Por Yuri Schein
Deuteronômio 31:6-8 é um daqueles textos que deixam qualquer pessimismo escatológico completamente sem fôlego. Moisés, sabendo que a transição para Canaã exigiria coragem e fé, declara:
“Sede fortes e corajosos; não temais, nem vos atemorizeis diante deles, porque o Senhor, vosso Deus, é quem vai convosco; não vos deixará nem vos desamparará. Ele não vos deixará nem vos desamparará; não temais nem vos atemorizeis. O Senhor vai adiante de vós; Ele será contigo, não te deixará nem te desamparará; não temas, nem te desanimes.”
O contexto é claro: Israel está prestes a atravessar o Jordão e tomar posse de Canaã. A promessa é histórica e pessoal: Deus estará presente em cada passo, garantindo a posse da terra e o cumprimento de Suas promessas. A repetição enfática de “não te deixará nem te desamparará” reforça a certeza irrevogável do decreto divino. O verbo hebraico לֹא יַעֲזָבְךָ (lo ya’azvekha) não deixa espaço para ambiguidade, a presença e fidelidade de Deus são garantidas, independentemente da coragem ou fraqueza humana.
Para o pós-milenismo, este texto é central. Ele confirma que a marcha do Reino de Deus é histórica, progressiva e segura. Cada vitória do povo de Deus na história, cada avanço cultural ou espiritual, não depende da perfeição humana, mas da fidelidade absoluta de Deus. Assim como Israel recebeu a terra prometida, a Igreja verá a expansão do Reino de Cristo até que todas as nações estejam discipuladas. O mesmo princípio se aplica ao cumprimento das promessas messiânicas: o cetro que se levanta de Israel (Nm 24:17) avança inexoravelmente, e a história obedece à Palavra de Deus.
Deuteronômio 33:12 complementa essa visão:
“Benjamin será abençoado pelo Senhor, que habitará entre ele; e todos os dias confiará nele, e ele repousará entre seus ombros.”
Aqui vemos a certeza da proteção e da presença contínua de Deus, mesmo sobre uma das tribos menores. A linguagem enfatiza estabilidade, segurança e confiança perpetuamente sustentada pela fidelidade divina. Para o pós-milenismo, isso reforça que o Reino não é estático nem ilusório: mesmo os mais frágeis ou aparentemente irrelevantes são incluídos na expansão segura do plano de Deus.
A exegese hebraica mostra que יִשְׁכֹּן (yishkon), “habitará”, implica presença contínua e efetiva, enquanto יָשׁוּם (yashum), “repousará”, indica segurança e proteção sustentadas por decreto divino. A lógica é clara: a fidelidade de Deus garante que o avanço do Reino é inexorável, e nenhum obstáculo humano ou espiritual pode frustrá-lo.
Portanto, Deuteronômio 31:6-8 e 33:12 não são apenas encorajamento motivacional, mas princípios teológicos centrais: o avanço do Reino é histórico, progressivo e seguro. A presença de Deus garante vitória, expansão e ocupação plena da terra, literal e tipologicamente, confirmando a certeza da marcha do Reino de Cristo sobre a história.
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