Por Yuri Schein
Êxodo 23.25-27 apresenta promessas que vão muito além de meros incentivos espirituais para Israel:
"Servindo ao Senhor vos abençoarei em toda a obra das vossas mãos; e vos guardarei de toda enfermidade; e nenhuma delas vos imporá mal. Nenhum inimigo vos resistirá; lançarei fora os inimigos diante de vós; e o coração de vossos inimigos se derreterá; não suportarão enfrentar-vos."
À primeira leitura, pode parecer que Deus está oferecendo benefícios isolados ou circunstanciais. Mas uma análise técnica e histórica revela um padrão progressivo, contínuo e estratégico: Deus garante vitória real, proteção, prosperidade e avanço cultural do seu povo, princípios que sustentam plenamente o pós-milenismo. A Escritura deixa claro que a bênção não é apenas espiritual, mas tangível e histórica, e sua consumação se encontra na Igreja, como afirma 2 Coríntios 1.20: todas as promessas de Deus encontram seu “sim” em Cristo.
O contexto é significativo. Israel está a caminho de conquistar Canaã, enfrentando inimigos poderosos e desafios culturais, climáticos e sociais. Deus promete não apenas livramento, mas progresso contínuo em todas as esferas da vida: trabalho, saúde, segurança e vitória sobre os adversários. Cada aspecto da promessa aponta para o avanço histórico do Reino de Deus, não para uma espera passiva até o fim do mundo.
Elementos-chave para o pós-milenismo:
1. Bênção sobre o trabalho e a cultura: “Abençoarei em toda a obra das vossas mãos” indica que Deus deseja prosperidade prática e expansão cultural, mostrando que a ação do Reino na história é concreta e abrangente. O mandato cultural de Gênesis 1.28 encontra aqui reforço: a obediência à aliança resulta em progresso tangível no mundo.
2. Proteção contra inimigos e doenças: Deus não promete ausência de dificuldades, mas intervenção histórica. O juízo e a vitória sobre os inimigos são progressivos, mensuráveis e confiáveis. Cada geração que segue a aliança participa da expansão do Reino e da redução das forças opressoras.
3. Presença e poder divinos: O texto enfatiza que o progresso não é fruto de esforço humano isolado. A bênção histórica depende da ação direta de Deus, refletindo sua soberania e garantindo que o Reino avance mesmo diante de resistência.
4. Cumprimento tipológico na Igreja: Toda promessa feita a Israel encontra seu cumprimento pleno em Cristo e na Igreja, que continua a exercer influência histórica, espalhar o Reino e garantir vitória sobre o pecado, a cultura adversa e estruturas de opressão.
5. Harmonia com a promessa de Cristo: Este padrão histórico de vitória e avanço está em plena consonância com as palavras de Jesus: “as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja” (Mt 16.18). As promessas de Êxodo 23.25-27 antecipam, tipologicamente, o mesmo princípio: apesar de resistência, inimigos e dificuldades, o Reino de Deus progride, e a Igreja avançará na história, preservada, protegida e abençoada, até que todas as promessas se cumpram plenamente.
Para o pós-milenismo, Êxodo 23.25-27 não é apenas uma promessa antiga para Israel: é modelo paradigmático da ação histórica de Deus, onde bênção, proteção, vitória e expansão do Reino se manifestam progressivamente, cumprindo-se em Cristo e na Igreja. A história não é uma sucessão de derrotas inevitáveis; é o palco de intervenção contínua de Deus, onde o Reino avança, a Igreja se fortalece e a vitória final está assegurada.
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