpra plenamente na Igreja.

Portanto, Gênesis 6.6-8 não é pessimismo histórico; é agudo realismo teológico: Deus julga, corrige e preserva o plano. O mundo antigo cai, mas o novo mundo, iniciado em Noé, progride. Juízo e progresso coexistem, e a vitória histórica do Reino está garantida. Qualquer leitura que ignore isso está simplesmente vendendo derrota como escatologia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário