Por Yuri Schein
Números 24:17 é, para qualquer leitura pós-milenista atenta, uma espécie de farol escatológico que corta o nevoeiro do pessimismo histórico. O versículo diz:
“Eu o vejo, mas não agora; eu o contemplo, mas não de perto; uma estrela sairá de Jacó, e um cetro se levantará de Israel, que ferirá as extremidades de Moabe e destruirá todos os filhos de Sete.”
O contexto é a última profecia de Balaão, aquele mercenário do Oriente que, por ordem de Balac, deveria amaldiçoar Israel, mas acaba proclamando o que Deus determinou: bênção irrevogável sobre o Seu povo. Após a série de maldições frustradas (Nm 23) e a declaração da fidelidade divina (Nm 23:19-21), Balaão chega ao clímax: a promessa de um Rei que surgirá, uma estrela que desponta e não pode ser apagada.
Para o pós-milenismo, esse texto é ouro puro. A “estrela” é tipológica de Cristo; o “cetro” representa Sua autoridade sobre as nações. A linguagem simbólica não está ali para meramente encantar o leitor antigo; é uma antecipação histórica do avanço progressivo do Reino de Deus. A vitória não será um evento abrupto e catastrófico no futuro distante, mas uma marcha inevitável, gradual, sustentada pela fidelidade de Deus, em que a influência de Cristo se expandirá até todas as extremidades da terra.
A exegese hebraica reforça esse argumento. O termo כּוֹכָב (kokhav), “estrela”, muitas vezes indica rei ou descendente com autoridade celestial (cf. Juízes 5:20, Salmos 148:3). O verbo יָקוּם (yakum), “se levantará”, é perfeito em sentido profético, implicando cumprimento certo, não hipótese. “Ferirá as extremidades de Moabe” mostra que o alcance do Reino de Deus é expansivo: nenhuma barreira humana, política ou cultural impedirá o avanço do cetro divino.
Integrando isso ao pós-milenismo histórico, vemos um padrão: desde Abraão até Israel no deserto, desde Davi até o Novo Testamento, a promessa avança inexoravelmente. Cada conquista territorial, cada expansão da fé, cada vitória moral ou espiritual é uma manifestação dessa estrela que não cai. O Sermão do Monte já havia profetizado que os mansos herdarão a terra (Mt 5:5), e Romanos 11 reitera que a eleição de Deus é irrevogável. Números 24:17 mostra que essa herança não é apenas individual ou espiritual, mas coletiva e histórica: o Reino se espalha enquanto a fidelidade divina se mantém intacta.
O texto nos lembra ainda que o pessimismo escatológico é a arma dos Balaques modernos: aqueles que insistem que a história está fadada à derrota. Mas a promessa de Deus, declarada por um profeta mercenário que não queria dizer a verdade, é clara: a estrela brilha, o cetro governa, e nenhuma geração de inimigos pode frustrar o plano divino.
Portanto, Números 24:17 não é poesia mística nem esperança ingênua. É uma garantia de que o Reino de Cristo avançará, progressivamente, até que “todos os filhos de Sete”: toda oposição organizada, sejam confrontados e vencidos, não por humanos desesperados, mas pela palavra imutável do Deus que não é homem para mentir (Nm 23:19).
A estrela que surge de Jacó já brilhou e continuará a brilhar, confirmando que a história caminha para o triunfo inevitável da aliança de Deus. O pós-milenismo não é otimismo fraco; é a lógica do Deus que sempre cumpre Suas promessas, mesmo quando os pessimistas de plantão preferem ver escuridão.
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