Por Yuri Schein
Gênesis 49.10 declara:
"Não se arredará o cetro de Judá, nem o bastão de comando dentre seus pés, até que venha Siló; e a ele obedecerão os povos."
À primeira vista, para muitos leitores contemporâneos, isso parece apenas uma profecia messiânica distante, algo que só se realiza “quando Jesus voltar”. Mas uma leitura técnica e contextual revela que este versículo é, na verdade, um dos pilares mais fortes da teologia pós-milenista: ele anuncia vitória histórica progressiva, domínio global e obediência universal ao Messias.
O contexto é fundamental. Jacó, à beira da morte, pronuncia bênçãos e advertências sobre seus filhos, consolidando o destino das tribos. Judá, ao receber o cetro, é destacado como linha de liderança messiânica, não apenas etnicamente, mas geopolítica e espiritualmente. O cetro simboliza autoridade e governo, não um reinado simbólico ou espiritualizado, mas um governo real, com influência concreta sobre os povos.
O termo Siló é tradicionalmente interpretado como o Messias (cf. João 1.45; Mt 2.6), e o versículo afirma que “a ele obedecerão os povos”. Não estamos falando de algumas almas dispersas ou de um Reino restrito a Israel; estamos diante de uma profecia de expansão universal, na qual a autoridade de Cristo, descendente de Judá, será reconhecida historicamente por todas as nações. Esse é exatamente o núcleo do pós-milenismo: o Reino de Cristo não surge passivamente no futuro como uma surpresa escatológica, mas progride na história, conquistando a criação e subjugando resistências.
Além disso, a sequência literária em Gênesis 49 mostra a estrutura de governo e preservação da aliança. As tribos não são apenas genealogias, mas instrumentos históricos e culturais que Deus usará para implementar Sua vontade no mundo. Judá recebe o cetro, mas isso implica que os outros povos, gentios, inimigos e aliados, estarão sob sua influência, direta ou indiretamente, até a consumação em Siló.
Do ponto de vista pós-milenista, esse versículo conecta-se perfeitamente com a promessa abraâmica (Gn 12.3; 22.17-18) e com a missão universal de Cristo (Mt 28.18-20; Ap 11.15). Ele mostra que o governo messiânico é histórico, expansivo e culturalmente transformador. Não é esperança passiva nem fantasia utópica: é autoridade real exercida pelo Messias e seus representantes, progressivamente, ao longo da história.
Pré-milenistas e amilenistas, ao lerem Gênesis 49.10, muitas vezes enxergam apenas o “milênio futuro” ou reduzem a promessa a algo espiritualizado, ignorando a dimensão histórica e cultural. Mas a Escritura é clara: a obediência dos povos, o cetro de Judá e o bastão de comando indicam progressão e triunfo reais. Cristo reina, Judá é a linha messiânica, e a história se curva diante dessa autoridade até que todas as nações sejam disciplinadas e abençoadas.
Portanto, Gênesis 49.10 não é apenas uma profecia; é um plano estratégico divino. O cetro não se arredará porque o Reino de Deus, inaugurado em Cristo e continuado na igreja, progride historicamente. O pós-milenismo, longe de ser otimismo ingênuo, é simplesmente a leitura coerente da Escritura: a história da criação e da humanidade caminha inevitavelmente para o triunfo do Messias, da linha de Judá, e a subjugação de todos os inimigos sob seu cetro.
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