Por Yuri Schein
Gênesis 3.15 é chamado de protoevangelho porque, em meio à sentença contra a serpente, Deus introduz a promessa da vitória messiânica: “E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a descendência dela; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.” Note: não é uma disputa equilibrada, é uma sentença divina. A serpente não recebe o mesmo espaço que a semente da mulher; ela morde o calcanhar, mas Cristo esmaga a cabeça. Não há empate eterno entre bem e mal.
O pós-milenismo se ancora aqui: o protoevangelho não fala apenas da redenção individual, mas da vitória histórica do Reino. Cristo já venceu na cruz, e a história se desenrola até que essa vitória se manifeste progressivamente em todas as nações. Paulo ecoa isso em Romanos 16.20: “O Deus da paz em breve esmagará Satanás debaixo dos vossos pés.” Ou seja, a promessa não é meramente celestial, mas também terrena, histórica e eclesiástica.
Aqueles que abraçam um pré-milenismo catastrofista ou um amilenismo derrotista leem o protoevangelho como se a serpente tivesse ganhado terreno após a cruz, quando, na verdade, o texto mostra o contrário: Cristo reina agora (Salmo 110.1; Mateus 28.18). O “reino crescendo como fermento” (Mateus 13.33) é a aplicação histórica de Gênesis 3.15.
Portanto, a teologia bíblica não admite um futuro onde Satanás triunfa culturalmente e a igreja termina como nota de rodapé em meio às trevas. O protoevangelho é o anúncio de que a cabeça do inimigo foi esmagada e que esse efeito se expandirá até que “a terra se encha do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar” (Habacuque 2.14).
O pós-milenismo não é otimismo ingênuo, é pura exegese: a vitória prometida em Gênesis 3.15 já começou na cruz e se estenderá até a consumação. O resto é só pessimismo gospel travestido de escatologia.
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