quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Pós-milenismo: “A Terra Cheia da Glória"



Por Yuri Schein 

Números 14.21 é uma daquelas passagens que deveria encerrar, de uma vez por todas, qualquer debate sobre a derrota do evangelho na história. O texto diz: “Porém, tão certo como eu vivo, e como a glória do Senhor encherá toda a terra…” — uma fórmula de juramento divino, que carrega peso absoluto, mais firme que o próprio cosmos. Aqui, Deus não está apenas lançando uma possibilidade, mas declarando um decreto irrevogável: a Terra inteira será cheia da sua glória.

O contexto é fascinante. Israel havia acabado de espiar a terra prometida e, dominado pela incredulidade, murmurou contra Deus, recusando-se a entrar. A resposta divina foi dura: aquela geração pereceria no deserto. Mas, no meio da disciplina, Deus ergue uma promessa que ultrapassa a própria história de Israel, ainda que eles falhem, a glória de Yahweh não será frustrada. Ou seja, o pecado humano não impede o triunfo do plano divino. O fracasso da geração incrédula não reescreve o fim da história: Deus mesmo garante que sua glória encherá tudo.

Esse texto desmonta o amilenismo e o pré-milenismo pessimista, que reduzem a vitória de Cristo a algo microscópico ou adiado para depois da catástrofe final. Se Deus jura que a terra inteira será cheia de sua glória, então não há espaço para um futuro onde o mal seja sempre predominante até o fim dos tempos. Números 14.21 exige uma leitura pós-milenista: a história, mesmo cheia de quedas e juízos temporais, caminha para a saturação universal da glória divina.

A promessa também se conecta com o Sermão do Monte, quando Cristo chama seus discípulos a serem sal e luz no mundo. A presença do povo de Deus não é uma faísca impotente em meio à escuridão eterna, mas o próprio meio pelo qual Deus cumpre sua promessa de encher a terra com sua glória. O mesmo se vê em Romanos 11, onde Paulo prevê a plenitude de Israel e a riqueza dos gentios convergindo em uma salvação global, não fragmentada, mas totalizante.

Portanto, quem insiste em enxergar o avanço do evangelho como uma mera minoria sobrevivente até a volta de Cristo precisa enfrentar o juramento de Deus em Números 14.21. Se o Senhor da aliança decretou que sua glória encherá a terra, não cabe ao teólogo moderno encolher a promessa em um rodapé escatológico. O pessimismo escatológico não é humildade: é incredulidade disfarçada.

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