Por Yuri Schein
Deuteronômio 11:24 é um daqueles versículos que ilustram de forma cristalina a visão pós-milenista: o Reino de Deus avança de maneira histórica, progressiva e inevitável, assegurado pela fidelidade divina. O texto afirma:
“Toda a terra que pisar a planta de vossos pés será vossa; desde o deserto até o Líbano, desde o rio Eufrates até o mar ocidental, será vosso território.”
O contexto é a instrução de Moisés ao povo de Israel, prestes a entrar em Canaã. Após recordar as bênçãos e maldições da obediência à aliança, ele enfatiza a posse histórica da terra prometida. O verbo hebraico יִרַשׁ (yarash), traduzido como “será vosso território” ou “herdareis”, carrega a ideia de posse definitiva e legal, não de mera expectativa. A frase “toda a terra que pisar a planta de vossos pés” reforça a ação humana subordinada ao decreto divino: Deus garante a vitória histórica, mas Israel deve avançar, conquistar e ocupar.
Para a perspectiva pós-milenista, este versículo é exemplar. Ele mostra que a bênção e a expansão do Reino não são instantâneas, mas acontecem gradualmente e de forma segura. Cada conquista, cada avanço territorial de Israel é uma pré-figura do avanço histórico do Reino de Cristo: à medida que o povo de Deus se move com fidelidade, a influência de seu Rei se estende progressivamente sobre o mundo. O princípio é o mesmo de Números 24:17: o cetro se levanta, a estrela brilha, e a marcha da história cumpre o decreto divino.
O texto ainda tem implicações tipológicas e escatológicas. “Desde o deserto até o Líbano, do Eufrates ao mar ocidental” não se limita a uma delimitação geográfica literal; representa a abrangência do Reino de Deus na história e a vitória do cetro de Cristo sobre toda oposição. A fidelidade de Deus garante que nenhuma força humana ou espiritual possa impedir o cumprimento do Seu plano, ecoando as promessas de Deuteronômio 7:13-14: proteção, prosperidade e expansão.
A exegese hebraica reforça a certeza dessa posse. ירש (yarash) implica herança segura, como em Gn 15:7 e Nm 33:53 o povo recebe por decreto divino. Essa posse não é condicional à perfeição do povo, mas à fidelidade de Deus, que não é homem para mentir (Nm 23:19). O avanço do Reino é, portanto, tanto histórico quanto inevitável.
Deuteronômio 11:24 confirma a lógica pós-milenista: o Reino de Cristo não será frustrado. O pessimismo histórico é apenas fruto da miopia humana; enquanto os críticos enxergam derrotas temporárias, a marcha do Reino segue, firme e progressiva. Cada geração testemunha uma expansão do cetro e da estrela, até que a glória de Deus encha a terra, cumprindo todas as promessas de Deus feitas a Israel e, tipologicamente, à Igreja.
Em síntese, este versículo não é apenas uma promessa para Israel antigo, mas um princípio teológico universal: o Reino de Deus avança, o cetro governa, e toda a terra, literal ou simbólica, será possuída pelo poder e pela fidelidade do Senhor.
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